Jô Soares
José Eugênio Soares (Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1938 – São Paulo, 5 de agosto de 2022), mais conhecido como Jô Soares, foi um apresentador de televisão, escritor, dramaturgo, diretor teatral, ator, humorista, músico e artista plástico brasileiro.
Jô Soares | |
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Jô Soares em 2009 | |
Nome completo | José Eugênio Soares |
Nascimento | 16 de janeiro de 1938 Rio de Janeiro, DF |
Morte | 5 de agosto de 2022 (84 anos) São Paulo, SP |
Causa da morte | insuficiência cardíaca e renal, fibrilação atrial, estenose aórtica |
Nacionalidade | brasileiro |
Cônjuge |
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Ocupação | |
Período de atividade | 1954–2018 |
Carreira musical | |
Período musical | 1972–2000 |
Religião | catolicismo |
Jô Soares surgiu como um dos grandes nomes da televisão após criar o humorístico Família Trapo, na RecordTV, onde também atuou como o personagem Gordon. Continuando na seara do humor, foi o responsável por sucessos como Satiricom, Planeta dos Homens e Viva o Gordo na Globo.
Ao se transferir para o SBT, obtém notoriedade no comando do talk-show Jô Soares Onze e Meia entre os anos de 1988 e 1999, solidificando-se como entrevistador e precursor do formato no Brasil. Volta para a Globo, comandando o Programa do Jô entre 2000 e 2016, ano em que se aposenta da televisão.[1] Falecido em 5 de agosto de 2022, sua morte repercutiu tanto na sociedade brasileira[2][3][4] quanto na imprensa internacional.[5]
Primeiros anos
Nascido na cidade do Rio de Janeiro, José Eugênio Soares foi o único filho do empresário paraibano Orlando Heitor Soares e da dona de casa Mercedes Pereira Leal. Pelo lado materno, era bisneto do conselheiro Filipe José Pereira Leal, diplomata e político que, no Brasil Imperial, foi presidente da província do Espírito Santo. Por parte de seu pai, era sobrinho-bisneto de Francisco Camilo de Holanda, presidente da província da Paraíba,[6] e do jornalista e escritor Órris Soares.[7][8][9]
Jô queria ser diplomata quando criança.[10] Estudou no Colégio de São Bento do Rio de Janeiro, no Colégio São José de Petrópolis, e em Lausana, na Suíça, no Lycée Jaccard, com este objetivo.[11] Durante a estadia na Suíça ganhou o apelido de "Joe", redutivo da versão inglesa de seu nome, Joseph, bem como referência à popular canção "Hey Joe!", de Frankie Laine. Mais tarde se reduziria a Jô.[12] Porém, percebeu que o seu senso de humor apurado e a criatividade inata apontava a outra direção.[11]
Carreira
Detentor de um talento versátil, além de atuar, dirigir, escrever roteiros, livros e peças de teatro, Jô Soares também foi um apreciador de jazz e chegou a apresentar um programa de rádio na extinta Jornal do Brasil AM, no Rio de Janeiro, além de uma experiência na também extinta Antena 1 Rio de Janeiro.
- 1956 — Estreia na televisão no elenco da Praça da Alegria, na época na RecordTV, onde ficou por 10 anos.
- 1965 — Protagoniza as duas únicas novelas de sua carreira: as comédias pastelão Ceará contra 007 e Mãos ao Ar, na Record. Ceará contra 007 foi uma das maiores audiências naquele ano no Brasil.
- 1967 — Em "Família Trapo", roteirizava ao lado de Carlos Alberto de Nóbrega e atuava como Gordon, o mordomo atrapalhado e descompensado. Último trabalho na Record.
- 1971 — "Faça Humor, Não Faça Guerra" foi primeiro humorístico da TV Globo a contar a com a participação do comediante. O programa em meio à Guerra Fria e ao conflito do Vietnã brincava com o slogan pacifista hippie "Make love, don't make war" (Faça amor, não faça a guerra).
- 1973 — "Satiricom", novo humorístico da TV Globo, com direção de Augusto César Vanucci, realizava roteiros com Max Nunes e Haroldo Barbosa. A atração satirizava o título do filme homônimo de Federico Fellini - "Satyricon". Na promoção do programa, todavia, diziam que era a "sátira da comunicação" num mundo que se tinha tornado uma "Aldeia Global", expressão que esteve na moda depois dos primeiros anos da TV via satélite.
- 1976 — "Planeta dos Homens", nova sátira com o cinema - desta vez, a série cinematográfica "O Planeta dos Macacos", atuava com roteiros de Haroldo Barbosa.
- 1981 — "Viva o Gordo", com direção de Walter Lacet e Francisco Milani, foi o seu primeiro programa solo. Havia roteiros de Armando Costa. Deu origem ao espetáculo do gênero One Man Show de Jô chamado "Viva o Gordo, Abaixo o Regime" (sátira explícita ao Golpe Militar de 1964 ainda vigente àquela época). As aberturas do programa brincavam com efeitos especiais, usando-se técnica de inserção de imagens de Jô entre cenas famosas do cinema (como em "Cliente Morto Não Paga" e "Zelig") ou "contracenando" com políticos nacionais e internacionais, como Orestes Quercia, Jânio Quadros, Ronald Reagan etc.
