Igreja Nova (Constantinopla)

Igreja Nova (em grego: Νέα Ἐκκλησία; romaniz.:Nea Ekklesia) foi um igreja construída pelo imperador bizantino Basílio I, o Macedônio  (r. 867–886) em Constantinopla entre os anos de 876 e 880. Ela foi a primeira igreja monumental construída na capital bizantina depois de Santa Sofia no século VI e marca o início do período intermediário da arquitetura bizantina. Ela continuou em uso durante todo o período paleólogo. Utilizada como depósito de pólvora pelos conquistadores otomanos, foi destruída em 1490 após ter sido atingida por um relâmpago. Embora não tenha sobrevivido, muito se sabe, à exceção de sua estrutura precisa, acerca da Igreja Nova principalmente devido as menções feitas em obras bizantinas como a Vida de Basílio (Vita Basilii) bem como em mapas do período. Ricamente decorada, foi o local onde algumas relíquias cristãs foram depositadas dentre elas aquelas de Constantino.

Igreja Nova
Tipo
Estilo dominanteBizantino
Fim da construção880
ReligiãoIgreja Ortodoxa (880–1453)
Ano de consagração1 de maio de 880
Estado de conservação
  • demolido
Geografia
País Turquia
Coordenadas41° 0' 13" N 28° 58' 39" E

História

Mapa do distrito do Grande Palácio. A localização aproximada da Igreja Nova está marcada no canto sudeste.
Soldo do imperador Basílio I, o Macedônio  (r. 867–886).

O imperador Basílio I foi o fundador da dinastia macedônica, a mais poderosa na história bizantina. Ele se considerava um restaurador do império, um novo Justiniano I, e iniciou um grande programa de obras públicas em Constantinopla, emulando seu grande predecessor. A Igreja Nova era a Santa Sofia de Basílio, com o próprio nome implicando o começo de uma nova era.[1] A igreja foi construída sob a supervisão pessoal de Basílio[2][3] no canto sudeste do complexo do Grande Palácio,[4] próximo da antigo Tzicanistério (campo de pólo). Basílio construiu outra igreja nas proximidades, a "Virgem do Farol". A Igreja Nova foi consagrada em 1 de maio de 880 pelo patriarca Fócio e dedicada a Jesus Cristo, ao arcanjo Miguel (em fontes posteriores, Gabriel), ao profeta Elias (um dos santos favoritos de Basílio), à Virgem Maria e a São Nicolau.[2][5]

É uma importante indicação das intenções de Basílio para com sua nova igreja que ele a proveu com suas próprias terras e com uma administração autónoma, nos mesmos moldes de Santa Sofia. Durante o seu reinado e no de seu sucessor, a Igreja Nova teve um importante papel nas cerimonias palacianas[6] e, pelo menos até ao reinado de Constantino VII Porfirogênito (c. 913–959), o aniversário de sua consagração era uma importante festa dinástica.[7] Em algum ponto do século XI ela foi convertida num mosteiro e passou a ser conhecida como "Novo Mosteiro" (em grego: Νέα Μονή).[4] O imperador Isaac II Ângelo (c. 1185-1195; 1203-1204) retirou muito de sua decoração, móveis e vasos litúrgicos[8] e utilizou-os para restaurar a Igreja de São Miguel em Anáplo.[9] O edifício continuou a ser utilizados pelos latinos e sobreviveu ao período paleólogo até a conquista otomana da cidade. Os conquistadores, porém, utilizaram a igreja como depósito de pólvora e, assim, em 1490, quando o edifício foi atingido por um raio, foi destruído e, em seguida, demolido.[4] Por isso, as únicas fontes de informação que temos sobre o edifício são literárias, especialmente a obra do século X "Vida de Basílio", e algumas representações muito primitivas em mapas.[1]

Descrição

Como já foi dito, não se sabe muito sobre os detalhes da estrutura. A igreja foi construída com cinco cúpulas: a central era dedicada a Cristo enquanto que as quatro menores abrigavam capelas para os outros quatro santos a quem a igreja fora dedicada. O exato arranjo das cúpulas e mesmo o tipo de igreja são temas de disputa.[10] Muitos acadêmicos consideram que ela tinha uma estrutura em cruz grega,[11] similar a do Mireleu e da igreja do Mosteiro de Lips (atualmente a Mesquita de Fenari Issa). De fato, o uso disseminado deste desenho por todo o mundo ortodoxo, dos Bálcãs à Rússia, é atribuído ao prestígio desta importante igreja imperial.[12]

A Igreja Nova foi a maior e mais importante obra do programa de Basílio e ele não poupou despesas para decorá-la de forma mais luxuosa possível: outras igrejas e estruturas da capital, inclusive o mausoléu de Justiniano I, foram limpos por conta disto[12] e a marinha bizantina, empregada para transportar o mármore requerido, deixou a Siracusa, na Sicília, desprotegida e ela acabou caindo frente aos Aglábidas.[13] O neto de Basílio, o imperador Constantino VII Porfirogênito, dá a seguinte descrição da decoração da igreja em sua laudatória écfrase:[14]

Esta igreja, como uma noiva adornada com pérolas e ouro, com prata brilhante, com uma variedade de mármores de todas as cores, com composições de tésseras em mosaico, e roupas de seda, ele [Basílio] ofereceu a Cristo o noivado imortal. Seu teto, composto por cinco cúpulas, brilha com o ouro e resplandece com belas imagens e com estrelas, enquanto que no exterior, é adornado com latão que parece ouro. As paredes de cada lado são embelezadas com caros mármores de muitas cores, enquanto que o santuário é enriquecido com ouro e prata, pedras preciosas e pérolas. A barreira que separa o santuário da nave, incluindo suas colunas e os linteis sobre elas; os bancos que estão ali e os degraus a frente, e as mesas sagradas em si - todos são de prata e ouro, de pedras preciosas e de caras pérolas. Já sobre o piso, ele parece ser coberto com tecidos de seda de Sídon; por toda parte ele foi adornado com pranchas de mármore de cores diferentes circundadas por tiras em mosaico de vários formatos, tudo junto com grande precisão e sobrando em elegância.

O átrio da igreja estava à frente da entrada oeste com duas fontes de mármore e pórfiro. Dois pórticos ladeavam os lados leste e oeste da igreja até o Tzicanistério e, do lado voltado para o mar (sul), um tesouro e uma sacristia foram construídos. A oeste do complexo da igreja estava um jardim conhecido como mesocépio (mesokēpion; "jardim do meio").[15]

Relíquias

Juntamente com o oratório de Santo Estêvão no Palácio de Dafne e a Igreja da Virgem do Farol, a Igreja Nova era o principal local de abrigo das santas relíquias no Grande Palácio.[16] Entre elas estavam o manto de pele de cordeiro de Elias, a mesa de Abraão, na qual ele recebeu três anjos, o chifre que o profeta Samuel utilizou para ungir David e as relíquias de Constantino. Após o século X, mais relíquias foram aparentemente transladadas para lá a partir de outros locais, incluindo a "vara de Moisés" que estava no Crisotriclino.[17]

Referências

  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Nea Ekklesia», especificamente desta versão.

Bibliografia