Clube de Bilderberg

Grupo Bilderberg, Conferência de Bilderberg, Reuniões de Bilderberg ou Clube de Bilderberg é uma conferência anual privada estabelecida em 1954 para cerca de 150 especialistas em indústria, finanças, educação e meios de comunicação que fazem parte da elite política e econômica da Europa e da América anglo-saxônica.[1]

Clube de Bilderberg
Clube de Bilderberg
Hotel de Bilderberg nos Países Baixos, localização epônima da primeira conferência

Países por número de políticos que participaram da Conferência de Bilderberg
Fundação29 de maio de 1954 (69 anos)
PresidenteFrança Henri de Castries
Sítio oficialwww.bilderbergmeetings.org

Origem

A primeira conferência foi realizada no Hotel de Bilderberg em Oosterbeek, Países Baixos, de 29 a 31 maio de 1954.[2] O encontro foi iniciado por várias pessoas, como o político polonês exilado Józef Retinger, que estava preocupado com o crescimento do antiamericanismo na Europa Ocidental e propôs uma conferência internacional em que líderes de países europeus e dos Estados Unidos reuniriam-se com o objetivo de promover o atlantismo e a cooperação entre as culturas norte-americana e europeia em matéria de política, economia e questões de defesa.[3]

Retinger aproximou-se do príncipe Bernardo de Lippe-Biesterfeld, que concordou em promover a ideia, ao lado do ex-primeiro-ministro belga Paul van Zeeland e do então chefe da Unilever, o holandês Paul Rijkens. Bernardo por sua vez contactou Walter Bedell Smith, então chefe da CIA, que pediu a Eisenhower consultar Charles Douglas Jackson sobre a sugestão.[4] A lista de convidados teria que ser formada através do convite de dois participantes de cada nação, sendo que cada um representaria os pontos de vista "conservador" e "liberal". Cinquenta delegados de 11 países da Europa Ocidental participaram da primeira conferência, além de 11 estadunidenses.[5]

O sucesso do encontro fez com que os organizadores criassem uma conferência anual. Um comitê diretivo permanente foi estabelecido, sendo que Retinger foi nomeado o secretário permanente. Assim como a organização da conferência, o comitê diretivo também manteve um registro dos nomes dos participantes e detalhes de contato para criar uma rede informal de indivíduos, que poderiam se comunicar de maneira privada.[6] As conferências foram realizadas na França, Alemanha e Dinamarca ao longo dos três anos seguintes. Em 1957, a primeira conferência dos Estados Unidos foi realizada em St. Simons, Geórgia, com apoio de 30 mil dólares da Fundação Ford, que também financiou as conferências de 1959 e 1963.[4]

Atividades e objetivos

A meta original do grupo era a de promover o atlantismo, de reforçar as relações entre Estados Unidos e Europa e prevenir que outra guerra mundial acontecesse; o objetivo do Grupo Bilderberg é "reforçar um consenso em torno do capitalismo ocidental de livre mercado e os seus interesses em todo o mundo", de acordo com Andrew Kakabadse.[2] Em 2001, Denis Healey, um dos fundadores do grupo de Bilderberg e membro do comitê diretivo por 30 anos, afirmou: "dizer que estávamos lutando por um governo mundial é exagerado, mas não totalmente injusto. Nós no Bilderberg sentimos que não poderíamos continuar a estabelecer conflitos uns contra os outros por nada, ao matar pessoas e criar milhões de desabrigados. Por isso, sentimos que uma única comunidade global seria uma coisa boa."[7]

De acordo com o ex-presidente Étienne Davignon, em 2011, uma grande atração das reuniões do grupo de Bilderberg é que elas fornecem uma oportunidade para que os participantes falem e debatam abertamente e descubram o que as principais figuras mundiais realmente acham sem o risco de que comentários descontextualizados sejam usados pela mídia para a criação de controvérsias.[8] Em 2008, um comunicado a imprensa do "American Friends of Bilderberg" afirmou que "a única atividade do Bilderberg é sua conferência anual e que, nas reuniões, não há a emissão de propostas de resoluções, votações ou declarações políticas". No entanto, em novembro de 2009, o grupo organizou um jantar no Château de Val-Duchesse, em Bruxelas, na Bélgica, fora da sua conferência anual e para promover a candidatura de Herman Van Rompuy para a presidência do Conselho Europeu.[9]