- 1982 — Participação no "Chico Anysio Show".
- 1983
- Participação no musical infantil "Plunct, Plact, Zuuum".
- Comentários no Jornal da Globo até 1987.
- 1988 — "Veja o Gordo" estreou no SBT com o mesmo estilo do "Viva o Gordo" da Rede Globo. Estreou também nesse ano, ainda no SBT, o talk show "Jô Soares Onze e Meia" (1988–1999).
- 2000 — Trazido de volta à Rede Globo, onde apresentou o Programa do Jô até 2016, e fez participação no especial de Natal do programa Sai de Baixo — episódio "No Natal a Gente Vem Te Mudar" (sátira ao título da peça de Naum Alves de Souza, "No Natal a Gente Vem Te Buscar") como Papai Noel.
- 2018 — Participou como comentarista do programa Debate Final, no Fox Sports, debatendo sobre a Copa do Mundo FIFA de 2018.[13]
Vida pessoal
Entre 1959 e 1979, foi casado com a atriz Therezinha Millet Austregésilo, com quem teve um filho, Rafael Soares (1964–2014), que tinha transtornos do espectro autista (TEA).[14] Entre 1980 a 1983, foi casado com atriz Sílvia Bandeira, doze anos mais nova. Em 1984, começou a namorar a atriz Cláudia Raia, num romance que durou dois anos.[15] Namorou a atriz Mika Lins e, em 1987, casou-se com a designer gráfica Flávia Junqueira Pedras, de quem se separou em 1998. Era sobrinho de Togo Renan Soares, conhecido como "Kanela", ex-treinador da Seleção Brasileira de Basquetebol. Em outubro de 2007, durante uma entrevista com Maria Rita, o apresentador admitiu sofrer de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC); em sua casa, os quadros precisam estar tombados levemente para a direita.[16] No dia 1 de outubro de 2012, levou ao ar um programa especial que reprisou uma entrevista com Lolita Rodrigues e Nair Bello em homenagem à apresentadora Hebe Camargo, com quem declarou ter vivido intensas alegrias.[17]
O apresentador falava, com diferentes níveis de fluência, cinco idiomas: português, inglês, francês, italiano e espanhol, além de ter bons conhecimentos de alemão. Traduziu um álbum de histórias em quadrinhos de Barbarella, criação do francês Jean-Claude Forest.[18] Era católico, devoto de Santa Rita de Cássia.[19] Em 25 de julho de 2014, foi internado no Hospital Sírio-Libanês para tratar de uma pneumonia, permanecendo no hospital por 22 dias.[20][21]
Em 31 de outubro de 2014, morreu seu único filho, Rafael Soares, no Hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio de Janeiro.[22] No dia 3 de novembro, Jô dedicou-lhe o programa, em que fez um discurso contando um pouco da história dele.[23] Em 4 de agosto de 2016, foi eleito para a Academia Paulista de Letras, assumindo a cadeira 33, que pertenceu ao escritor Francisco Marins.[24]
Jô Soares era torcedor do Fluminense e foi homenageado pelo clube quando veio a falecer.[25]
Morte
Jô Soares morreu no dia 5 de agosto de 2022, aos 84 anos, no Hospital Sírio-Libanês, na cidade de São Paulo, onde estava internado desde o dia 28 de julho para tratar uma pneumonia. A notícia de sua morte foi divulgada pela ex-esposa, Flavia Pedras, em uma publicação em sua página pessoal no Instagram, também confirmada pela assessoria de imprensa do apresentador.[26][27][28] O hospital não informou qual foi a causa da morte, atendendo a um pedido do próprio ator à família.[29] Anne Porlan, amiga pessoal de Jô, afirmou que o mesmo faleceu de causas naturais.[30] Em 22 de dezembro de 2022, foi divulgado que o apresentador falecera de insuficiência renal e cardíaca, estenose aórtica, e fibrilação arterial.[31][32]
Sua morte teve grande comoção e repercussão no Brasil e no mundo. Várias pessoas famosas e autoridades prestaram-lhe homenagens.[33] As emissoras de televisão como a TV Globo, SBT, TV Cultura, Rede Bandeirantes e Viva alteraram suas respectivas grades de programação previstas para os dias 5 e 6 de agosto, reexibindo alguns dos trabalhos e entrevistas onde o humorista participou.[34][35]
A herança de Jô Soares foi dividida entre seis pessoas: sua ex-mulher, uma amiga e quatro funcionários. Flávia Maria Pedras Soares, que foi sua mulher entre 1987 e 1998, ficou com 80% da fortuna. A amiga de Jô Soares, Claudia Colossi, herdou 10% dos bens. Quatro funcionários que trabalhavam na residência do apresentador dividiram os 10% restantes. O patrimônio do apresentador foi estimado em aproximadamente R$ 50 milhões.[36] [37]
