Grande Prêmio da Alemanha de 1988

Resultados do Grande Prêmio da Alemanha de Fórmula 1 realizado em Hockenheim em 24 de julho de 1988. Nona etapa do campeonato, foi vencido pelo brasileiro Ayrton Senna, que subiu ao pódio junto a Alain Prost numa dobradinha da McLaren-Honda, com Gerhard Berger em terceiro pela Ferrari.[2][3]

Grande Prêmio da Alemanha
de Fórmula 1 de 1988

12º GP da Alemanha em Hockenheim
Detalhes da corrida
CategoriaFórmula 1
Data24 de julho de 1988
Nome oficialL Grosser Mobil 1 Preis von Deutschland[1]
LocalHockenheimring, Hockenheim, Rhein-Neckar-Kreis, Karlsruhe, Baden-Württemberg, Alemanha Ocidental
Percurso6.797 km
Total44 voltas / 299.068 km
Condições do tempoÚmido e fresco
Pole
Piloto
Brasil Ayrton SennaMcLaren-Honda
Tempo1:44.596
Volta mais rápida
Piloto
Itália Alessandro NanniniBenetton-Ford
Tempo2:03.032 (na volta 40)
Pódio
Primeiro
Brasil Ayrton SennaMcLaren-Honda
Segundo
França Alain ProstMcLaren-Honda
Terceiro
Áustria Gerhard BergerFerrari

Resumo

Humores internos na McLaren

Graças a uma combinação entre a velocidade de suas retas e a baixa velocidade nas curvas, o circuito alemão de Hockenheim ajusta-se como uma luva às características da McLaren potencializando o excelente momento vivido por seus pilotos, os quais tiveram tempo para uma conversa amistosa nos boxes antes dos treinos.[4] Embora as coisas pareçam fáceis para a equipe alvirrubra, para que o favoritismo teórico seja confirmado na pista, seus engenheiros precisam conciliar o mínimo de arrasto nas retas com o máximo de pressão aerodinâmica nos trechos sinuosos do traçado.

O bate-papo entre os pilotos da McLaren indicava uma atmosfera cordial entre os dois, mas foi antecedida por certa aspereza quando o brasileiro respondeu às críticas de seu companheiro de equipe, segundo as quais Ayrton Senna assume riscos em excesso na luta pela vitória, algo que Alain Prost, com dois títulos mundiais nas costas, prefere evitar. "Essa história de que corro riscos excessivos já está indo longe demais. Você sabe quando um cara está correndo riscos demais pelo número de batidas que ele dá, e eu bato muito pouco, tão pouco quanto qualquer outro aqui",[5] afirmou o vice-líder do certame em resposta ao fel dos críticos defendendo, especialmente, as circunstâncias de sua vitória no Grande Prêmio da Grã-Bretanha, onde Prost foi relegado a retardatário antes de abandonar a corrida e, devido ao spay intenso causado pela chuva, quase bateu na outra McLaren nas cercanias da Woodcote quando Senna superou a Ferrari de Gerhard Berger e assumiu a liderança.[6]

Nos treinos de sexta-feira a McLaren fez o melhor tempo com Ayrton Senna e capturou o segundo lugar com Alain Prost, que tinha atrás de si os carros de Gerhard Berger e Michele Alboreto, pilotos da Ferrari. No entanto, as longas retas do circuito tornam a vantagem de largar em primeiro algo relativo, quase honorífico, mas a diferença abissal de um segundo e meio da McLaren sobre a Ferrari evidencia o aprumo do time britânico.[7]

Os 10 anos de Nelson Piquet

Em 30 de julho de 1978 o Grande Prêmio da Alemanha foi palco da estreia de Nelson Piquet na Fórmula 1 como piloto da Ensign.[8] Na equipe comandada por Morris Nunn, o brasileiro largou em vigésimo primeiro e abandonou na volta 32 por quebra de motor.[9] Nas três etapas seguintes o piloto correu numa McLaren pertencente à BS Fabrications antes de ser contratado por Bernie Ecclestone, dono da Brabham,[10] Por esta equipe o brasileiro conquistou dois títulos mundiais antes de estrear pela Williams no Grande Prêmio do Brasil de 1986,[11] sagrando-se tricampeão mundial pela equipe de Grove no Grande Prêmio do Japão de 1987.[12] Contratado para substituir Ayrton Senna na Lotus, exibiu apenas bruxuleios de competitividade, não obstante o seu reconhecido talento ao volante numa carreira superlativaː 24 pole positions, 20 vitórias conquistadas ao longo de 150 corridas disputadas em dez anos, número alcançado no Grande Prêmio da Alemanha de 1988.[13]

Mesmo diante de resultados tão esparsos, o tricampeão recorreu ao bom-humor para retratar seu desempenho citando uma cena digna de desenho animado. "O que vocês querem que eu faça? Que bata com a cabeça na parede porque o carro não vem andando pra frente?",[14] disse ele antes de comentar seus dez anos de Fórmula 1 num bate-papo com os jornalistasː "É tempo à beça, não é mesmo?". Em sinal de homenagem às bodas de estanho do piloto brasileiro, as arquibancadas de Hockenheim foram cobertas por faixas e bandeiras em verde e amarelo na véspera da corrida.[15] Quanto ao futuro, Nelson Piquet tem a Lotus como única opção para continuar na Fórmula 1, pois desde a etapa britânica a Williams anunciou a contratação do belga Thierry Boutsen[16] derrubando o vaticínio de Jackie Stewart segundo o qual Piquet retornaria para o time de Grove em 1989.[17][18]

Chove de novo e Senna vence

Quando marcou o melhor tempo na sexta-feira, Ayrton Senna temia o elevado consumo de combustível e o desgaste dos pneus como ameaças às suas chances de vitória, contudo sua pole provisória converteu-se em definitiva no dia seguinte quando o calor de 30ªC tornou a pista mais escorregadia com resultados diversosː os quatro primeiros colocados no grid mantiveram-se nas posições que ocupavam enquanto Nelson Piquet e Alessandro Nanini não avançaram do quinto e sexto lugares embora tenham marcado tempos mais baixos em relação à véspera. Em sétimo lugar estava a March de Ivan Capelli, uma posição adiante de Satoru Nakajima, cuja Lotus foi também melhorou seu tempo em relação ao ocorrido na sexta-feira.[19][20]

Entre a manhã de domingo e a hora da largada a chuva fez pilotos e equipes reavaliarem suas opções num vai e vem de ideias onde quase todos os pilotos resolveram utilizar pneus de chuva e todos, paradoxalmente, mantiveram os carros ajustados para pista seca, ou sejaː menos aerofólio, suspensão normal e freios de carbono, pois caso a pista secasse, as equipes não perderiam tempo regulando os carros.[21] Embora possível, tal combinação tornava os bólidos mais ariscos por falta de ajustes na suspensão, enquanto as tomadas de ar com "fluxo máximo" impedem o aquecimento e o funcionamento ideal dos freios e assim o peso da máquina torna-se excessivo desgastando os pneus de chuva, delgados por natureza.[22]

Ayrton Senna fez bom uso da pole position e manteve-se na liderança após a largada enquanto Gerhard Berger e Alessandro Nanini deixaram Alain Prost na quarta posição, mas nenhum prejuízo foi maior que o sofrido por Nelson Piquet, cujos pneus slicks o fizeram sair da pista quando sua Lotus aquaplanou à altura da segunda chicane e bateu na barreira de pneus que margeia o circuito.[23] Embora tenha retornado aos boxes após girar em 360 graus na pista, encerrou ali sua participação na etapa alemã devido aos estragos na carenagem e no sistema de embreagem de seu carro.[24] Aproveitando a pista livre, Senna manteve-se na frente de Berger abrindo uma vantagem paulatina sobre o austríaco enquanto Prost valeu-se do potente motor Honda para ultrapassar a Benetton de Alessandro Nanini na sétima volta assumindo o terceiro lugar. Senna contou com a sorte ao não ser atingido por Philippe Alliot na décima volta quando o francês da Lola perdeu o controle do carro ao ser ultrapassado pela McLaren do brasileiro.[25] Dois giros mais tarde, Alain Prost deixou para trás a Ferrari de Berger para chegar à vice-liderança da corrida.[21][23]

Forçar o ritmo para alcançar Ayrton Senna ou induzi-lo a um erro foi a tática adotada por Alain Prost que reduziu de quatorze para dez segundos sua desvantagem em relação ao líder, cujo carro "balançava" na hora de frear.[26][21] Na trigésima terceira volta, a Zakspeed do retardatário Piercarlo Ghinzani espremeu Gerhard Berger e por consequência o austríaco pôs duas rodas de sua Ferrari para fora da pista, no entanto, o ferrarista saiu ileso e ultrapassou Ghinzani,[23] que desculpou-se ao final da corrida pela manobra imprópria. De volta ao duelo dos líderes, a volição de Prost diminuia à mesma proporção que Senna mantinha a concentração. Aliás, o bicampeão mundial rodou na volta trinta e cinco ao aproximar-se da segunda chicane da pista numa velocidade maior que a recomendada e embora tenha seguido na prova, o francês não incomodou Senna pelo resto da corrida.[23]

Ayrton Senna, Alain Prost e Gerhard Berger seguiram ponteando a corrida à frente daqueles que comporiam a zona de pontuação, grupo dos quais o italiano Alessandro Nannini foi removido quando estava em quarto lugar devido a uma falha mecânica em sua Benetton a sete voltas para o fim da porfia. Relegado ao último lugar, Nanini terminou a quatro giros do vencedor, embora tenha marcado a melhor volta da corrida na volta 40, algo inédito em sua carreira.[27] Encerrada a disputa, a McLaren comemorou a quinta vitória de Senna em 1988, assinalando o nono triunfo consecutivo do time de Ron Dennis na Fórmula 1.[nota 1] Ao subir no topo do pódio, Ayrton Senna foi acompanhado por Alain Prost e Gerhard Berger,[20] enquanto Michele Alboreto foi o quarto com a outra Ferrari, Ivan Capelli cruzou em quinto com a March e Thierry Boutsen em sexto pela Benetton.[20]

Mesmo liderando o mundial de pilotos com 60 pontos, Alain Prost estava próximo de Ayrton Senna, este com 57 pontos na classificação e uma vitória a mais em relação ao companheiro de equipe. Tais números solidificam a McLaren no topo do mundial de construtores com 117 pontos.[1] Em teoria Gerhard Berger e a Ferrari ainda têm chances de título, mas na prática os rumos do certame indicam a consagração da McLaren ao final do ano, restando saber qual dos pilotos será campeão do mundo.

Classificação

Pré-classificação

Pos.PilotoConstrutorTempoDif.
121 Nicola LariniOsella1:52.321
236 Alex CaffiDallara-Ford1:53.031+ 0.710
332 Oscar LarrauriEuroBrun-Ford1:54.184+ 1.863
433 Stefano ModenaEuroBrun-Ford1:54.317+ 1.996
DNPQ31 Gabriele TarquiniColoni-Ford1:54.358+ 2.037

Treinos classificatórios

Pos.PilotoConstrutorQ1Q2Grid
112 Ayrton SennaMcLaren-Honda1:44.5961:50.002
211 Alain ProstMcLaren-Honda1:44.8731:45.868+ 0.277
328 Gerhard BergerFerrari1:46.1151:46.431+ 1.519
427 Michele AlboretoFerrari1:47.1541:47.418+ 2.558
51 Nelson PiquetLotus-Honda1:47.7021:47.681+ 3.085
619 Alessandro NanniniBenetton-Ford1:48.2231:48.208+ 3.612
716 Ivan CapelliMarch-Judd1:48.7031:49.750+ 4.107
82 Satoru NakajimaLotus-Honda1:49.3591:48.781+ 4.185
920 Thierry BoutsenBenetton-Ford1:48.8371:49.966+ 4.241
1015 Maurício GugelminMarch-Judd1:49.5111:49.645+ 4.915
115 Nigel MansellWilliams-Judd1:49.8501:50.673+ 5.254
1217 Derek WarwickArrows-Megatron1:50.4591:50.770+ 5.863
136 Riccardo PatreseWilliams-Judd1:51.1051:50.719+ 6.213
1422 Andrea de CesarisRial-Ford1:51.0041:51.859+ 6.408
1518 Eddie CheeverArrows-Megatron1:51.3851:51.171+ 6.575
1614 Philippe StreiffAGS-Ford1:52.3481:51.642+ 7.046
1725 René ArnouxLigier-Judd1:54.1391:52.080+ 7.484
1821 Nicola LariniOsella1:52.2031:52.168+ 7.572
1936 Alex CaffiDallara-Ford1:52.4691:52.277+ 7.681
2030 Philippe AlliotLola-Ford1:52.2931:52.629+ 7.697
2129 Yannick DalmasLola-Ford1:52.7951:52.436+ 7.840
2210 Bernd SchneiderZakspeed1:52.6961:52.664+ 8.068
239 Piercarlo GhinzaniZakspeed1:52.6741:57.241+ 8.078
243 Jonathan PalmerTyrrell-Ford1:53.2381:52.908+ 8.312
2533 Stefano ModenaEuroBrun-Ford1:52.9981:53.904+ 8.402
2632 Oscar LarrauriEuroBrun-Ford1:53.8321:53.043+ 8.447
DNQ24 Luis Pérez-SalaMinardi-Ford1:53.3561:53.673+ 8.760
DNQ26 Stefan JohanssonLigier-Judd1:54.7171:53.507+ 8.911
DNQ4 Julian BaileyTyrrell-Ford1:53.6741:53.576+ 8.980
DNQ23 Pierluigi MartiniMinardi-Ford1:53.7201:53.673+ 9.077
DNPQ31 Gabriele TarquiniColoni-Ford
Fonte:[2]

