Touch Me I'm Sick

"Touch Me I'm Sick" é uma canção da banda estadunidense de rock alternativo Mudhoney, gravada em março de 1988 no estúdio Reciprocal Recording, em Seattle, com o produtor Jack Endino. A canção foi lançada como o single de estreia do Mudhoney na gravadora independente Sub Pop, em 1 de agosto de 1988. As letras da música, marcadas por doses de humor negro, são uma visão sarcástica de assuntos como doenças e sexo violento.

"Touch Me I'm Sick"
Touch Me I'm Sick
Single de Mudhoney
Lado B"Sweet Young Thing Ain't Sweet No More"
Lançamento1 de agosto de 1988
Formato(s)Vinil de 7 polegadas
GravaçãoMarço de 1988 no Reciprocal Recording, em Seattle, Washington
Gênero(s)Grunge[1]
Duração2:23
Gravadora(s)Sub Pop
ProduçãoJack Endino, Mudhoney
Cronologia de singles de Mudhoney
"Touch Me I'm Sick/Halloween"
(1989)

Quando foi lançado, "Touch Me I'm Sick" foi um sucesso no circuito indie, e ainda é a canção mais conhecida da banda. Seu som, considerado "sujo" por ser formado a partir de guitarras distorcidas e embaçadas, vocais ríspidos, linhas de baixo diretas e bateria enérgica, influenciou muitos músicos locais e ajudou a desenvolver a cena grunge de Seattle. De acordo com a All Music Guide, "a energia crua e primal da canção a fez um hino instantâneo que ainda permanece como um dos clássicos eternos [do grunge]".[2]

Origens e gravação

Segundo o vocalista Mark Arm, "Touch Me I'm Sick" originou de uma discussão com o dono da Sub Pop, Bruce Pavitt, "[Pavitt] disse: 'Ei, você canta sobre cachorros. Você canta sobre estar doente. Você tem um estilo, eu levarei você ao topo.' E ele basicamente nos deu cinco acordes, mas ele disse para não usar mais do que três em uma canção."[3] Arm também comentou que "Touch Me I'm Sick" era um bordão ao redor do qual a banda construiu a canção.[4]

Mudhoney gravou a canção no estúdio Reciprocal Recording em Seattle em março de 1988, três meses após a formação da banda,[5] com o produtor Jack Endino, que ficou surpreso por quão barulhentas as sessões foram e o quão sujas a banda queria que as guitarras soassem; "durante a maior parte do tempo, eu só meio que fiquei afastado e deixei eles tocarem".[6] O guitarrista Steve Turner disse que o grupo selecionou duas de suas canções mais "grunge" para o single.[7] Inicialmente, "Sweet Young Thing Ain't Sweet No More" deveria ser o A-side do single e "Touch Me I'm Sick" o B-side, antes de —nas palavras do baterista Dan Peters— "isso tudo ser bagunçado".[8][9]

Música e letras

O guitarrista Steve Turner chamou a música de "'Happenings Ten Years Time Ago' do The Yardbirds como 'Sick of You' do The Stooges".[10]

"Touch Me I'm Sick" possui uma estrutura diretamente garage punk com um simples e repetitivo riff em power chord tocado em um andamento rápido,[2] acompanhado por uma linha de baixo direta e bateria frenética.[8] O som sujo da canção foi produzido usando um pedal de distorção Electro-Harmonix Big Muff, aumentado por uma segunda guitarra provendo mais distorção,[2] o que o escritor musical Brian J. Barr chamou de "o equivalente sônico a um pente amplificado raspando contra um papel".[11]

Os críticos notaram uma influência dos Stooges em "Touch Me I'm Sick", típica dos primeiros materiais do Mudhoney.[5][12] Turner afirmou que "Em retrospecto, é 'Happenings Ten Years Time Ago' do The Yardbirds como 'Sick of You' do The Stooges. Na época eu estava tentando fazer a gaguejante guitarra R&B de The Nights and Days".[10] A canção é também uma reminiscência do hardcore punk do Black Flag.[13] Em seu livro Loser: The Real Seattle Music Story, Clark Humphrey acusa a música de ser uma cópia de "The Witch" dos The Sonics. A banda descartou esta alegação, questionando o conhecimento do autor sobre música.[5]

