NKVD

NKVD (russo: НКВД, Народный комиссариат внутренних дел, translit. Narodniy Komissariat Vnutrennikh Diel; em português: Comissariado do Povo de Assuntos Internos, foi o Ministério do Interior da União Soviética.Criado em 1934, o NKVD incorporou o GPU ou OGPU (Obiedinionnoye Gosudarstvennoye Politicheskoye Upravlenie, "Diretório Político Unificado do Estado"), transformado em GUGB (ГУГБ, Главное управление государственной безопасности, translit. Glavnoe upravlenie gosudarstvennoy bezopasnosti; em português: Administração Central da Segurança do Estado) e foi substituído pelo Ministerstvo vnoutrennikh diel (MVD), o Ministério do Interior.

Comissariado do Povo de Assuntos Internos
Народный комиссариат внутренних дел - НКВД
Narodniy Komissariat Vnutrennikh Diel - NKVD

Emblema do NKVD.
Antecessor:OGPU
Criação:10 de julho de 1934
Encerramento:15 de março de 1946
Sede:Lubianka, Moscou, RSFSR, URSS
Diretor(es):Genrikh Yagoda (1934–1936)
Nikolai Yezhov (1936–1938)
Lavrentiy Beria (1938-1945)
Serguei Kruglov (1945-1946)
Subordinada ao:Conselho do Comissariado do Povo da União Soviética
Sucessor:Ministério de Assuntos Internos da URSS
Comissariado do Povo para a Segurança do Estado
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Além de funções policiais e de segurança tradicionalmente atribuídas ao Ministério do Interior, como o controle de tráfego, corpo de bombeiros e a guarda das fronteiras, cabia ao NKVD controlar a economia e o serviço secreto, prestando contas ao Conselho de Comissários do Povo (órgão principal do governo soviético) e ao Comitê Central do Partido Comunista de Toda a União (bolchevique).

No âmbito do NKVD estabeleceu-se o Gulag (ГУЛАГ, Главное управление лагерей, translit. Glavnoie upravlenie lagerei; Português: "Administração Central dos Campos"), órgão responsável pelo sistema de campos penais de trabalho.

Em 1946, todos os comissariados do povo passaram a se chamar "ministérios". O NKVD tornou-se o Ministério do Interior (MVD), enquanto o Comissariado do povo para a segurança do Estado (NKGB) transformou-se no Ministério da Segurança do Estado (MGB). Em 1953, após a prisão de Lavrenty Beria, o MGB fundiu-se com o MVD. Em 1954, os serviços de polícia e de segurança do Estado novamente se separaram. O Ministério do Interior da URSS (MVD) ficou com as funções de ordem e segurança interna (polícia e sistema penitenciário), enquanto a recém criada Comissão para a Segurança do Estado KGB, assumiu as funções de segurança do Estado, a saber: polícia política, inteligência, contrainteligência, proteção pessoal de autoridades e comunicações confidenciais.

Atividades do NKVD

Entre as funções do NKVD, por meio de sua divisão chamada GUGB, estava proteger a segurança do Estado soviético. Esta função foi realizada com sucesso através da intensa repressão política na URSS.

As atividades de repressão e as execuções do NKVD tiveram como alvo desde os inimigos do Estado soviético até os prisioneiros do sistema Gulag, atingindo centenas de milhares de pessoas.[1] Formalmente, essas pessoas eram, na sua maioria, condenadas por cortes marciais especiais - as troikas. O uso "de meios físicos da persuasão" (tortura) foi aprovado por um decreto especial do estado, o que resultaria em numerosos abusos, relatados pelas vítimas e pelos próprios membros do NKVD. Existem evidências documentadas de que o NKVD cometeu execuções extrajudiciais em massa.[2] Em 17 de novembro de 1938 tais troikas foram proibidas por decisão conjunta do Conselho de Comissários do Povo e do Comitê Central do Partido Comunista de Toda a União (bolchevique).

O NKVD também executava operações em massa, que tinham como alvo grupos religiosos ou grupos étnicos inteiros - os judeus, a Igreja Ortodoxa Russa, os ortodoxos gregos, católicos latinos e demais cristãos perseguidos na URSS, muçulmanos e outros grupos religiosos.[3] O braço antirreligioso do governo soviético era dirigido por Yevgeny Tuchkov do OGPU.

Fotografia de Osip Mandelstam, como prisioneiro da NKVD

Devido aos abusos na repressão, em 4 de fevereiro de 1940 Nikolai Yezhov (chefe do NKVD de 1936 a 1938 durante o Grande Expurgo) e seus assessores mais próximos foram executados.