Discografia
Ano | Álbum | Info | Selo | Ref. |
---|---|---|---|---|
1963 | O Volks do Ronaldo | Farroupilha | [38] | |
1972 | Norminha | Som Livre | [39] | |
1980 | a B... e Outras Estórias | Álbum de Piadas | K-Tel | [40] |
1992 | Quinteto Onze e Meia - O Álbum | Álbum apenas do Quinteto Onze e Meia | CID Entertainment | [41] |
2000 | Jô Soares e O Sexteto - Ao Vivo no Tom Brasil | Globo Columbia | [42] |
Filmografia
Televisão
Ano | Título | Cargo / Personagem | Notas |
---|---|---|---|
1956–67 | Praça da Alegria | Alemão | |
1965 | Ceará contra 007 | Jaime Blonde | |
Mãos ao Ar | Dom Pedrito | ||
1967–71 | Família Trapo | Gordon | |
1971–73 | Faça Humor, Não Faça Guerra | Vários personagens | |
1973 | Globo Gente | Apresentador | |
1973–75 | Satiricom | Vários personagens | |
1976–82 | Planeta dos Homens | Vários Personagens | |
1977–78 | Praça da Alegria | Alemão | |
1981–87 | Viva o Gordo | Vários personagens | |
1982 | Chico Anysio Show | Coronel Pantoja | Episódio: "12 de outubro" |
1983 | Plunct, Plact, Zuuum | Mestre Cuca / Rei | Especial de fim de ano |
1983–87 | Jornal da Globo | Comentarista de cultura | |
1988–90 | Veja o Gordo | Vários personagens | |
1988–99 | Jô Soares Onze e Meia | Apresentador | |
2000–16 | Programa do Jô | Apresentador | |
2000 | Sai de Baixo | Papai Noel | Episódio: "No Natal a Gente Vem Te Mudar" |
2002 | A Grande Família | Ele mesmo | Episódio: "Grandes Famílias, Pequenos Negócios" |
2018 | Debate Final | Comentarista |
Cinema
Ano | Título | Personagem | Notas |
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1954 | O Rei do Movimento | Jornaleiro | |
1958 | De Pernas pro Ar | Jorginho | |
Pé na Tábua | Felício | ||
1959 | Aí Vêm os Cadetes | Nelson | |
1959 | O Homem do Sputnik | Espião Americano | |
1960 | Vai que É Mole | Bolinha | |
Tudo Legal | Euclides | ||
1965 | Pluft, o Fantasminha | Tio Gerúndio | |
1968 | Hitler III Mundo | Alex | |
1968 | Papai Trapalhão | Tio Abelardo[43] | |
1969 | Agnaldo, Perigo à Vista | Abelardo | |
1969 | A Mulher de Todos | Dr. Plirtz | |
1971 | Nenê Bandalho | Narrador | |
1973 | Amante muito Louca | Diretor | |
1976 | O Pai do Povo | El Magnífico Contreras / Cardinal / Silvestrina | |
1979 | Tangarela, a Tanga de Cristal | Erasmo | |
1986 | Cidade Oculta | Riperti | |
1995 | Sábado | Homem na casa das máquinas | |
2001 | O Xangô de Baker Street | Desembargador Coelho Bastos | |
2002 | Joana e Marcelo, Amor (Quase) Perfeito | Ele mesmo | |
2003 | Person | Ele mesmo | Documentário |
2004 | A Dona da História | Ele mesmo | |
2010 | VIPs: Histórias Reais de um Mentiroso | Ele mesmo | Documentário |
2012 | As Aventuras de Agamenon, o Repórter | Ele mesmo | |
2013 | Giovanni Improtta | Presidente do Clube |
Como autor/diretor
Televisão
Ano | Trabalho | Emissora | Escalação |
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1965 | Ceará contra 007 | RecordTV | Colaborador |
1967–71 | Família Trapo | Autor principal | |
1971–73 | Faça Humor, Não Faça Guerra | Rede Globo | |
1976–82 | Planeta dos Homens | ||
1981–87 | Viva o Gordo | ||
1988–90 | Veja o Gordo | SBT | |
1988–99 | Jô Soares Onze e Meia | Criador do projeto original | |
2000–16 | Programa do Jô | Rede Globo |
Cinema
Ano | Trabalho | Escalação |
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1976 | O Pai do Povo | Autor; Diretor; Produtor |
2001 | O Xangô de Baker Street | Autor |
Obras
- Os dilemas do Fantasma e do Capitão América (1972) — capítulo no livro Shazam!, de Álvaro de Moya[44]
- O Astronauta Sem Regime (1983)[45]
- Humor Nos Tempos do Collor (1992)[nota 1]
- A Copa Que Ninguém Viu e a Que Não Queremos Lembrar (1994)[nota 2]
- O Xangô de Baker Street (1995)
- O Homem que Matou Getúlio Vargas (1998)
- Assassinatos na Academia Brasileira de Letras (2005)
- As Esganadas (2011)
- O Livro De Jô - Uma Autobiografia Desautorizada - Vol. 1 (2017)
- O Livro De Jô - Uma Autobiografia Desautorizada - Vol. 2 (2018)