As letras de Arm, segundo o crítico Steve Huey, são uma tirada sobre "doença, ódio próprio, angústia, e sexo obsceno".[2] Em um trabalho chamado 'Touch Me I'm Sick': Contagion as Critique in Punk and Performance Art, Catherine J. Creswell sugere que algumas das letras referem a AIDS. De acordo com Creswell, "Ao declarar Well, I'm diseased and I don't mind e mudando o refrão final para Fuck Me, I'm Sick! o orador declara que ele mesmo é a pessoa viral, 'portador de AIDS', 'poluente' da fantasia contemporânea".[14] Creswell, que também acredita que a canção parodia o tema da sedução na música rock contemporânea, indica letras que se referem a impotência ("If you don't come, if you don't come, if you don't come, you'll die alone!") e possessão violenta ou forçamento ("I'll make you love me till the day you die!").[14] Entretanto, Arm disse que não pensou muito nas letras e enquanto toca a canção em concertos, às vezes as modifica para se entreter.[8]

Outra característica destacada de "Touch Me I'm Sick" é os vocais de Arm, os quais Huey se refere como "grito histérico", e "uivos rosnados demoníacos".[2][12] O jornalista Joe Ehrbar disse que Arm começa a canção com um "arroto", antes de cantar com um "uivo nasal"[8] e Creswell considera os vocais "exagerados" de Arm como zombando uma variedade de estereótipos do rock: a rosnadura punk, a "modulação alcoolizada" do hard rock, os "yea-ahs" de garage rock, os lamentos estilo R&B e um "tremor de Jerry Lee Lewis".[14]

Lançamento e recepção

O vocalista Mark Arm em 2007. Arm primeiramente havia repudiado a canção como um "B-side às pressas".[10]

"Touch Me I'm Sick" foi lançado em 1 de agosto de 1988 como vinil de 7 polegadas e foi o début do Mudhoney. Inicialmente, a Sub Pop lançou 800 cópias em vinil marrom-café, 200 cópias em vinil preto e algumas variadas cópias do single em vinil colorido,[15] cujos números de lançamento limitados foram inspirados por outro selo indie, a Amphetamine Reptile. Os donos da Sub Pop, Bruce Pavitt e Jonathan Poneman, argumentaram que o estoque limitado aumentaria a demanda, e utilizaram diferentes cores de vinil a fim de racionar mais edições limitadas e ampliar a atração do single como item de colecionador.[15] O disco, que saiu em um saco de papel branco sem uma capa, tinha uma inscrição no A-side: "O que a palavra 'crack' significa para você?". O adesivo do B-side mostrava a figura da privada que mais tarde se tornaria a arte de capa da segunda edição do single.[16]

Segundo Pavitt, "Era apenas uma edição limitada, talvez 800 cópias, mas pessoas de todos os Estados Unidos começaram a ficar alucinados com isso. Pessoas que nós realmente respeitávamos".[17] O single era um sucesso indie em Seattle, e "Touch Me I'm Sick" se tornou a canção mais conhecida do Mudhoney.[2] Quando perguntado em uma entrevista sobre os números de vendas do single, Turner respondeu, "A primeira [edição vendeu] 1.000, depois 3.000 da re-edição, então ficou fora de catálogo por um tempo; depois eles fizeram mais 2.000 e essas provavelmente já foram".[18] O sucesso do single pegou a banda de surpresa; Arm inicialmente havia repudiado a canção como um "B-side às pressas".[10]"Touch Me I'm Sick" e o B-side "Sweet Young Thing Ain't Sweet No More" foram depois incluídos nas compilações da banda, Superfuzz Bigmuff Plus Early Singles (1990)[19] e March to Fuzz (2000).[20]

Regravação do Sonic Youth

Anterior ao lançamento do single "Touch Me I'm Sick", Pavitt mandou uma fita com cinco canções do Mudhoney para a opinião dos membros da banda de rock alternativo de New York, Sonic Youth. Sonic Youth imediatamente propuseram um álbum split onde cada banda faria uma versão cover da outra.[21] Sonic Youth regravou "Touch Me I'm Sick" enquanto o Mudhoney fez a releitura de "Halloween", do Sonic Youth. "Touch Me I'm Sick/Halloween" foi lançado em uma edição limitada em vinil 7 polegadas pela Sub Pop em dezembro de 1988.[22] A capa foi incluída na edição de luxo de Daydream Nation (2007), e oferece uma perspectiva feminina da canção com a baixista Kim Gordon encarregada dos vocais.[23]

