David Capistrano da Costa Filho
David Capistrano da Costa Filho (Recife, 7 de julho de 1948 — São Paulo, 10 de novembro de 2000) foi um político e médico sanitarista brasileiro. Foi prefeito da cidade de Santos de 1993 a 1996.[2][3]
David Capistrano da Costa Filho | |
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O prefeito de Santos David Capistrano da Costa Filho discursa em evento de campanha para governador de Mário Covas, 1994. | |
Prefeito de Santos | |
Período | 1 de janeiro de 1993 até 31 de março de 1996 |
Antecessor(a) | Telma de Souza |
Sucessor(a) | Beto Mansur |
Dados pessoais | |
Nascimento | 7 de julho de 1948 Recife |
Morte | 10 de novembro de 2000 (52 anos) São Paulo |
Nacionalidade | brasileiro(a) |
Alma mater | Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro[1] |
Partido | PCB (1956-1983) PT (1986-2000) |
Profissão | Médico |
Infância e juventude
Era o mais velho e o único homem dos três filhos de David Capistrano da Costa com Maria Augusta Capistrano. Suas irmãs são Maria Cristina e Maria Carolina.[4] David Capistrano da Costa Filho teve uma infância conturbada devido a cassação do Partido Comunista Brasileiro pelo governo Dutra em 1947 e como consequência a ordem de prisão contra seu pai, que passou a viver na clandestinidade.[4] Passou os seus primeiros anos de vida principalmente com a sua mãe e suas irmãs.[4] Por um tempo sua família acompanharia, com sua mãe também clandestina, seu pai nas atividades políticas do PCB na cidade do Rio de Janeiro.[4]
Em 1956, sob um novo contexto político promovido por Juscelino Kubitschek, que teve o apoio dos comunistas na eleição presidencial, David Capistrano volta a viver com a família em Recife, onde em 1962 passa a estudar no Colégio Estadual de Pernambuco, aos 14 anos de idade.[2][5]
É nesse período que Capistrano se inicia na política, participando da União da Juventude Comunista no colégio, composto por ele e outros 24 alunos.[6]
Dois dos seus companheiros no movimento estudantil foram assassinados pelo Exército quando participavam de um protesto contra a deposição do governador Miguel Arraes, que viria a ser preso como consequência do golpe militar de 1964.[4][7] Aproximadamente 20 dias após o golpe David e sua mãe são presos. Ela ficaria por volta de um mês presa e David ainda ficaria mais dois meses em reclusão. Uma de suas tias que era freira precisou interceder para sua libertação.[4]
Após 1964, intensifica a atuação política, rearticulando o setor secundarista, publicando jornais, fazendo pichações e panfletagens e participando das infindáveis discussões internas do PCB, em torno da interpretação dos eventos de 1964 e dos rumos a seguir na nova conjuntura política.
Em 1965, aos 17 anos, ele participa de um concurso estudantil de oratória, com o tema da prostituição. No final desse ano David saiu de Pernambuco com Maria Augusta e as irmãs, Cristina e Carolina, migrando para o estado do Rio de Janeiro, onde viria a cursar o último ano do científico ao mesmo tempo que fazia um curso preparatório para o vestibular de medicina.[4] Ingressou no curso de medicina da Faculdade de Medicina da UFRJ e inicia militância no movimento estudantil universitário.[2][8]
Vida adulta e carreira política
No Rio de Janeiro, Capistrano se torna membro da executiva estadual do PCB e envolve-se na luta armada contra a ditadura militar brasileira. Sua permanência no Rio de Janeiro, porém, torna-se inviável a partir de 1972, quando seu nome é identificado pelos serviços de segurança e este passa a ser alvo de investigações. Em 1974 vem para São Paulo buscando a formação de médico sanitarista com Sérgio Arouca, professor da UNICAMP.[9] Depois pleiteia a Kurt Kloetzel, professor da Faculdade Medicina de Jundiaí, vaga de emprego no manicômio judiciário do município de Franco da Rocha. Ele tinha a esperança de encontrar seu pai preso no manicômio, onde se desconfiava que estivessem alguns presos políticos, mas trabalharia por pouco tempo nessa instituição prisional sem conseguir localizar seu pai e seria preso no início de 1975.[9]
Com isso, David decide mudar-se para São Paulo, onde não consegue evadir o cerco policial e acaba preso no final de 1975. É nesse período em que Capistrano estabelece na cadeia as relações com o grupo que estaria a seu lado no esforço para reconstruir a seção paulista do PCB.[10]
Aos 28 anos, em 1976, era reconhecido como o principal dirigente do PCB no estado de São Paulo e exerce o cargo de secretário político do comitê estadual do partido até julho de 1983. Durante esse período, Capistrano casa-se duas vezes e tem quatro filhos.
Participação na fundação do PT
Já no início da década de 80, David e seus colaboradores mais próximos, influenciados pelas greves dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo - SP de 1978, começam a discordar dos métodos e orientações do comitê central do PCB, rompendo com o mesmo em 1983, sendo afastado pelo comitê central do partido junto com a maioria da sua cúpula estadual.[10]
Junto dos outros comunistas dissidentes de São Paulo, Davi Capistrano funda o jornal "A Esquerda" e inicia uma virada que culminaria na sua filiação ao Partido dos Trabalhadores em 1986.
Vida política em Santos
Eleito para o diretório regional do PT de São Paulo, dirigiu o Jornal do PT e coordenou a campanha vitoriosa de Telma de Souza para a prefeitura de Santos em 1988. Nesse ano é nomeado secretário da Saúde no governo de Telma e, posteriormente passa a ser chefe de gabinete da prefeita.[11] Antes de integrar o secretariado da Prefeita Telma de Souza havia sido Secretário da Saúde no município de Bauru na gestão de Tuga Angerami, onde foi responsável, por entre outros feitos, zerar a incidência de cáries em crianças abaixo dos 5 anos.[11] Como secretário de Saúde, participou da Intervenção na Casa de Saúde Anchieta, um marco na história da reforma psiquiátrica no Brasil.[12]
Ao término do governo de Telma, é indicado para a sucessão da mesma e se elege prefeito de Santos em segundo turno em 1992, tomando posse em 1993. Uma das marcas da sua gestão foi a atenção dada à saúde mental, com o fim dos manicômios e da criação dos NAPS (Núcleo de Apoio Psicossocial).[11]
Após uma conturbada gestão como prefeito, afasta-se da vida partidária, não possuindo filiação às tendências internas do PT desde 1996 e não sendo reconduzido ao diretório nacional, expondo a forte influência e o sistema de funcionamento partidário petista, marcado pela federação de grupos.[10]
Últimos anos de vida
Divergências públicas entre Capistrano Filho e a ex-Prefeita Telma de Souza contribuíram para a derrota do PT para Beto Mansur nas eleições municipais de 1996.[13] Após deixar a Prefeitura de Santos passou a trabalhar como consultor no Ministério da Saúde.[3][14] Um problema crônico no fígado oriundo de um tratamento para a leucemia dez anos antes o obrigaria a fazer um transplante.[3][14] No entanto mesmo com o êxito do procedimento cirúrgico não conseguiria resistir e viria a morrer de falência múltipla de órgãos em 10 de novembro de 2000 no hospital Sírio-Libanês.[3][14]
Referências
Precedido por Telma de Souza | Prefeito de Santos 1993 — 1996 | Sucedido por Beto Mansur |