Cigarro

Cigarro é um pequeno cilindro de folhas de tabaco de corte fino enroladas numa mortalha que pode ser fumado. O cigarro é aceso numa das pontas, iniciando uma combustão lenta cujo fumo pode ser inalado pela outra ponta. A maior parte dos cigarros modernos produzidos em fábrica incluem um filtro numa das pontas, e geralmente incluem tabaco reconstituído e outros aditivos. Algumas pessoas inalam o fumo através de uma boquilha.[1] A principal substância química psicoativa no tabaco é a nicotina, a qual é extremamente viciante.[2]

Um cigarro aceso, num cinzeiro. O filtro corresponde à parte laranja

Geralmente, o termo "cigarro" refere-se ao cigarro de tabaco, embora possa ser usado para designar produtos semelhantes, como cigarro de cannabis. Um cigarro é diferente de um charuto ou cigarrilha, uma vez que, ao contrário destes produtos, é constituído por tabaco processado enrolado em papel, enquanto os charutos são constituídos inteiramente por folhas de tabaco integrais.

Fumar é prejudicial para a saúde. A esperança de vida de um fumador é 14 anos de vida inferior à da restante população.[2] Cerca de metade dos fumadores morre de doenças relacionadas com o tabaco.[3] O fumo produzido pelos cigarros é um aerossol com mais de 4000 compostos químicos diferentes, entre os quais nicotina, monóxido de carbono e acroleína.[4] Mais de 50 destas substâncias são carcinogénicas.[5] O consumo de cigarros por mulheres grávidas pode causar doenças congénitas, entre as quais baixo peso à nascença, anomalias do feto e parto prematuro.[6] Mesmo a exposição ao fumo passivo, o cigarro é prejudicial para as pessoas (não fumantes) à volta do fumador, tendo o potencial para causar os malefícios do fumo.[7][8][9][10]

A prevalência de fumadores varia significativamente em todo o mundo e tem vindo a alterar-se desde a introdução dos cigarros em meados do século XIX. Enquanto nos países desenvolvidos o número de fumadores tem vindo a diminuir gradualmente, nos países em vias de desenvolvimento tem continuado a aumentar.[11][12] Os efeitos na saúde, incluindo os efeitos nefastos do fumo passivo, têm levado à criação de leis que proíbem fumar em locais de trabalho e zonas públicas. Os cigarros são também uma causa frequente de incêndios em habitações, o que tem levado alguns países a proibir cigarros que não se extingam rapidamente.[13][14]

História

Há controvérsias sobre a origem do cigarro. Suas formas mais antigas foram atestadas na América Central por volta do século IX na forma de cachimbos feitos de bambu. Os maias e posteriormente os astecas, fumavam várias drogas psicoativas durante rituais religiosos que eram frequentemente retratados em cerâmicas e gravuras em seus templos.[15] No Caribe, México e nas Américas Central e do Sul, o cigarro e o charuto eram o método mais comum para se fumar até tempos recentes.[16]

O cigarro produzido na América do Sul e América Central usava várias plantas como embrulho. Quando o fumo foi levado para a Espanha o mesmo passou a ser embrulhada com palhas de milho. O papel fino para embalagem foi introduzido por volta do século XVII. O produto resultante era chamado "papelate" e foi retratado em várias pinturas de Francisco de Goya como La cometa, La Merienda en el Manzanares e El juego de la pelota a pala, obras do século XVIII.[17]

Por volta de 1830, o cigarro foi inserido na França, lá recebeu o nome cigarette e a partir de 1845 começou a ser produzido em escala industrial sob monopólio estatal.[17] Durante a Guerra da Crimeia (1853–1856) o uso do cigarro foi popularizado entre as tropas francesas e britânicas, estas imitavam os turcos que fumavam o tabaco em cachimbos. Em 1833, aparecem na Espanha os primeiros pacotes que são chamados "cigarrillo" ou "cigarrito", termos que vem da palavra "cigarro", assim chamados devido sua forma parecida com a de uma cigarra. Introduzido por comerciantes do Brasil, continuou a sua expansão até Portugal e, posteriormente, por toda a Europa.

