Cinema do Japão

Indústria cinematográfica do Japão
Cinema do Japão

de cinemas:
3,616 (2020)[1]
Filmes produzidos:
506 (2020)[1]
Bilheteria:
¥ 143,285 bilhões (2020)[1]

A história do cinema do Japão estende-se por mais cem anos, o país tem uma das mais antigas e maiores indústrias cinematográficas do mundo; começando a produzir filmes no final do século XIX com a chegada dos primeiros cinegrafistas estrangeiros. No ano de 2011, o Japão produziu 411 filmes o que rendeu numa porcentagem de 54,9 da bilheteria japonesa de 2,338 bilhões de dólares estadunidenses.[2] Em 2021, figurou como o quarto maior produtor de longas-metragens de todo o mundo.[3]

O filme Tōkyō Monogatari, de 1953, foi classificado em terceiro lugar na lista dos cem maiores filmes de todos os tempos da revista britânica Sight & Sound — encabeçando na pesquisa de opinião e sucedendo Citizen Kane.[4][5][6] Em contrapartida, Shichinin no Samurai do diretor Akira Kurosawa foi eleito o melhor filme em língua estrangeira de todos em 2018 pela BBC com análises de 209 críticos de 43 países.[7] No Oscar, premiação anual concedida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e considerada a mais prestigiada da indústria cinematográfica mundial, o Japão foi vencedor por quatro vezes[N 1] na categoria de melhor filme internacional,[N 2] à frente de qualquer país asiático.[11] De maneira similar, ocorre no país os Prêmios da Academia cedida pela Academia Japonesa de Cinema.[12] As empresas cinematográficas Toho, Toei, Shochiku e Kadokawa, são dominadas dê as "Quatro Grandes" do território nipônico, são respectivamente membros da Associação de Produtores de Cinema do Japão (MPPAJ).[13] Desde a década de 1990, as animações destacam-se por sua grande qualidade de produção e um ótimo desempenho comercial. Muitas produções de Hayao Miyazaki como Mononoke Hime, Sen to Chihiro no Kamikakushi, Hauru no Ugoku Shiro e Gake no ue no Ponyo, obtiveram aclamação por parte da crítica especializada e conseguiram lucrar bilhões de ienes nas bilheterias.[14]

História

Inícios (1896—1919)

Salvo e preservado, Momijigari é mais antigo filme japonês acessível ao público.

O cinema foi introduzido no Japão pela primeira vez em 25 de novembro de 1896, quando o cinetoscópio — inventado três anos antes nos EUA por Thomas Edison — foi exibido na cidade de Cobe, ocorrendo ali a primeira exibição pública de um filme no país, expandindo-se seguidamente para Osaka e Tóquio.[15] Em fevereiro de 1897, o cinematógrafo e o vitascópio dos Irmãos Lumière foram implementados no Japão por empresários como Inabata Katsutaro.[15][16] As imagens em movimento, contudo, não eram exclusividade para os nipônicos devido à sua rica tradição de equipamentos pré-cinemáticos; tais como o gentō (utsushi-e) ou a lanterna mágica.[17] No ano de 1898, foram produzidos alguns curtas-metragens, em destaque Bake Jizo e Shinin no sosei.[18] A película rodada em 1899, Momijigari, de Tsunekichi Shibata, é o mais antigo registro disponível para o público japonês e o primeiro a ser considerado propriedade cultural.[19][20]

Frente do Denkikan durante a exibição do filme italiano Marcantonio e Cleopatra em 1914.

Durante as duas primeiras décadas após o cinema ser sido introduzido no Japão, foi motivo de curiosidade e admirado como uma excepcional invenção ocidental.[15] Os cinematográficos contratavam os denominados benshi, constituído por uma ou um grupo de pessoas que se sentavam ao lado do ecrã e narravam os filmes mudos.[21] A Yoshizawa Shōten foi uma das primeiras companhias a se envolver nas produções nacionais.[22] Em 1902, foram importados filmes ocidentais para garantir até dois meses de exibições em um único local, o que ajudou na preparação da primeira sala de cinema do país, o Denkikan, inaugurado em Tóquio no mês de outubro de 1903.[15][23] Haviam um total de 64 cinemas no Japão, sendo 21 deles em Asakusa no ano de 1917; os ingressos eram cobrados por altos preços e as classes médias e altas eram os alvos.[15][24]

Um frame dos três segundos do curta-metragem Katsudō Shashin, com data e criador desconhecidos.

