Um relato da reconstrução das muralhas de Jerusalém, e o registro do que Neemias encontrou ao retornar da Babilônia. Entre os detalhes estão a descrição de como Neemias se tornou governador de Judá (Ne, 1:1-2:20, 9), as diversas formas de oposição que sofreu, de Sambalá e outros, e descreve seu retorno anterior, sob Zerubabel (Ne, 7:6-73, 9; ver também (Es, 2:1-70 para um relato semelhante) - capítulos 1 a 7.
Um relato da situação da religião entre os judeus do período - capítulos 8 a 10.
Aumento da população de Jerusalém; o censo da população masculina adulta, os nomes de seus chefes, juntamente com listas de sacerdotes e levitas - capítulos 11 e 12:1-26.
Dedicatória do muro de Jerusalém, disposição das autoridades do Templo, e reformas executadas por Neemias - capítulos 12:27 e 13.
Tradicionalmente acredita-se que o autor deste livro tenha sido o próprio Neemias,[4] embora isto seja controverso.[5] Existem partes do livro escritas em primeira pessoa (1-7; 12:27-47 e 13), porém outras onde Neemias é referido pela terceira pessoa (8; 9; 10).
Alguns estudiosos acreditam que estas partes teriam sido escritas por Esdras - embora não exista qualquer evidência distinta disso - enquanto outros acreditam que o arranjo e revisão final do texto teriam ocorrido num período bem posterior.
Se Neemias de fato foi o autor, a data em que o livro foi escrito teria sido por volta de 431 - 430 a.C., quando ele retornou pela segunda vez a Jerusalém, depois de sua visita à Pérsia.
A Tradução Ecumênica da Bíblia sustenta que haveria um único autor para I Crônicas, II Crônicas, Esdras e Neemias,[6] que seria provavelmente um levita,[7] e que sua redação não teria ocorrido antes de 350 a.C. nem depois de 250 a.C., mas haveria adições posteriores a 200 a.C.[8] Esta edição também sustenta que os livros de Esdras e de Neemias formavam apenas um único "Livro de Esdras" (veja Esdras-Neemias),[9] composto antes dos Livros de Crônicas,[10] como se verifica na Bíblia hebraica e na Septuaginta.
A obra procura mostrar a reconstrução da comunidade judaica, reunida em Jerusalém e centrada no culto e na lei. Sob o domínio persa, foi concedida aos judeus uma oportunidade para recuperar e preservar a sua identidade como povo: a tradição religiosa dos antepassados, que agora se transforma em lei. No contexto pós-exílico, o Templo passa a ser o centro da vida da comunidade, como lugar de culto e da transmissão da lei, que fornecem a estrutura social da comunidade.[12]
A obra não se resume a uma narrativa, pois pretende discutir e abrir perspectivas sobre a estrutura da própria comunidade judaica, sendo que a questão central é determinar qual a liderança que vai governar, nesse contexto, quando se propõe reestruturar a sociedade a partir da religião, a primeira conclusão é que os sacerdotes devem liderar o povo, no entanto, resta determinar o sacerdócio legítimo.[12]
No exílio, os sacerdotes tinham elaborado complicadas genealogias para ligar Sadoc a Aarão, o que indicava a legitimidade dos descendentes de Sadoc, no entanto, restava resolver a questão da legitimidade dos levitas, que também seriam descendentes diretos de Aarão.[12]
Desde o tempo de Salomão, os levitas tinham sido expulsos do Reino de Judá1Rs 2,26-27 e passaram a exercer suas atividades entre as tribos do Norte, que formaram o Reino de Israel Setentrional. Ligados aos profetas, eles preservaram e produziram tradições que formaram o Livro do Deuteronômio, o qual influenciou grandes reformas no Reino de Judá, entretanto, depois do exílio, esses levitas se viram reduzidos a meros empregados dos sacerdotes.[12]
O autor dessa obra, que provavelmente era um levita, busca reabilitar historicamente a figura do levita e, assim, reivindicar sua importância ao lado do sacerdócio para o governo da comunidade, mas seu objetivo não se resume a defender o interesse dos levitas, o que se pretende é resgatar a tradição profética, conservada pelos levitas, a fim de que a comunidade judaica não fique reduzida ao culto formal, mas seja capaz de se organizar socialmente, segundo o projeto de Javé, dentro da legítima tradição do Livro do Êxodo.[12]
Essa tradição fora transmitida pelos levitas, que procuravam atualizá-la e aplicá-la às situações concretas, visando sempre em primeiro lugar à causa do povo e à defesa de uma sociedade justa e igualitária, pode-se, portanto, dizer que essa obra histórica é uma grande reivindicação para a reabilitação daqueles que se colocam como defensores dos interesses do povo, protegendo-o de possíveis arbitrariedades, tanto internas como externas.[12]