Etelberto de Kent

Etelberto (em inglês: Æthelberht, Æthelbert, Aethelberht ou Aethelbert;) foi rei do reino anglo-saxão de Kent de 580-590 até a sua morte. Em sua obra História Eclesiástica do Povo Inglês, o monge Beda lista Etelberto como o terceiro rei a ter um imperium sobre todos os reinos anglo-saxões. Em torno do século IX, na Crônica Anglo-Saxônica, Etelberto é referido como Bretwalda ou Governante da Britânia. Ele foi o primeiro rei inglês a se converter ao cristianismo.

Santo Etelberto de Kent
Etelberto de Kent
Estátua de Etelberto de Kent na Catedral de Rochester
Rei de Kent
Nascimento560
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Morte24 de fevereiro de 616 (56 anos)
Veneração porIgreja Católica
Festa litúrgica25 de fevereiro
Portal dos Santos

História

Foi filho de Eormenric, sucedendo-lhe como rei, de acordo com a crônica. Casou-se com Berta, filha cristã de Cariberto I - rei dos francos,[1][2] construindo uma das mais poderosas alianças da Europa Ocidental naquela época. O casamento ocorreu, provavelmente, logo depois de Etelberto ter assumido o trono.[2]

A influência de Berta deve ter levado o Papa Gregório I a mandar Agostinho como um missionário de Roma. Ele chegou na Ilha de Thanet, leste de Kent, em 597.[3] Logo em seguida, Etelberto se converteu ao cristianismo, igrejas foram construídas e deu início a um grande processo de conversão no reino. O rei providenciou terras para a nova igreja em Cantuária, onde hoje existe a Catedral de Cantuária.[3]

O código de leis de Etelberto para Kent, o mais antigo código de lei em uma língua germânica, institui um complexo sistema de leis. Kent era rico com um forte comércio com o continente e, por conta disso, ele instituiu o primeiro controle Real do comércio. Pela primeira vez desde a invasão anglo-saxã, as moedas começaram a circular em Kent.[4] Essas moedas são conhecidas pelos numismatas como "trimessas".[5]

Posteriormente, Etelberto foi canonizado por ter estabelecido o cristianismo entre os anglo-saxões, assim como a sua esposa e sua filha também foram canonizadas. No calendário de santos, o seu dia é 25 de fevereiro.[6]

Contexto histórico

O estado inglês Anglo-Saxão na época em que Etelberto assumiu o trono de Kent

No século V, a onda migratória de povos do continente para a Grã-Bretanha tomou grandes proporções. Entre os migrantes estavam os jutos, anglos, saxões, frísios e outros grupos. Esses grupos capturaram terras no leste e no sul da atual Inglaterra, mas no final do século V, os povos britânicos (galo-romanos) venceram a Batalha do Monte Badon contra os anglo-saxões, segurando sua invasão pelos próximos 15 anos.[7][8] Porém, no início de 550, os bretões começaram a perder territórios mais uma vez e em 25 anos, todo o sul da Inglaterra estava nas mãos dos invasores.[9]

Kent, aparentemente, parece ter sido conquistado pelos Anglo-Saxões antes da Batalha do Monte Badon. Há evidências tanto arqueológicas, como históricas, de que Kent foi colonizado primeiro pelos Jutos, vindos da região sul da Jutlândia.[10] De acordo com uma lenda, Hengist e Horsa, dois irmãos, chegaram em 449 como mercenários para servir o rei Bretão Vortigerno. Depois da morte de Horsa em uma batalha e seu irmão ter vingado a sua morte, Hengist estabeleceu o Reino de Kent.[11] A maior parte da lenda é considerado pelos historiados como fantasiosa, no entanto a história da rebelião dos mercenários e a data de fundação do reino de Kent (em torno do século V), são dados comprovados historicamente.[12] Essa data antiga é algumas décadas depois da partida dos romanos da ilha, o que sugere que muito da civilização romana poderia ter sobrevivido no governo Anglo-Saxão de Kent (mais do que em outras áreas da ilha).[13]

A invasão anglo-saxã deve ter envolvido a coordenação militar de diferentes grupos de invasores, com um líder que possuía autoridade sobre todos eles e Ælle de Sussex pode ter sido o tal líder.[14] Uma vez que os novos estados começaram a se formar, os conflitos entre eles começaram e o domínio sobre outras nações poderia levar ao pagamento de tributos.[15] Um estado mais fraco poderia pedir a proteção de outro mais forte, contra uma possível guerra com um terceiro estado.[16] Um rei com um grande poder sobre os outros, pode ter sido o ponto principal da política Anglo-Saxã. É fato que esse poder centralizado em uma pessoa começou antes de Etelberto, mas os detalhes são desconhecidos e reis são descritos como soberanos supremos antes do século IX.

