Nomenclatura vernácula
A nomenclatura vernácula se refere aos nomes de organismos biológicos que são baseados na língua vernácula.[1] Esse tipo de nomenclatura contrapõe-se com a nomenclatura científica, que é redigida em latim.
Tipos de vernáculos
Os táxons podem ser representados por meio de três tipos de denominações,[2] cada um estabelecido por situações diferentes:
- Os populares são os nomes que pertencem a língua comum, no qual denotam os grupos de organismos de conhecimento geral. Por exemplo, leão é o vernáculo português do táxon Panthera leo;[3]
- Os eruditos são instituídos artificialmente por técnicos, quando não existem nomes populares. Por exemplo, aranha-do-mar é o vernáculo do táxon Pycnogonida, em referência a sua semelhança com um aracnídeos e ser um táxon marinho;
- Os paracientíficos são criados por meio da adaptação do nome científico à língua vernácula. Por exemplo, coleópteros é um aportuguesamento do nome latino Coleoptera.[4]
Variações
Os vernáculos têm uma diversificação muito grande, sejam elas na mesma língua (intralinguística) ou com relação a outras línguas (extralinguística).
Intralinguísticas
As variações intralinguísticas referem-se aos vernáculos de uma determinada língua,[5] como por exemplo, os vernáculos da língua portuguesa. Em decorrência das variações que ocorrem na língua, também poderá haver efeitos sobre a nomeação dos organismos.
Alguns vernáculos apresentam usos restritos a uma determinada localidade, enquanto, outros são amplamente usados em qualquer região.[6] Como por exemplo, em São Tomé e Príncipe, ambulância é um vernáculo para o táxon Dermochelys coriacea,[7] enquanto que no Brasil, é tartaruga-de-couro.[8] Já, o táxon Hippopotamus recebe o vernáculo de hipopótamo que é comum em qualquer região lusofóna.
Os vernáculos também podem variar conforme a aplicação dos táxons, alguns podem fazer referência a apenas um táxon, enquanto que outros, a vários táxons. Como exemplo do primeiro caso, o vernáculo pintagueira faz referência apenas a espécie Eugenia uniflora.[9] No segundo caso, o vernáculo vaga-lume é uma referência para três famílias de coleópteros, os Elaterídeos, os Fengodídeos e os Lampirídeos.[10]
Extralinguísticas
As variações extralinguísticas referem-se aos vernáculos relacionados com outras línguas.[11] Nestas variações, a grafia do vernáculo poderá ser conservada. Como por exemplo, o táxon Panthera tigris recebe o vernáculo português de tigre, esta grafia é mantida em outras línguas românicas, como a catalã,[12] castelhana,[13] francesa,[14] galega[15] e italiana.[16]
Em outros casos, os vernáculos em outros idiomas não conserva a mesma grafia, nos quais são redigidos de formas diferentes. Por exemplo, o táxon Felis silvestris catus tem o vernáculo português de gato, porém seu vernáculo russo é koshka (кошка),[17] no chinês é māo (貓),[18] no japonês é neko (ネコ)[19] e no turco é kedi.[20]
Relação com a nomenclatura binomial
A estrutura da nomenclatura binomial é superficialmente semelhante à forma substantivo-adjetivo de nomes vernáculos usados por culturas pré-históricas.[21] Um nome coletivo, como coruja, foi tornado mais preciso com a adição de um adjetivo, como buraco.[21]
O próprio Linnaeus publicou em 1745, a Flora Suecica, no qual registrou, região por região, os nomes científicos e vernáculos suecos. Nessa, os vernáculos eram todos binômios, por exemplo, planta nº 84 Råg-losta e planta nº 85 Ren-losta,[22] sendo assim, o sistema binomial vernacular precedeu o sistema binomial científico.[21]
Códigos nomenclaturais
Os códigos internacionais de nomenclaturas, o CINZ e o CINB, estabelecem a abrangência apenas aos nomes científicos, os quais são redigidos em latim. Portanto, os vernáculos não são legalizados pelos códigos.[23][24]
Referências
Ligações externas
- Corrêa, Manuel Pio (1926). Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional. 6 v.
- Garrido, Carlos (2012). Divergências no inventário das línguas e na constituição dos elementos lexicais equivalentes como fonte de discordâncias interculturais na tradução de textos destinados ao ensino e divulgação da ciência. Lebende Sprachen. Berlim: De Gruyter. 57(2): 238–264.
- Ihering, R. von. (1940). Dicionário dos animais do Brasil. São Paulo: Diretoria de Publicidade Agrícola.
- Pinto, Joaquim de Almeida (1873). Diccionario de Botanica Brasileira. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança.