CESAMA

A Companhia de Saneamento Municipal - Cesama é a empresa estatal de saneamento da cidade de Juiz de Fora,[1] em Minas Gerais, Brasil. Alega fornecer água para 99% da população, e coletar esgoto de 98% da população[2], muito embora só trate 10% deste.[3]

História

Em 1887, a água de Juiz de Fora advinha de 3 mananciais da "corrente de São Mateus", que foi captada e canalizada até 2 reservatórios construídos no Alto dos Passos.[2] Nas casas das ruas existentes à época, foram colocadas penas d'água, e assim iniciou-se o fornecimento de água encanada na cidade.[2] Com a ampliação da cidade, deu-se a ampliação do serviço, executado pelo Serviço de Água e Esgoto, mantido pela Prefeitura durante muitos anos, até a criação do Departamento de Água e Esgoto (DAE) em 1963.[2]

  • 1963: criado o Departamento Municipal de Água e Esgoto (DAE), idealizado e dirigido inicialmente por Itamar Franco, devido à ausência de novos investimentos no setor desde as obras da década de 1930;[4]
  • 1969: inaugurada a segunda adutora, Menelick de Carvalho;[4]
  • 1980: lançados os Planos Diretores de Abastecimento de Água e de Esgotos Sanitários;[4]
  • 1990: o DAE dá lugar à CESAMA (então chamada Companhia de Saneamento e Pesquisa do Meio Ambiente).[4]

Infraestrutura

Parte da infraestrutura sob gerenciamento da companhia é detalhada abaixo.

Um dos reservatórios é o Henrique de Novaes, que fornece água para os seguintes 11 bairros: Centenário, Bairu, Progresso, Santa Paula, Marumbi, Eldorado, Nossa Senhora das Graças, Quintas da Avenida, Bom Clima, Bandeirantes e Parque Guarani.[5]

Água

A água fornecida à cidade é fluoretada, fornecida dentro de um valor adequado em média, e melhorou entre 1999 e 2002; porém com variação significativa das concentrações de fluoreto em análises sucessivas ao longo do tempo.[6]

As ETAs (Etações de Tratamento de Água) são geralmente isolados dos grandes centros urbanos, próximos à zona rural, junto às represas; mas nos distritos que circundam a cidade, a água é captada de poços artesianos e ribeirões, com as ETAs junto às residências.[2]

Represa de João Penido

Construída em 1934 na sub-bacia de João Penido, Zona Norte da Cidade, com a finalidade de ser usada para abastecimento da cidade de Juiz de Fora.[7] A construção deu-se com o barramento do Ribeirão dos Burros (o principal), e incluindo também o Córrego Grama e do Córrego Vista Alegre, e outros menores, todos afluentes do Rio Paraibuna.[8][7]

Pertence à CESAMA, e é responsável por 50% do abastecimento da população,[7] podendo chegar a 65%.[9] É o principal manancial de abastecimento da cidade, com vazão regularizada de 750 l/s e capacidade de 16 bilhões de litros de água.[8][7] A área da bacia de contribuição é de 68 km².[7]

A represa abastece 2 Estações de Tratamento de Água: ETA João Penido (mais antiga), e ETA Marechal Castelo Branco[10] (mais nova).[7]

Represa de São Pedro

Também conhecida como Represa dos Ingleses, e Cruzeiro de Santo Antônio, possui 0,04km² de espalho d'água[11] Foi criada em 1963 e entrou em operação em 1967, com a finalidade de abastecer parte da demanda da cidade.[11] O reservatório, operado e mantido pela CESAMA, corresponde a 8% do abastecimento da cidade.[12][13][11] Sua bacia hidrográfica ocupa 13,04 km², tendo como principais afluentes o Córrego São Pedro (margem esquerda) e o Córrego Grota do Pinto (margem direita), e desaguando na margem direita do Rio Paraíba do Sul, no município de Três Rios.[11][12]

A bacia hidrográfico de São Pedro, que abrange vários bairros,[13] sofre com forte pressão imobiliária (por exemplo, construção de grandes condomínios fechados)[13], que, juntamente com a falta de políticas públicas, gera alterações qualitativas e quantitativas nas suas águas.[12] Em 2016, isso gerava busca de fontes de água fora dos limites do município, comprometendo a autonomia municipal quanto a recursos hídricos.[12]

A Estação de Tratamento de Água correspondente, ETA São Pedro, localizada no bairro homônimo, processa em média 120l/s.[11]

Represa de Chapéu D'Uvas

A captação de água desta represa dá-se na taxa máxima de 780 l/s.[10] Esta represa possui duas vantagens sobre a de João Penido: o volume de água é mais estável e a água, menos turva, portanto permitindo tratamento mais rápido.[14]

