Cassaia
Cassaia (em acádio: Kaš-ša-a; grafado em inglês Kaššaya) foi uma princesa babilônica que viveu no século VI a.C., filha mais velha do rei Nabucodonosor II e neta de Nabopolassar. Cassaia provavelmente foi casada com o general Neriglissar e, assim como ele, era uma administradora e rica proprietária de terras em Uruque.[1]
Cassaia | |
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Princesa da Babilônia | |
Uma Princesa Babilônica, pintada por Henry Justice Ford em 1913 | |
Nascimento | século VII a.C. |
Morte | século VI a.C. |
Nome completo | Cassaia da Babilônia |
Cônjuge | Neriglissar (provavelmente) |
Dinastia | caldeia |
Pai | Nabucodonosor II |
Mãe | Amitis da Média (possivelmente) |
Filho(s) | Labasi-Marduque (?) |
Filha(s) | Guiguitum (?) |
Religião | antiga religião mesopotâmica |
Nabucodonosor (r. 605–562 a.C.) foi sucedido por seu filho, Evil-Merodaque, cujo reinado durou apenas dois anos antes de Neriglissar usurpar o trono da Babilônia e matá-lo. Cassaia pode ter representado um ramo menos legítimo da família real, porém mais rico e melhor estabelecido. Enquanto seu irmão, Evil-Merodaque, encabeçou um ramo menos estabelecido e mais jovem, embora mais legítimo. É possível, portanto, que a usurpação do trono tenha sido resultado de lutas internas entre esses dois ramos da família real.
Etimologia
O nome Cassaia ocorre várias vezes em textos neobabilônicos sendo escrito de várias formas em acádio: Kaš-šá-a, Kaš-ša-a e Kaš-šá-a-a (como nome masculino). A pronúncia Cassaia é sugerida pelas duas últimas grafias. Johann J. Stamm originalmente classificou Cassaia como um nome de origem desconhecida, porém típico apelido carinhoso neobabilônico dado por maridos às suas mulheres. Embora a origem do nome não seja clara, o Chicago Assyrian Dictionary (CAD) sugere que o nome pode ser derivado etimologicamente da palavra kaššu "cassita".[2] Sendo o caso, o nome provavelmente foi dado em homenagem à dinastia cassita que reinou na Babilônia séculos antes de sua vida.[3]
Contexto histórico
Após a morte de Assurbanípal em 631 a.C., o Império Neoassírio entrou em um período de declínio.[4] Nabopolassar conseguiu estabelecer a independência dos babilônios e adotou uma política expansionista com o intuito de recuperar o antigo poder babilônico.[5][6] Em 614 a.C., Nabopolassar se aliou a Ciaxares, rei dos medos. A aliança foi cimentada com o casamento de Nabucodonosor II, filho de Nabopolassar, com a filha do rei Ciaxares, chamada Amitis.[7] Os medos e babilônios unidos colocaram fim ao Império Neoassírio, e Nabopolassar estabeleceu o Império Neobabilônico.[6]
O Império Neobabilônico atingiu seu auge durante o reinado de seu segundo monarca, Nabucodonosor II. Sob seu governo, o império consolidou seus domínios estabelecendo sua hegemonia sobre os territórios que outrora pertenceram aos assírios. Ao longo de seu reinado, Nabucodonosor gastou muito tempo e recursos em projetos de construção extensivos em todo o país, principalmente em sua capital, Babilônia.[8] À medida que o tesouro real se tornava cada vez mais exíguo devido aos excessivos gastos, os empresários locais viriam a ficar mais ricos e, consequentemente, mais influentes em questões políticas.[9]
História
Cassaia é atestada como uma pessoa histórica em textos cuneiformes, que indicam que ela vivia na cidade de Uruque.[10] Os registros mencionam as frequentes doações da princesa para os templos de suas divindades. De fato, presentes de joias e metais preciosos para as divindades eram um dever costumeiro de reis, altos funcionários e membros da família real. Isso é comumente registrado em textos cuneiformes neobabilônicos.[11] Em 1960, René Labat publicou um texto cuneiforme sem data aludindo a uma doação de terras para o templo da deusa Istar, em Uruque, por uma mulher chamada Cassaia, identificada como “filha do rei”.[12] Um dos textos cuneiformes preservados menciona que, nos 31 anos de reinado de seu pai, ela recebeu grandes quantidades de lã azul por fazer mantos ullâku.[13]
Neriglissar foi um oficial proeminente na corte real e se tornou mais influente ao se casar com uma das filhas de Nabucodonosor II.[9] Três filhas de Nabucodonosor são conhecidas; Cassaia, Ininetirate e Bauasitu, mas nenhum texto cuneiforme menciona explicitamente com qual filha Neriglissar se casou.[14] Em 1974, o historiador David B. Weisberg propôs que a esposa de Neriglissar poderia ter sido Cassaia, já que seu nome aparece junto com o nome de Nabucodonosor e Neriglissar em registros de transações econômicas.[15][16] Embora não existam evidências concretas de que Cassaia, em vez de outra filha de Nabucodonosor, fosse esposa de Neriglissar,[14] esta suposição foi amplamente aceita por historiadores subsequentes, como Donald Wiseman e Jona Lendering.[9][17] Assim como Neriglissar, Cassaia foi uma empresária e rica proprietária de terras em Uruque durante o reinado de seu pai.[10][18]