Estrutura organizacional

Bernardo de Lippe-Biesterfeld em 1942

As reuniões são organizadas por um comitê diretivo com dois membros de cada uma das cerca de 18 nações participantes.[10] O presidente e o secretário-geral honorário emitem mensagens oficiais.[11] As regras do grupo não incluem uma categoria de membros, mas ex-participantes recebem relatórios sobre a conferência anual.[12] A única categoria que existe é "membro do comitê diretivo."[13] Além do comitê, há um grupo consultivo separado com sobreposição de adesão.[14]

O economista holandês Ernst van der Beugel se tornou secretário permanente em 1960, após a morte de Retinger. O príncipe Bernardo continuou a servir como presidente da conferência até 1976, o ano do seu envolvimento no caso Lockheed. A posição do Secretário Geral Honorário estadunidense tem sido exercida sucessivamente por Joseph E. Johnson, do Carnegie Endowment, William Bundy, de Princeton, Theodore L. Eliot Jr., ex-embaixador dos EUA no Afeganistão, e Casimir A. Yost, do Instituto da Universidade de Georgetown para o Estudo da Diplomacia.[15]

De acordo com James A. Bill, o "comitê diretivo geralmente se reúne duas vezes por ano para planejar os programas e para discutir a lista de participantes."[16]

Presidentes do comitê diretivo

Participantes

Cerca de dois terços dos participantes vêm da Europa e o resto da América do Norte; inclusive a família real britânica participa desse clube.Um terço são políticos e o restante vêm de outros áreas.[2][25] Historicamente, as listas de participantes foram preenchidas por banqueiros, políticos, diretores de grandes empresas[26] e membros do conselho de grandes empresas de capital aberto, incluindo IBM, Xerox, Royal Dutch Shell, Nokia e Daimler.[11] Existem reuniões para chefes de estado, como o ex-rei Juan Carlos I da Espanha e a ex-rainha Beatrix dos Países Baixos.[11][27] Uma fonte ligada ao grupo disse o Daily Telegraph em 2013 que outros indivíduos, cujos nomes não são divulgados, às vezes chegam "apenas no dia" para as reuniões do grupo.[28]

Encontros recentes

Críticas

Em parte por causa de seus métodos de trabalho para garantir a estrita privacidade, o Grupo Bilderberg tem sido criticado por sua falta de transparência e prestação de contas.[29] A natureza não revelada do processo deu origem a várias teorias da conspiração.[30][8][31] Essa perspectiva tem sido popular em ambos os extremos do espectro político, mesmo quando eles discordam sobre a natureza exata das intenções do grupo. Alguns da esquerda acusam o grupo de Bilderberg de conspirar para impor a dominação capitalista,[32] enquanto alguns à direita acusaram o grupo de conspirar para impor um governo mundial e uma economia planificada.[33]

Em 2005, Davignon comentou as acusações de que o grupo luta por um governo mundial para a BBC: "É inevitável e sempre haverá pessoas que acreditam em conspirações, mas as coisas acontecem de uma forma muito mais incoerente. ... Quando as pessoas dizem que este é um governo mundial secreto, eu digo que, se tivéssemos um governo mundial secreto, deveríamos então ter absoluta vergonha de nós mesmos."[31]

Em agosto de 2010, o ex-presidente cubano Fidel Castro escreveu um artigo controverso para o cubano jornal do Partido Comunista de Cuba, o Granma, no qual ele citou o livro de Daniel Estulin, Os segredos do Clube Bilderberg, de 2006,[34] que descreve "panelinhas sinistras e os lobistas Bilderberg 'manipulam o público' para instalar um governo mundial que não conhece fronteiras e não é responsável perante ninguém, exceto a si mesmo."[32]

Os defensores da teoria da conspiração Bilderberg nos Estados Unidos incluem indivíduos e grupos como a John Birch Society,[33][35] o ativista político Lyndon LaRouche,[36] o radialista Alex Jones[2][37][38] e o político Jesse Ventura, que fez do grupo de Bilderberg o alvo de um episódio de 2009 da sua telessérie Conspiracy Theory with Jesse Ventura.[39]

Preocupações sobre lobbying têm surgido.[40][41] Ian Richardson vê Bilderberg como a elite do poder transnacional "uma parte integral e, até certo ponto, crítica do sistema atual de governança global" e que "não age pelo interesse coletivo."[42]

Ver também

Referências

Bibliografia

  • ESTULIN, Daniel. A Verdadeira Historia do Clube Bilderberg. Editora Planeta do Brasil, 2006. ISBN 85-7665-169-6

Ligações externas

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