Ribeirão Espírito Santo

É captada água no Ribeirão Espírito Santo,[10] e tratada na ETA-CDI, a Estação de Tratamento de Água do Distrito Industrial,[15] cujo nome é Walfrido Machado Mendonça.[16] Esta estação foi ampliada desde 2009 para receber água advindo da Represa de Chapéu D'Uvas, porém, em 2015, houve movimentação do solo e assim formaram-se rachaduras que impediam o uso da nova fonte de água, consequentemente levando a carga maior sobre as outras represas, ao invés da distribuição da demanda entre as fontes.[15] Isto foi denunciado pelo SinÁgua, o sindicato dos trabalhadores da empresa, e a CESAMA entrou com ação judicial contra e empresa de engenharia responsável pela obra.[15] Desde 2012 notava-se pequeno deslocamento entre a parte nova e a antiga, porém com os testes operacionais de carga em 2014, as rachaduras se tornaram muito maiores.[15] Foram executados projetos de estabilização do solo, mas que não surtiram efeito no grau desejado. Com a ampliação, a capacidade de tratamento de água aumentaria de 600 l/s para 1200 l/s.[15]

Esgoto

  • Rio Paraibuna: em 2000, este que é o principal afluente do Rio Paraíba do Sul, 1.128 l/s de esgoto não-tratado.[17] Durante o processo de expansão urbana, não foi tomado cuidado com o rio, seja por ausência de tecnologia à época ou mesmo por desconsideração com a importância dele, e este foi então o primeiro a morrer devido ao excesso de esgoto (doméstico e industrial) lançado nele, sem condições para abrigo de vida aquática, sendo somente um corpo d'água alvo final de todos os detritos produzidos pela cidade.[17] Devido ao crescimento da cidade ter guiado pelo vetor Paraibuna, ele pode também ser um vetor de transmissão de doenças, já que corta a Zona Norte (onde está o Distrito Industrial), e depois Centro e Zona Sul, onde há a maior concentração populacional.[17] Ao longo do percurso do rio, no ponto do bairro Vila Ideal, 87,4% do esgoto doméstico já foi lançado ao rio.[17] No trecho urbano, em 2003, os seguintes parâmetros todos estavam com qualidade inferior que o estabelecido em normas estaduais e federais: Coliformes Totais e Coliformes Fecais, Oxigênio Dissolvido (OD), Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), pH, Sólidos Totais Dissolvidos (STD), Turbidez, Cor, Condutividade, Temperatura da água, Odor e Aspecto.[17]
  • Córrego São Pedro: em 2008, a qualidade das águas deste córrego, após a represa (de São Pedro), era muito influenciada negativamente pelo despejo de esgoto não-tratado.[13] À altura da Cachoeira do Vale do Ipê (que oxigena a água e assim ajuda na decomposição aeróbica), o córrego já recebia 72,74% do esgoto doméstico da bacia; à altura do bairro Mariano Procópio, 100% do esgoto da bacia já havia alcançado o córrego, e a partir dali ele seguia canalizado até sua foz no Rio Paraibuna.[13] Um estudo da época (2008) confirmou que a quantidade de esgoto lançada no córrego excedia a capacidade de assimilação do mesmo.[13]

Tratamento

  • ETE Barreira do Triunfo: primeira estação de tratamento de esgoto (ETE) da CESAMA, implantada na década de 1990 para atender às exigências da Mercedes-Benz Juiz de Fora.[18]
  • ETE Barbosa Lage: estação de tratamento de esgoto (ETE).[13][17]
  • ETE União-Indústria: inaugurada em 22 de março de 2018 (Dia Mundial da Água).[3] Localiza-se no bairro Granjas Bethel (zona sudeste), cm capacidade de tratamento de 850l/s de esgoto, o que representa 70% da demanda.[3] Pretende-se que o volume processado pela ETE aumente progressivamente ao longo do ano: 20% em abril, e 50% no fim do ano.[3]

Rodízios de abastecimento

Rodízios de abastecimento consistem de não fornecer água para todos os bairros, todo o tempo, todos os dias. Os bairros são divididos em grupos e recebem fornecimento de água alternadamente.

  • 2016: em janeiro, o rodízio suspenso para Natal e Ano-Novo no fim de 2015 voltou.[19] Os níveis eram: João Penido 49,4%, São Pedro 86,6%, e Chapéu D'Uvas 61,1%.[19] Em dezembro o rodízio foi suspenso temporariamente para Natal e Ano-Novo.[20] Os níveis eram: João Penido 47,9%, São Pedro 91,7%, e Chapéu D'Uvas 60,4%.[20]
  • 2015: em janeiro, o rodízio suspenso para Natal e Ano-Novo no fim de 2014 voltou.[21] Os níveis eram: João Penido 34%, São Pedro 41%, e Chapéu D'Uvas 81%.[21] Em julho, o rodízio intensificou-se, com a finalidade de poupar as represas João Penido (31,5%) e São Pedro (38,2%) durante a estiagem (que vai até setembro, normalmente).[22][23] Chapéu D'Uvas, devido a seu tamanho, não estava em risco (55,6%).[22][23]
  • 2014: Em fevereiro, foi suspenso o rodízio de abastecimento, vigente por duas semanas; as chuvas e queda de temperatura tornaram-no desnecessário.[24] Em outubro foi iniciado novo rodízio, devido à Represa de São Pedro estar totalmente seca, e à de João Penido ter chegado a 22%.[22] A Represa de Chapéu D’Uvas ainda não era usada para abastecimento, mas estava com 38% do nível.[22] Para Natal e Ano-Novo, o rodízio foi suspenso temporariamente.[25] Dezembro foi o mês mais seco dos últimos 20 anos em Juiz de Fora (volume de precipitações correspondendo a 47,4% do esperado).[21]

