Miguel Bombarda

psiquiatra e político republicano português
 Nota: Se procura a rua homónima, no Porto, veja Rua de Miguel Bombarda.

Miguel Augusto Bombarda (Rio de Janeiro, 6 de Março de 1851Lisboa, 3 de Outubro de 1910) foi um médico, cientista, professor e político republicano português, figura cimeira na sua época.

Miguel Bombarda
Miguel Bombarda
Membro da Câmara dos Deputados por Aveiro
Período30 de abril 1908 a
3 de outubro de 1910
Dados pessoais
Nome completoMiguel Augusto Bombarda
Nascimento6 de março de 1851
Rio de Janeiro, Império do Brasil
Morte3 de outubro de 1910 (59 anos)
Lisboa, Reino de Portugal
ProfissãoMédico, professor, político
AssinaturaAssinatura de Miguel Bombarda

Biografia

Nascimento e formação

Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1851, então capital do Império do Brasil.[1] Formou-se na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, tendo defendido uma tese sobre o "Delírio das Perseguições".[1]

Carreira profissional

Empregou-se como lente naquela instituição em 1880,[1] onde ocupou, por largos anos, a cadeira de Fisiologia e Histologia; em 1903, passou para a cadeira de Fisiologia Geral e Histologia.[1] Nestas funções, deu um importante contributo para a reforma dos estudos médicos.[1][2] Colaborou, igualmente, com esta instituição, tendo contribuído para a construção do seu edifício, e para a aquisição de material científico.[1]

Dedicou-se, especialmente, às enfermidades do sistema nervoso, tendo, por este motivo, sido convidado para dirigir o Hospital de Rilhafoles,[3] posição que começou a ocupar em 1892;[1] reorganizou e melhorou esta instituição, tendo iniciado um curso livre de psiquiatria em 1896,[3] e promovido o alargamento do Hospital, com a construção de notáveis edifícios: Pavilhão de Segurança (1892-1896) (precursor do modernismo e panóptico), Edifício de Enfermarias em Poste Telefónico (1885-1894) (primeiro edifício do mundo com esta tipologia), Edifício de Enfermarias em U (1900) (lajes em betão armado e sistema de ventilação inédito), dois enormes Telheiros (1894) para o passeio dos homens e das mulheres, Oficinas para Doentes (1894), nova Cozinha (1904), etc.[4]

Aí exerceu igualmente as funções de cirurgião hospitalar, e ao reorganizar a sua gestão acabou por o dirigir, desde 1892.[1] Foi, igualmente, médico no Hospital de São José.[1]

Fez parte de várias instituições nacionais e estrangeiras, como o Conselho Superior de Higiene, a Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, da qual foi presidente, e o Conselho de Medicina Legal; também exerceu a posição de secretário geral da Liga Nacional contra a Tuberculose, tendo organizado vários congressos.[1] Presidiu, igualmente, à Academia Real das Ciências Médicas de Lisboa.[1] Nas funções de secretário-geral, foi responsável por organizar o XV Congresso Internacional de Medicina, que se realizou na cidade de Lisboa, em 1906.[1]

Publicou várias dezenas de volumes e cerca de meio milhar de ensaios, a debruçar-se sobre os problemas clínicos terapêuticos e sanitários,[1] e sobre a Psiquiatria.[3] Defensor do anticlericalismo e do monismo naturalista e materialista, provocou polémica quando editou o livro, A Consciência e o Livre Arbítrio, em 1897, e realizou várias conferências, como a Ciência e Jesuitismo, e a Réplica a Um Padre Sábio.[5]

Miguel Bombarda em 1907.

Fundou, junto com Sousa Martins e Manuel Bento de Sousa, o jornal Medicina Contemporânea; dirigiu este periódico até à sua morte, e colaborou frequentemente, tendo publicado vários artigos sobre as ciências médicas.[1] Também colaborou na revista Brasil-Portugal.[6] (1899-1914)

Carreira política e morte

Iniciou a sua carreira na política em 1908, como deputado adjudicado a Francisco Joaquim Ferreira do Amaral, então Presidente do Conselho; de tendências liberais e anticlericais, declarou-se abertamente como republicano, e dirigiu o Comité Civil do movimento para derrubar a Monarquia.[3] No entanto, na véspera do início, a 4 de Outubro, da Revolução Republicana em Portugal, vitoriosa no dia 5 de Outubro de 1910, foi assassinado no seu gabinete do Hospital de Rilhafoles, por um doente mental,[3] Aparício Rebelo dos Santos, nascido em Braga a 5 de Julho de 1878.[7]

Fundou, em 1901, a Junta Liberal, e foi um membro do Comité Revolucionário, em 1909.[3]

Fez também parte da Maçonaria, sendo iniciado em 1879 na Loja Pureza, com o nome simbólico de "D'Artagnan".[8]

Atualmente, o Museu Miguel Bombarda de Arte de Doentes e Ciência, instalado no antigo Hospital, integra o gabinete onde o Prof. Bombarda foi assassinado, bem como outros locais notáveis, e extenso acervo e arquivo, da primeira instituição psiquiátrica do país, fundada em 1848.

Obra

Deixou publicados vários escritos, entre os quais:[2]

  • Do Delírio das Perseguições (Tese) (1877)
  • Dos Hemisférios Cerebrais e Suas Funções Psíquicas (1877)
  • Das Distrofias por Lesão Nervosa (1880)
  • A Vacina da Raiva (1887)
  • Traços de Fisiologia Geral e de Anatomia dos Tecidos (1891)
  • Microcefalia (Conferência) (1892)
  • Trabalhos Clínicos e de Laboratório do Hospital de Rilhafoles - Contribuição para o Estuda dos Microcéfalos (1894)
  • O Hospital de Rilhafoles e os seus Serviços em 1892-1893 (1894)
  • Pasteur (1895)
  • Lições sobre a Epilepsia e as Pseudo-Epilepsias (1896)
  • O Delírio do Ciúme (1896)
  • Consciência e Livre Arbítrio (1896)
   A Sciencia e o Jesuitismo (1900),Parceria António Maria Pereira

Foi o fundador da revista Medicina contemporânea. Foi o secretário-geral do "XVI Congresso Internacional de Medicina e Cirurgia" que se reuniu em Lisboa em 1906.

Homenagens

Uma das mais antigas ruas do Seixal denomina-se justamente de Dr. Miguel Bombarda, desde a implantação da república, que nesta cidade aconteceu a 4 de outubro de 1910. O mesmo nome é dado à rua principal do Barreiro.

Hoje, em Lisboa, o hospital que ele dirigiu presta-lhe homenagem ao ter recebido o seu nome para o baptizar de novo — Hospital Miguel Bombarda — e tem uma avenida também com o seu nome.

A Câmara Municipal de Lagos colocou o seu nome numa rua da Freguesia de Santa Maria.[3][9]

Também em Campo Maior (Portugal) existe uma rua denominada Dr. Miguel Bombarda.

Referências

Bibliografia

  • FERRO, Silvestre Marchão (2002). Vultos na Toponímia de Lagos. Lagos: Câmara Municipal de Lagos. 358 páginas. ISBN 972-8773-00-5 
  • FREIRE, Vítor Albuquerque, Panóptico, Vanguardista e Ignorado. O Pavilhão de Segurança do Hospital Miguel Bombarda, Livros Horizonte, 2009.
  • Centenário do Hospital Miguel Bombarda antigo Hospital de Rilhafoles. (vários autores). 1948.