Rio Grande (monitor)

O Rio Grande foi o segundo monitor da classe Pará construído para a Marinha do Brasil durante a Guerra do Paraguai no final da década de 1860. O Rio Grande participou na Passagem de Humaitá em fevereiro de 1868 e forneceu apoio de fogo ao exército pelo resto da guerra. O navio foi destinado à Flotilha do Alto Uruguai após a guerra. Em 1907, o Rio Grande foi sucateado.

Rio Grande
Rio Grande (monitor)
Paraguaios tentando embarcar no encouraçado Barroso e no monitor Rio Grande durante a Guerra da Tríplice Aliança.
 Brasil
OperadorArmada Imperial Brasileira
FabricanteArsenal de Marinha da Corte, Rio de Janeiro
HomônimoRio Grande do Sul
Batimento de quilha8 de dezembro de 1866
Lançamento17 de agosto de 1867
Comissionamento3 de setembro de 1867
DestinoSucateado em fevereiro de 1907
Características gerais
Tipo de navioMonitor
Classeclasse Pará
Deslocamento500 toneladas
Comprimento39
Boca8,54
Calado1,51 – 1,54
PropulsãoDuas máquinas a vapor (cada uma com duas caldeias), cada uma com uma hélice de 1,3 metros
-177 cv (130 kW)
Velocidade8 nós
Armamento1 canhão Whitworth de 70 libras
BlindagemCinturão: 51 – 102 mm
Torre de canhão: 76 – 152 mm
Convés: 12,7 mm
Tripulação43 homens

Design e descrição

Os monitores fluviais da classe Pará foram projetados para atender à necessidade da Marinha do Brasil em possuir navios blindados, de pequeno calado e capazes de suportar fogo pesado. A configuração do monitor foi a escolhida porque o projeto com torres não apresentava os mesmos problemas de abordagem de navios e fortificações inimigas que os couraçados casamata já em serviço no Brasil apresentavam. A torre de canhão oblonga ficava numa plataforma circular que tinha um pivô central. Era girada por quatro homens através de um sistema de engrenagens; eram necessários 2,25 minutos para uma rotação completa de 360 graus. Um rostro de bronze também foi instalado nesses navios. O casco foi revestido com metal Muntz para reduzir a bioincrustação.[1][2]

A sua construção, assim como a dos outros da sua classe, foi inspirada nos estudos e experiências de combates da Guerra Civil Americana e da própria guerra do Paraguai, além de ser considerado uma inovação em sua época. Apenas britânicos, franceses e norte-americanos possuíam tais embarcações.[3] Os navios mediam 39 metros de comprimento, com uma boca de 8,54 metros. Eles tinham um calado de entre 1,51 e 1,54 metros e deslocavam 500 toneladas.[4] Com apenas 0,3 metros de borda livre tiveram que ser rebocados entre o Rio de Janeiro e a sua área de operação.[1] A sua tripulação era composta por 43 oficiais e homens.[4]

Propulsão

Os navios da classe Pará tinham duas máquinas a vapor de ação direta, cada uma dirigindo uma hélice de 1,3 metros. Os seus motores eram movidos por duas caldeiras tubulares a uma pressão de 59 psi. Os motores produziram um total de 180 cavalos de potência indicados que deu aos monitores uma velocidade máxima de 8 nós em águas calmas. Os navios carregavam carvão suficiente para um dia.[5]

Armamento

O Rio Grande carregava um canhão Whitworth de 70 libras na sua torre de canhão. O canhão de 70 libras tinha uma elevação máxima de 15 graus e tinha um alcance máximo de 5540 metros.[6] A arma de 70 libras pesava 3892 kg e disparava um projéctil de 140 milímetros que pesava 36,7 kg.[7] Uma característica incomum é que a estrutura de ferro, criada no Brasil, foi projetada para girar verticalmente com o cano do canhão; isso foi feito de modo a minimizar o tamanho da porta do canhão através da qual projecteis do inimigo poderiam entrar.[8]

Armadura

O casco dos navios da classe Pará era feito de três camadas de madeira que se alternavam na orientação. Tinham uma espessura de 457 milímetros e eram cobertas com uma camada de madeira de peroba-comum de 102 milímetros. Os navios tinham um cinturão de linha de água completo de ferro forjado, com uma altura de 0,91 metros; ele tinha uma espessura máxima de 102 milímetros a meio da embarcação, diminuindo para 76 milímetros e 51 milímetros nas extremidades do navio. O convés curvo foi blindado com ferro forjado de 12,7 milímetros.[1]

A torre do canhão tinha a forma de um retângulo com cantos arredondados. Foi construído de forma muito semelhante ao casco, mas a frente da torre era protegida por uma armadura de 152 milímetros, os lados em 102 milímetros e a parte traseira em 76 milímetros. O seu teto e as partes expostas da plataforma sobre a qual repousava eram protegidos por 12,7 milímetros de armadura. A casa do piloto blindada foi posicionada à frente da torre.[1]

Serviço

O batimento de quilha do Rio Grande deu-se no Arsenal de Marinha da Corte no Rio de Janeiro, no dia 8 de dezembro de 1866, durante a Guerra do Paraguai, que viu a Argentina e o Brasil aliarem-se contra o Paraguai. O navio foi lançado em 17 de agosto de 1867 e concluído em 3 de setembro de 1867. Ele chegou a Montevidéu em 6 de janeiro de 1868 e subiu o rio Paraná através dos seus próprios meios, embora a sua passagem mais a norte tenha sido bloqueada pelas fortificações paraguaias em Humaitá. No dia 19 de fevereiro de 1868, seis couraçados brasileiros, incluindo o Rio Grande, passaram por Humaitá à noite. O Rio Grande e os seus dois navios irmãos, os monitores Alagoas e Pará, foram amarrados aos couraçados maiores para o caso de algum motor deles ficar inoperacional pelos canhões paraguaios. O encouraçado Barroso liderou com o Rio Grande, seguido pelo Bahia com o Alagoas e Tamandaré com o Pará. Os dois últimos navios ficaram danificados ao passar pelas fortificações e tiveram que ser encalhados para evitar que afundassem. O Rio Grande continuou rio acima com os outros navios ainda operacionais e eles bombardearam Assunção em 24 de fevereiro.[9] No dia 23 de março, Rio Grande e Barroso afundaram o a embarcação inimiga Igurey.[10] Na noite de 9 de julho soldados paraguaios em canoas tentaram embarcar nos dois navios brasileiros, mas só conseguiram embarcar no Rio Grande, onde mataram o capitão do navio e alguns tripulantes. Os tripulantes restantes trancaram as escotilhas do monitor e o encouraçado Barroso conseguiu matar ou capturar quase todos os paraguaios no convés.[11] Em 15 de outubro ele bombardeou o Forte de Angostura na companhia do Brasil, Silvado, Pará, Alagoas e Ceará.[10]

Depois da guerra, o Rio Grande foi designado para a recém-formada Flotilha do Alto Uruguai, com base em Itaqui. Foi atracada em Ladário para passar por um processo de reconstrução em 1899, mas este nunca foi concluído, levando mais tarde a que o navio fosse sucateado em fevereiro de 1907.[10]

Ver também

Notas

Referências

Bibliografia

Ligações externas