A partir de meados do século XX, o uso do cigarro espalhou-se por todo o mundo de maneira enérgica. Essa expansão deu-se, em grande parte, graças ao desenvolvimento da publicidade e marketing. A distribuição gratuita de tabaco para as tropas durante a Primeira Guerra Mundial ajudou a popularizar ainda mais o consumo da droga.[18]

Em tempos de guerras e crises econômicas o cigarro foi bastante valorizado. Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, chegou-se a pagar quatrocentos francos por um cigarro, já que eles eram racionados para os soldados.

No Brasil, o tabaco foi introduzido possivelmente através da migração de tribos. Os portugueses tomaram conhecimento da droga quando mantiveram contato com os índios. A produção do tabaco teve grande importância na economia brasileira no período colonial e o desenho de sua folha foi estampado no brasão da República.[18]

Em Portugal, 28% da população fuma, e dados mostram que doze mil pessoas morrem anualmente devido ao consumo do cigarro. A estimativa também indica o perfil do fumante português, entre 35 e 44 anos, e afirma que o número deste tem diminuído nos últimos anos. Atualmente, Portugal é o país da União Europeia com o menor número de fumantes.[19]

Consumo

Embora seja possível, atualmente, comprar cigarros em maços de vinte, esse produto não foi criado dessa forma. Posteriormente à utilização de rapé (tabaco em pó para se cheirar) com finalidades terapêuticas, o cigarro passou a ser consumido apenas por prazer, enrolado manualmente ou com a ajuda de máquinas de enrolar. Com o passar do tempo, o fumar foi se assumindo como uma forma de afirmação na sociedade, status e até mesmo sensualidade. Artistas famosas, carros, ideias de poder ligadas ao fumo eram muito comum nos comerciais. Isso porque, acredita-se, que quanto antes convencer que “fumar é bom”, melhor para as vendas, pois garantirá um adulto que fuma. Pode-se considerar que o ato de fumar está, muitas vezes, mais ligado ao ritual que envolve o ato de fumar do que à própria nicotina, não obstante, o consumo próximo a círculos de não fumantes pode chegar a gerar discriminações ou até mesmo reações mais ríspidas.

O tratamento do tabaco utilizado na produção de cigarros introduz substâncias cancerígenas que tornam-se ainda mais daninhas durante sua combustão, podendo prejudicar o organismo de diversas formas.

Atualmente, devido ao maior conhecimento das consequências maléficas da inalação do fumo e ao incômodo provocado pela fumaça, foram criadas zonas de não fumantes em muitos locais públicos em diversos países.

Associadas a essas medidas de contenção do consumo de cigarros, existem iniciativas de sensibilização do fumante, como as embalagens na Europa e no Brasil, que expõem avisos visíveis nos maços de cigarro e nos seus espaços publicitários com as consequências maléficas de seu consumo.

Vício

O tabaco é um vício poderoso. Deixá-lo, segundo estudo publicado no New York Times, pode ser mais difícil que se livrar do álcool, anfetaminas, cocaína e até heroína. “Parar de fumar é fácil. Já parei mais de 20 vezes”, ironizava Winston Churchill, reconhecido como um dos maiores estadistas do século XX.[20]

Cigarros aromatizados com cravo

Trabalhos científicos como o de LaVoie, E.J., "Toxicity Studies on Clove Cigarrete Smoke and Constituens of Clove", Archieves of Toxicology 63:1-6, 63 ilustram o grande perigo que se esconde nos perfumados "cigarros de Bali". O primeiro perigo é o tabaco: como o eugenol tem um efeito anestésico, grandes baforadas de fumaça de tabaco, em geral sem filtro, podem ser inspiradas, com a sensação de um suave frescor enchendo os pulmões. Os usuários acabam fumando cigarros extremamente fortes, repetidas vezes ao dia, graças ao efeito enganoso do eugenol.

Estudos (LaVoie, e também Clark, G.C. "Comparasion of kretek (clove cigarette) smoke with that of American cigarrete smoke", Archives of Toxicology 63:1-6, 1989) têm demonstrado que a incidência de câncer é muito maior nos fumantes de kretek (cigarros de cravo) do que nos fumantes regulares. Os constituintes do cravo também são tóxicos, e sua toxicidade aumenta 1500 vezes se os componentes são inalados em vez de ingeridos. Dr. Frederick Schechter[quem?] escreveu um artigo[quando?] em uma revista médica americana trazendo o alerta: todos os meses adolescentes usuários de cigarros de cravo iam ao seu consultório com sérios problemas respiratórios, requerendo hospitalização e, em alguns casos, cirurgias. Dois de seus pacientes acabaram morrendo.

A industrialização do cigarro, os impostos e legalidade

Placa que indica a proibição do consumo de cigarros

As indústrias tabaqueiras começaram por serem pequenas organizações familiares que geravam poucos impostos, fato esse que obrigava os agentes cobrarem o imposto somente nas origens que eram as plantações.

Após o surgimento do processo de industrialização do tabaco, o produto saído da boca das máquinas era mais fácil de controlar e permitiu que os governos assumissem o controle desta indústria e passassem a cobrar altas taxas dos impostos sobre o fumo, como forma de inibir o consumo.

Embora o Estado tenha arrecadação relativa ao imposto sobre o cigarro, o custo social do cigarro é muito maior. Os planos de saúde pública são obrigados a arcar com o ônus das doenças provocadas pelo uso de cigarros, além dos próprios usuários, que além de pagarem impostos muito elevados para utilizarem a droga, ainda tem que arcar com tratamentos de saúde resultantes do uso de cigarros, e que não são cobertos por planos de saúde. O ideal é que, ao se comprovar que a doença foi provocada pelo cigarro, o Governo tivesse que arcar com as despesas. Mas o que se observa é que muitos usuários entram em demanda contra a fábrica do produto, que já é altamente por fabricar os cigarros que são legalmente produzidos.

O Butão foi o primeiro país do mundo a proibir o consumo de cigarros.[21]

Há aproximadamente dois anos iniciou-se no Brasil uma política de estado para a desconstrução do cigarro. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foram implementadas medidas e campanhas antitabagistas ousadas e bem-sucedidas: desde a proibição de propagandas nas TVs, rádios e jornais até a demonstração dos malefícios causados pelo cigarro à saúde, à estética pessoal, ao fumante passivo.[22] Nos últimos dez anos, dados mostram que o consumo de cigarro no Brasil têm caído vertiginosamente — passou de 21,9% em 2005 para 14,2% em 2015, segundo dados da Kantar IBOPE Media. Esse é o menor índice da última década. Além disso, muitos têm se esforçado em deixar o vício: dentre os que fumaram alguma vez na vida, 56% já conseguiram suspender o consumo de tabaco e estão livres do vício, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde e Bem Estar da Kantar Health.[23]

Composição

Na combustão do tabaco produzem-se milhares de substâncias que são transportadas pelo fumo até aos pulmões. Estas substâncias atuam principalmente sobre o aparelho respiratório, mas algumas delas são absorvidas passando para a corrente sanguínea a partir da qual atuam sobre o organismo.

Tais substâncias podem agrupar-se do seguinte modo:

  • Nicotina: É uma droga psicoactiva responsável pela maior parte dos efeitos do tabaco sobre o organismo e gera dependência física. A duração média da nicotina no sangue é inferior a 2 horas, e se a sua concentração for reduzida aparecem os sintomas que alertam o fumante para a necessidade de um novo cigarro.
  • Irritantes: O fumo do tabaco contém muitas substâncias irritantes como a acroleína, fenóis, peróxido de nitrogênio, ácido cianídrico, amoníaco, etc., que provocam a alteração dos mecanismos de defesa do pulmão e a contração bronquial pela estimulação das glândulas secretoras da mucosa.
  • Alcatrão: O alcatrão é uma substância composta essencialmente por carbono de hidrogénio, ele deriva da carbonização de materiais orgânicos, como a madeira ou o petróleo. Todas as substâncias tóxicas que contribuem para as neoplasias associadas ao consumo do tabaco, sendo a mais estudada o alfabenzopireno.
  • Monóxido de Carbono: É um gás incolor de elevada toxicidade presente em grande concentração no fumo do tabaco. Este gás tem uma grande facilidade em se associar a hemoglobina, diminuindo a capacidade de transporte de oxigênio.