Corrida

Pos.PilotoConstrutorVoltasTempo/DiferençaGridPontos
112 Ayrton SennaMcLaren-Honda441:32:54.18819
211 Alain ProstMcLaren-Honda44+ 13.60926
328 Gerhard BergerFerrari44+ 52.09534
427 Michele AlboretoFerrari44+ 1:40.91243
516 Ivan CapelliMarch-Judd44+ 1:49.60672
620 Thierry BoutsenBenetton-Ford43+ 1 volta91
717 Derek WarwickArrows-Megatron43+ 1 volta12
815 Maurício GugelminMarch-Judd43+ 1 volta10
92 Satoru NakajimaLotus-Honda43+ 1 volta8
1018 Eddie CheeverArrows-Megatron43+ 1 volta15
113 Jonathan PalmerTyrrell-Ford43+ 1 volta24
1210 Bernd SchneiderZakspeed43+ 1 volta22
1322 Andrea de CesarisRial-Ford42+ 2 voltas14
149 Piercarlo GhinzaniZakspeed42+ 2 voltas23
1536 Alex CaffiDallara-Ford42+ 2 voltas19
1632 Oscar LarrauriEuroBrun-Ford42+ 2 voltas26
1725 René ArnouxLigier-Judd41+ 3 voltas17
1819 Alessandro NanniniBenetton-Ford40+ 4 voltas6
1929 Yannick DalmasLola-Ford39Embreagem21
Ret14 Philippe StreiffAGS-Ford38Regulador de pressão16
Ret6 Riccardo PatreseWilliams-Judd34Rodada13
Ret21 Nicola LariniOsella27Ignição eletrônica18
Ret5 Nigel MansellWilliams-Judd16Rodada11
Ret33 Stefano ModenaEuroBrun-Ford15Motor25
Ret30 Philippe AlliotLola-Ford8Rodada20
Ret1 Nelson PiquetLotus-Honda1Rodada5
DNQ24 Luis Pérez-SalaMinardi-Ford
DNQ26 Stefan JohanssonLigier-Judd
DNQ4 Julian BaileyTyrrell-Ford
DNQ23 Pierluigi MartiniMinardi-Ford
DNPQ31 Gabriele TarquiniColoni-Ford
Fonte:[2][nota 2]

Tabela do campeonato após a corrida

Classificação do mundial de construtores
Pos.EquipePontos
1 McLaren-Honda117
2 Ferrari41
3 Benetton-Ford18
4 Lotus-Honda16
5 Arrows-Megatron10
Fonte:[1]

  • Nota: Somente as primeiras cinco posições estão listadas. Entre 1981 e 1990 cada piloto podia computar onze resultados válidos por temporada não havendo descartes no mundial de construtores.

Notas

Referências


Precedido por
Grande Prêmio da Grã-Bretanha de 1988
Campeonato Mundial de Fórmula 1 da FIA
Ano de 1988
Sucedido por
Grande Prêmio da Hungria de 1988
Precedido por
Grande Prêmio da Alemanha de 1987
Grande Prêmio da Alemanha
50ª edição
Sucedido por
Grande Prêmio da Alemanha de 1989