Natsuki Matsumoto, especialista em iconografia da Universidade de Artes de Osaka, indica que o primeiro filme de animação produzido no Japão poderia ter surgido entre os anos de 1907 e 1911.[25] Conhecido como Katsudō Shashin, apresenta um menino com uniforme de marinheiro escrevendo em kanji a expressão Katsudō Shashin (活動写真 lit. "imagens em movimento"?) e em seguida se virando de frente ao espectador, tirando o chapéu e fazendo uma saudação.[26] Consiste na sequência de cinquenta frames desenhados numa fita celuloide e dura três segundos, a uma velocidade de dezessete frames por segundo.[26] Sendo descoberto em 2005 no projetor de uma casa em Quioto.[26] Alguns filmes foram descobertos em "filme de brinquedo" que são versões para visualização de projetores caseiros. O mais antigo desses é Hanawa Hekonai meitō no maki de 1917, conhecido como Namakura Gatana.[27][28]

Em 1908, o diretor considerado o pioneiro na indústria cinematográfica japonesa, Shōzō Makino, iniciou sua influente carreira com Honnōji Gassen.[29] Escalando Matsunosuke Onoe para protagonizar grande parte de suas produções, onde o ator alcançou o estrelato e foi creditado em mais de mil filmes.[30] A crítica especializada no país cresceu durante a década de 1910, o que levou no surgimento do "movimento dos filmes autênticos", defendendo o que eram considerados meios mais modernos de produções cinematográficas.[31] Críticos das revistas Kinema Record e Junpō lamentaram que o cinema japonês da época era teatral demais.[32] Norimasa Kaeriyama que era analista acabou se tornando cineasta a fim de por suas ideias em prática sobre o que é cinema, fazendo sua estreia com Sei no Kagayaki (1919) no Tennenshoku Katsudō Shashin.[33] Sendo frequentemente considerado o primeiro "filme autêntico", entretanto, diretores como Eizō Tanaka — influenciado pelo shingeki — expuseram seus próprios conceitos no estúdio Nikkatsu ao final dos anos 10.[33]

Ascensão (1920—39)

Fundado em 1920 nos subúrbios de Tóquio, o estúdio Shochiku dominou a indústria cinematográfica japonesa até mudar sua sede para Ōfuna em 1936.

Vários estúdios começaram suas atividades por volta de 1920, no caso da Shochiku — que se tornou uma das mais influentes do país — e Taishō Katsuei, este último ficou em operação por apenas dois anos.[N 3][34][35] Pelo mesmo, Thomas Kurihara dirigiu filmes com roteiro do romancista Jun'ichirō Tanizaki, onde era forte defensor da reforma cinematográfica.[36] Os longas-metragens japoneses obtiveram popularidade em meados da nova década, em contrapartida aos estrangeiros, estimulados pela popularidade dos astros do cinema nacional e por um novo estilo do jidaigeki.[37][38] Diretores como Daisuke Itō e Masahiro Makino realizam produções do gênero chanbara, a exemplo Chūji tabi nikki e Roningai; apresentando rebeldes anti-heróis em rápidas cenas de lutas que obtiveram aclamação pela crítica.[39] Os atores Tsumasaburō Bandō, Kanjūrō Arashi, Chiezō Kataoka, Utaemon Ichikawa e Takako Irie, seguiram o exemplo de Makino e fundaram suas próprias empresas cinematográficas de forma independente.[40][41][42][43] Muitos historiadores japoneses designam as causas do grande sismo de Kantō que ocorreu em setembro de 1923, como de grande consequência para a indústria cinematográfica do país.[44] Alguns estúdios localizados na área de Tóquio foram completamente destruídos, em exceção ao Shochiku,[N 4] com as outras companhias transferindo suas sedes para o oeste nipônico.[44] Para o crítico Tadao Satō o terremoto foi "monumental para pontuar a história cultural do Japão moderno, desaparecendo uma e surgindo outra".[45]

Ver também

Notas

Referências

Bibliografia

  • Wada-Marciano, Mitsuyo (2008). Nippon Modern: Japanese Cinema of the 1920s and 1930s (em inglês). Honolulu: ‎University of Hawaii Press. 198 páginas. ISBN 978-0-8248-3182-0 
  • Thornton, Sybil Anne (2008). The Japanese Period Film (em inglês). Jefferson: McFarland & Company. 253 páginas. ISBN 978-0-7864-3136-6