Evil-Merodaque (r. 562–560 a.C.) introduziu seu reinado na Babilônia logo após a morte de seu pai. De acordo com o sacerdote e historiador Beroso, ele “governou caprichosamente e não tinha consideração pelas leis”. Em agosto de 560 a.C., Neriglissar teria liderado uma conspiração contra seu cunhado e assumiu o trono.[17][19][20] É provável que o conflito entre Evil-Merodaque e Neriglissar tenha sido um caso de discórdia entre famílias, e não alguma outra forma de rivalidade.[21] O casamento de Neriglissar com Cassaia (ou com outra filha de Nabucodonosor) foi provavelmente o que tornou possível a usurpação do trono. Um fator que pode ter aumentado significativamente as chances de Neriglissar de se tornar rei foi a posição de Cassaia em relação aos outros filhos de Nabucodonosor. Como Cassaia é atestada consideravelmente mais cedo no reinado de Nabucodonosor do que Evil-Merodaque e a maioria dos outros filhos, é possível que ela fosse mais velha do que eles.[14] Embora a maioria dos irmãos da princesa sejam mencionados mais tarde, eles também poderiam ser coincidentes e a lacuna significativa no tempo poderia até ser interpretada como uma indicação de que eles eram fruto de um segundo casamento.[22] Portanto, é possível que a usurpação tenha sido o resultado de lutas internas entre um ramo mais velho, mais rico e mais influente da família real (representado por Cassaia) e um ramo menos estabelecido e mais jovem, embora mais legítimo (representado por Evil-Merodaque).[14]
Neriglissar governou por quatro anos e foi sucedido por seu filho Labasi-Marduque. De acordo com Beroso, Labasi-Marduque teria reinado por nove meses antes de ser assassinado numa conspiração.[20] Não está claro por que Labasi-Marduque foi deposto e morto em um golpe. É possível que, embora Labasi-Marduque e seu pai fossem bem relacionados e ricos, eles eram vistos como plebeus, sem sangue nobre.[17] Além disso, é possível que, embora Neriglissar fosse visto como legítimo devido ao seu casamento com Cassaia, Labasi-Marduque poderia ser filho de outra esposa de Neriglissar e, portanto, completamente desconectado da dinastia real. Neriglissar também teve uma filha chamada Guiguitum e assim como Labasi-Marduque é incerto se ela era filha de Neriglissar com Cassaia ou com outra esposa.[23]
Atividades econômicas
Alguns documentos registram várias operações envolvendo a “receita” (er-bu) e o “dízimo” (eš-rû) de Cassaia. Um registro descreve uma coleção de joias como “a renda de Cassaia”, indicando que essas joias haviam sido oferecidas pela princesa às divindades do templo Eana. Isso indica que a frase “erbu ša” refere-se à renda acumulada no templo como resultado de um pagamento ou presente feito pela princesa. Outro registro menciona o recebimento de uma quantidade de tâmaras para o templo Eana. Desta vez, as entregas são referidas como “o dízimo de Cassaia”. Outro documento registra o recebimento de recipientes de vinho, “a receita de Cassaia”. O destino final do vinho não é registrado, mas textos paralelos sugerem novamente o templo Eana como o beneficiário da doação. Embora nenhum desses documentos contenha uma indicação específica de sua origem geográfica, as menções da deusa Nanaia e do templo Eana em dois dos textos indicam Uruque.[11][24]
Há dúvidas quanto ao uso de dois termos diferentes, erbu e ešrû. Parece que erbu é uma designação mais vaga, aplicada a uma variedade de rendas provenientes do tesouro do templo, enquanto ešru se refere a um imposto específico geralmente traduzido, em bases etimológicas, como “dízimo”. Portanto, é possível que a maioria, se não todas, as operações registradas nesses textos fossem de fato esses pagamentos. O fato de Cassaia ter sido uma importante proprietária de terras na região de Uruque explica por que ela estava sujeita ao pagamento de uma quantia.[25]
Árvore genealógica
Conforme informações por Wiseman[26][27] e Beaulieu.[28] Uma versão mais completa encontra-se no artigo sobre a dinastia caldeia.
Nabopolassar r. 626–605 a.C. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Belsumiscum | Amitis | Nabucodonosor II r. 605–562 a.C. | Nabusumalisir | Adagupi | Nabubalassuiquibi | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Neriglissar r. 560–556 a.C. | Cassaia | Evil-Merodaque r. 562–560 a.C. | Nitócris (?) | Nabonido r. 556–539 a.C. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Labasi-Marduque r. 556 a.C. | Guiguitum | Belsazar | Enigaldi-Nana | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Na mídia
- Cassaia aparece na telenovela brasileira produzida pela RecordTV, O Rico e Lázaro, interpretada pela atriz Pérola Faria.[29]