Funcionários

Possuía 650[26]~660[1] funcionários em 2016, e 700 funcionários em 2015,[27] tendo sido em 2007 o último concurso público da companhia.[28]

Seus funcionários são selecionados em concurso público, tendo vínculo de trabalho regido pela CLT, e busca-se manutenção dos quadros, evitando-se rotatividade de recursos humanos.[1] Isto gera nos funcionários forte vínculo com o trabalho, seja pelo tempo de empresa, quanto pela situação de emprego garantido mesmo em cenários gerais de desemprego e trabalhos informais.[1] A maioria dos funcionários é de sexo masculino, devido ao trabalho operacional ser mais expressivo, e haver historicamente uma correlação entre sexo masculino e trabalhos com exigência física.[1] Os funcionários possuem jornadas de 40 ou 44 horas semanais, além da possibilidade de plantões e horas-extra.[1]

Nas ETAS (Estações de Tratamento de Água), os trabalhos são desenvolvidos em jornada 12/36 (12 horas de trabalho, e 36 de descanso), e devido à repetitividade dos movimentos necessários à função, e posturas inadequadas, traz o risco de desenvolvimento de distúrbios músculo-esqueléticos.[2] Estes são então os funcionários que precisam de maior adequação ergonômica em toda a empresa.[2] Recebem abono salarial devido ao ambiente insalubre.[2] Em uma pesquisa de 2007, mostravam-se conscientes a respeito de riscos trazidos pelos compostos químicos usados no tratamento da água, mas mesmo 90% apresentando dores musculares (50% na região lombar e juntas das pernas), não sabiam informar qual postura ou atividade causava isto.[2] O estudo indicou quais atividades estavam sendo realizadas em precauções e/ou ferramentas adequadas, sugerindo instalação de roldanas nos poços de aferição de infiltração, suportes para os pés, aprofundamento do poço e do acesso da saída d'água, bem como treinamento/apostilas para conscientização a respeito de posturas e melhores práticas.[2]

Assaltos

Em 2018, foi constatado que a CESAMA não enviava mais leituristas aos bairros Vila Esperança I e Vila Esperança II (6ª posição entre os 10 bairros mais perigosos da cidade)[29] há cerca de um ano, como forma de garantir a integridade física dos seus funcionários.[30] Os cerca de 1300 clientes da região passaram a ter suas contas calculadas por média de consumo e enviadas pelos Correios, que por sua vez, só fazem entregas nos bairros em questão duas vezes por semana, se fornecida escolta policial.[30]

Em 2016, um funcionário (leiturista) havia sido assaltado no Vila Esperança II sob ameaça de um revólver, perdendo seu celular particular e o da empresa, enquanto aferia o consumo nos hidrômetros.[31] Em 2017, situação semelhante ocorreu no bairro JK, quando outro leiturista foi assaltado e perdeu um celular, desta vez ameaçado com uma faca.[32]

Greves e paralisações

O sindicato pertinente à CESAMA é o SinÁgua (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Purificação e Distribuição de Água e Serviços de Esgoto de Juiz de Fora).[33]

  • 2017: em outrubo, 33% dos servidores da CESAMA paralisaram as atividades por serem contrários ao parcelamento em 7 vezes do reajuste anual da data-base, de 4,69% - os trabalhadores aceitariam o parcelamento em 3 vezes, porém.[34] Dias depois, cerca de 10% dos funcionários paralisaram por serem contrários à mudança na gratificação dos motociclistas, e na forma de pagamento do deslocamento do empregado até o serviço (horas in itinere).[35]
  • 2016: em abril, 38% dos funcionários paralisaram as atividades por reinvindicarem reposição salarial de 11,07% mais ganho real de 8%, enquanto a companhia oferecia a reposição de 11,07%, com retroativo dependendo do faturamento da empresa.[26] Em maio, devido à Lei das Eleições, ficou definido que o reajuste só poderia contar as perdas inflacionárias desde janeiro de 2016, e não mais dos últimos 12 meses, por ser ano eleitoral, mudando por isto o que havia sido prometido em abril.[33] A CESAMA aguardou a Prefeitura buscar junto ao TRE alguma brecha na lei para que pudesse conceder o reajuste referente a 12 meses.[36]
  • 2015: em abril, 33% dos funcionários protestaram alegando rachaduras na obra da ETA CDI,[37] e reivindicaram aumento de 20% além da reposição inflacionária.[38][27] A proposta da CESAMA era aumento de 7,68%.[39] Em outubro, a CESAMA de fato estava usando uma adutora abaixo da capacidade máxima devido a problemas geotécnicos durante a obra de ampliação, e tinha aberto uma ação judicial para apurar a responsabilidade do caso.[14]
  • 2014: em fevereiro, um número desconhecido de funcionários fizeram uma paralisação para reivindicar correção da inflação (5,28%), mais ganho real de 20% em seus salários.[40]

Referências

Ligações externas