Fontes sobre esse período da história de Kent incluem a História Eclesiástica do Povo Inglês, escrita em 731 por Beda (um monge da Nortúmbria). Beda estava interessado na cristianização da Inglaterra, mas desde que Etelberto se tornou o primeiro rei anglo-saxão a se converter ao cristianismo, Beda garantiu mais informações substanciais sobre ele do que de reis antepassados. Um dos correspondentes de Beda foi Albino, que era o abade do monastério de São Pedro e São Paulo (subsequentemente renomeado como Catedral de Cantuária) em Cantuária. Outro documento importante é a Crônica Anglo-Saxônica, uma coleção de anais produzidos em 890 no reino de Wessex, que menciona vários eventos em Kent durante o reinado de Æthelberht.[17] Somando a isso, há uma história dos Francos escrita no século VI por Gregório de Tours que menciona alguns eventos em Kent. Essas são as mais antigas fontes que sobreviveram e que mencionam o reino dos anglo-saxões.[3] Algumas cartas do Papa Gregório I que sobreviveram, relatam sobre a missão de Agostinho em 597. Essas cartas possuem informações detalhadas de sua missão, mas também podem ser usadas para concluir alguns fatos em relação ao estado de Kent e sua relação com os vizinhos. Outras fontes incluem a lista dos reis de Kent e antigos foros. Os Foros são documentos que garantiam a possessão de terras que o rei passava para os seus seguidores ou para a igreja. Eles possuem algumas das informações mais antigas da Inglaterra. Nenhum documento original do governo de Etelberto sobreviveu, mas foram feitas cópias posteriormente.[17]

Morte e sucessão

Etelberto morreu em 24 de fevereiro de 616 e foi sucedido por seu filho, Eadbaldo, que era cristão - Beda diz que ele tinha se convertido, mas retornou à fé pagã,[18] embora no final tenha de fato se tornado um rei cristão.[19] Eadbaldo enfureceu a Igreja ao se casar com sua madrasta, o que era contrário à lei canônica, e por se recusar a aceitar o batismo.[20]

Seberto de Essex também morreu aproximadamente na mesma época e foi sucedido por seus três filhos, nenhum deles cristão. Uma revolta subsequente contra o cristianismo e a expulsão de Melito, seu bispo, pode ter sido uma reação à soberania de Kent após a morte de Etelberto tanto quanto uma oposição ao cristianismo.[21]

Além de Eadbaldo, é possível que Etelberto tenha tido outro filho, Etelvaldo (Æthelwald). A evidência disto aparece em cartas papais para Justo, arcebispo de Cantuária entre 619 e 625, na qual um rei chamado Adulualdo é referido e que, aparentemente, é diferente de "Audubaldo", que é como chamavam Eadbaldo. Não há acordo entre os acadêmicos modernos sobre como interpretar o tema: "Adulualdo" pode ter sido uma forma de representar "Etelvaldo" e, assim, pode ser uma indicação de um outro rei, talvez um sub-rei de Kent Ocidental[22] ou pode ser meramente um erro do escriba e deve ser entendido como se referindo a Eadbaldo.[23]

Devoção

Etelberto foi posteriormente canonizado por seu papel na conversão ao cristianismo dos anglo-saxões. Sua festa litúrgica era comemorada originalmente no dia 24 de fevereiro, mas foi alterada para o dia seguinte.[24]

Na edição de 2004 do Martirológio Romano, ele está listado sob a data de sua morte, 24 de fevereiro, com a citação:

Rei de Kent, convertido por Santo Agostinho, bispo, o primeiro líder do povo inglês a sê-lo'[25]

A arquidiocese católica de Southwark, que abarca a região de Kent, comemora-o no dia 25 de fevereiro.[6]

Ver também

Referências

Ligações externas

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