Durante a Guerra Civil Espanhola, os agentes da NKVD, atuando conjuntamente com o Partido Comunista da Espanha, exerceram substancial controle sobre o governo republicano, usando a ajuda militar soviética para aumentar sua influência.[4][5] O NKVD estabeleceu numerosas prisões secretas em torno de Madrid, as quais foram usadas para deter, torturar, e matar centenas dos inimigos do NKVD.[6] No início o alvo eram os nacionalistas e católicos espanhóis. Mas, em junho de 1937, Andrés Nin, importante figura trotskista, principal dirigente do Partido Operário de Unificação Marxista foi torturado e morto em uma prisão da NKVD.[7][8]

Também houve cooperação entre elementos do NKVD e da Gestapo. Em março de 1940, eles se encontraram por uma semana em Zakopane, para coordenar a pacificação da Polônia. O NKVD entregou centenas de comunistas alemães e austríacos à Gestapo, entre outros estrangeiros indesejáveis.[9]

Durante a Segunda Guerra Mundial, as unidades de NKVD foram usadas para a segurança de fronteiras.[10] No território liberado, o NKVD e o NKGB realizaram apreensões, deportações, e execuções em massa.[11] Os alvos incluíram colaboradores da Alemanha e membros da resistência não-comunistas.[12] Existem evidências também de que o NKVD executou milhares de prisioneiros de guerra poloneses em 1941.[13][14]

O GUGB e a Divisão Estrangeira (Inostranny Otdel) organizaram o assassinato de cidadãos nacionais e estrangeiros considerados inimigos da URSS.[15] Entre as vítimas mais conhecidas estão:

A NKVD elaborou planos ousados como a ação para assassinar Adolf Hitler, caso ele e outras autoridades nazistas comparecessem a Moscou, se esta fosse tomada e, o resgate de Ramón Mercader, preso no México pelo assassinato de Trotsky.[16] Mas, tais planos, que contariam com a participação da espiã Anna Filonenko, não foram executados.[17]

A partir de 1956, sob o governo do novo líder soviético Nikita Khrushchev, milhares de vítimas da NKVD "foram reabilitados legalmente", isto é, foram absolvidas e tiveram seus direitos restaurados.

Atividades de inteligência

  • Estabelecimento de uma ampla rede de espionagem através do Comintern;
  • Recrutamento de importantes funcionários do governo britânico como agentes, nos anos 1940, e penetração dos serviços de inteligência (MI6) e contra-informação (MI5);
  • Obtenção de informações detalhadas sobre projetos de armas nucleares dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha;
  • Desarticulação de vários complôs para assassinar Stalin.

O NKVD e a economia soviética

O sistema extensivo de exploração do trabalho no Gulag deu uma contribuição notável à economia soviética e ao desenvolvimento de áreas remotas do país. A colonização da Sibéria, do norte e do extremo leste estava entre os objetivos estabelecidos nas primeiras leis a respeito dos campos de trabalho soviéticos. A mineração, a construção de rodovias, ferrovias, canais, barragens, fábricas, etc., dentre outras formas de exploração dos trabalhadores, eram parte do planeamento econômico soviético, e a NKVD teve suas próprias plantas de produção.

Muitos cientistas e coordenadores presos por crimes políticos foram colocados em prisões especiais, muito mais confortáveis do que o Gulag, conhecidos como sharashkas. Esses prisioneiros continuaram seu trabalho nestas prisões. Mais tarde, quando liberados, alguns deles transformaram-se em líderes na área de ciência e tecnologia, destacando-se Sergey Koroliov, que concebeu o programa soviético do foguetes e planejou a primeira missão humana, no voo espacial de 1961, e Andrei Tupolev, projetista de aviões. Outros, como o geneticista Nikolai Vavilov, foram vítimas da repressão à pesquisa científica em certas áreas. Vavilov, reconhecido internacionalmente por seus estudos sobre plantas agrícolas, morreu de fome na prisão em 1943.[18][19]

Após a Segunda Guerra Mundial, o então MVD (fora do Gulag) coordenou o trabalho do armamento nuclear soviético, sob o comando do general Pavel Sudoplatov. Os cientistas não eram prisioneiros, mas o projeto foi supervisionado pelo MVD, em razão da sua grande importância e pela exigência da segurança e do sigilo absolutos. Também, o projeto usou a informação obtida pelo MVD dos Estados Unidos.

Ver também

Referências

Ligações externas