Legado

Eu fiquei realmente deprimida... Eu seria só uma stripper pelo resto da minha vida e nunca teria uma banda novamente. Mas eu ouvi "Touch Me I'm Sick" do Mudhoney uma noite, e eu fui salva. Eu sabia que podia gritar na deixa daquele jeito.
Courtney Love quanto a sua decisão de parar de fazer striptease e perseguir uma carreira na música[24]

Seguindo o sucesso do single "Touch Me I'm Sick" na área de Seattle, a Sub Pop posicionou o Mudhoney como o carro-chefe de seu time de artistas e empreendeu promoção pesada para o grupo.[25] Os primeiros materiais da banda receberam tempo no ar em rádios universitárias e influenciaram muitos músicos locais, incluindo Kurt Cobain do Nirvana.[13] Em poucos anos, muitas bandas grunge de Seattle assinaram com grandes gravadoras e alcançaram o mainstream, conseguindo grande popularidade. Apesar do Mudhoney nunca ter obtido este nível de aceitação no mainstream, segundo Mark Deming da All Music Guide, "o sucesso [da banda] na cena indie pavimentou o caminho para o movimento que iria (brevemente) fazer de Seattle, WA, a nova capital do universo do rock & roll".[26]

Desde seu lançamento, "Touch Me I'm Sick" têm sido conferido status de clássico dentro do gênero grunge.[11] Escrevendo para a All Music Guide, Steve Huey descreveu a canção como "o hino grunge definitivo", e escreveu que ela "foi um teste crucial e vastamente influenciável na evolução do movimento grunge, virtualmente definindo o termo".[2][12] Para sua exibição do rock do noroeste dos EUA, o Rock and Roll Hall of Fame pediu o papel original com as letras da canção. Uma vez que não existe — Arm brevemente considerou fazer um falso escrevendo as letras, amassando o papel, e então queimando as pontas— a banda ao invés doou velhos pedais Big Muff de Turner.[27]

"Touch Me I'm Sick" permanece como a música mais popular do Mudhoney. Joe Ehrbar a chamou de "a canção pela qual a maior parte de nós conheceria [a banda]".[8] Arm considera a faixa como sendo o marco mais alto do Mudhoney,

Há algo especial sobre aquele primeiro single, nós nunca realmente fomos capazes de recapturar aquele som. Eu não sei se foram as guitarras ou a gravação. Era simplesmente um som de guitarra muito, muito retorcido. Nós conseguimos alguns desde então, mas eles têm sido de um jeito diferente. Eu acho que tinha mais a ver com a real química electromagnética do que estava passando por nossos amps naquele dia. Foi só um som legal e eletrocutado.[28]

A canção foi referenciada no filme de 1992 Vida de Solteiro, que tem como pano de fundo a cena grunge de Seattle. A banda ficcional no filme, Citizen Dick, toca uma canção chamada "Touch Me I'm Dick" — uma brincadeira com a canção do Mudhoney.[5] Em 2003, Charles Peterson publicou um livro de fotografia intitulado Touch Me I'm Sick que mostrava fotografias em preto-e-branco de bandas (incluindo o Mudhoney) e concertos, focando na cena da música alternativa dos anos 80 e 90.[29]

Distinções

A informação com relação as distinções atribuídas a "Touch Me I'm Sick" é adaptada de AcclaimedMusic.net.[30]

AnoPublicação/
autor
PaísDistinçãoPosição
2002NMEReino Unido100 Maiores Singles de Todos os Tempos[31]99
2004Kerrang!Reino Unido666 Canções Que Você Tem Que Ter (Grunge)[32]5
2005BlenderEstados UnidosAs 500 Melhores Canções Desde Que Você Nasceu (1981–2005)[33]396
2006Toby CreswellAustrália1001 Canções: As Grandes Canções de Todos os Tempos[34]*

* denota uma lista não-ordenada

Faixas

Single em vinil 7" (SP18)

Ambas as canções são creditadas a Mark Arm, Steve Turner, Dan Peters e Matt Lukin.

  1. "Touch Me I'm Sick" – 2:23
  2. "Sweet Young Thing Ain't Sweet No More" – 3:35

Notas e referências

Bibliografia

Ligações externas