Teores permitidos das substâncias

União Europeia

Em todos os estados-membros da União Europeia não é permitida a comercialização de cigarros com mais de 10 mg de alcatrão, 1 mg de nicotina e 10 mg de monóxido de carbono.[24]

Brasil

Nos cigarros comercializados no Brasil, os limites máximos permitidos de alcatrão, nicotina e monóxido de carbono na corrente primária da fumaça são:[25]

  • I – alcatrão: 10 mg/cigarro (dez miligramas por cigarro);
  • II – nicotina: 1 mg/cigarro (um miligrama por cigarro); e
  • III – monóxido de carbono: 10 mg/cigarro (dez miligramas por cigarro).

Outros compostos químicos

As substâncias ou componentes do cigarro são:

  • Acetaldeído: Produto metabólico primário etanol no processo de transformação em ácido acético. É um dos agentes responsáveis pela ressaca.
  • Acetona: Solvente inflamável.
  • Ácido cianídrico: Cianeto altamente venenoso (bloqueia a recepção do oxigênio pelo sangue).
  • Alcatrão: Substância tóxica e cancerígena que ajuda ao desenvolvimento de vício. Ele obstrui as vias respiratórias.
  • Amoníaco: Químico perigoso utilizado em produtos de limpeza.
  • Arsênio: Componente altamente nocivo - veneno puro.
  • Benzopireno: Substância cancerígena que ajuda no processo de combustão - faz com que o cigarro não se apague.
  • Butano: Gás incolor, inodoro mas altamente inflamável.
  • Cloreto de Vinila: Utilizado na fabricação de plásticos, brinquedos, acessórios, etc., diminui a libido, além de ser cancerígeno e altamente tóxico.
  • DDT: Agrotóxico.
  • Dietilnitrosamina: Causador de lesões.
  • Fenol: Ácido carbólico que corroí e irrita as nossas membranas mucosas. Caso fosse ingerido ou inalado era mortal! Para além de ser corrosivo afeta também o nosso sistema nervoso central.
  • Formol: Formaldeído
  • Mercúrio e metais pesados como chumbo e cádmio: Um único cigarro contém 1 a 2 mg, pelo que como a média de vida destas substâncias é de 10 a 30 anos, reduz a capacidade dos pulmões. Entre outros problemas também causa: dispnéia, fibrose pulmonar, enfisema, hipertensão, câncer nos pulmões, próstata, rins e estômago.
  • Metanol: Álcool metílico usado como combustível de foguetes e automóveis.
  • Monóxido de carbono: Gás levemente inflamável e extremamente toxico pois se combina a hemoglobina e impede o transporte de oxigênio
  • Naftalina: Substância cristalina branca, volátil, com odor característico antitraça.
  • Nicotina: É um alcaloide que também é usado como insecticida. Apesar de cheirar mal constitui o princípio cativo do tabaco, sendo a substância que provoca o vício e o cancro nos pulmões.
  • Níquel: Armazenam-se no fígado e rins, coração, pulmões, ossos e dentes - resultando em gangrena dos pés, causando danos ao miocárdio, etc.
  • Pineno: Hidrocarboneto cancerígeno - utilizado como aromatizante.
  • Polônio: Extremamente radioativo.

Efeitos para o organismo

Pulmão humano deteriorado pela enfisema pulmonar.

O pulmão humano é composto de pequenas estruturas, os alvéolos pulmonares, responsáveis pelas trocas gasosas do sangue. O fluxo de sangue e a irrigação sanguínea entre o coração e o pulmão são intensos. A fumaça do cigarro prejudica diretamente o funcionamento da circulação coração–pulmão. Com o passar do tempo, os alvéolos pulmonares vão sendo cimentados pelos componentes da fumaça do cigarro, deixando de fazer sua função. O organismo então passa a ter menor oxigenação dos tecidos, resultando em maior facilidade de cansaço para o fumante. O cigarro também causa inúmeros danos ao coração e pulmão, tal como infarto e câncer.[carece de fontes?]

Referências

Ligações externas

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