Vasa (navio)

O Vasa ou Vasen foi um navio de guerra da Marinha Sueca. Ele afundou durante sua viagem inaugural em 10 de agosto de 1628 depois de viajar apenas 1,3 quilômetros. Ele foi praticamente esquecido depois da maioria dos seus valiosos canhões de bronze terem sido recuperados, porém foi redescoberto no final da década de 1950 no meio de uma área movimentada do porto de Estocolmo. Seu casco quase intacto foi reflutuado em 1961 e abrigado temporariamente em um museu chamado Estaleiro Vasa até 1988, quando foi transferido permanentemente para o Museu Vasa em Estocolmo. O Vasa tem sido amplamente reconhecido desde sua redescoberta como um símbolo do Império Sueco.

Vasa
 Suécia
OperadorMarinha Sueca
FabricanteEstaleiro de Estocolmo
HomônimoVase
Batimento de quilha1626
Lançamentomarço de 1627
Viagem inaugural10 de agosto de 1628
EstadoNavio-museu
DestinoAfundou em 10 de agosto de 1628
Características gerais
Deslocamento1 210 t
Comprimento69 m
Boca11,7 m
Calado4,8 m
Altura52,5 m
Propulsão1 275 m2 de velas
3 mastros
Armamento48 canhões de 24 libras
8 canhões de 3 libras
2 canhões de 1 libra
6 obuseiros
Tripulação145 marinheiros
300 soldados

Foi construído por ordens do rei Gustavo II Adolfo como parte de uma expansão militar iniciada pela Guerra Polaco–Sueca. Foi construído entre 1626 e 1627 em um estaleiro da marinha sob contrato com empreendedores particulares e armado principalmente com canhões de bronze fabricados especificamente para ele. Foi ricamente decorado como um símbolo das ambições suecas e do próprio rei, sendo um dos navios mais poderosos do mundo na época. Entretanto, era perigosamente instável com muito peso localizado na estrutura superior do casco. Mesmo assim foi ordenado que navegasse e naufragou apenas alguns minutos depois de encontrar um vento mais forte que uma brisa.

A ordem para que o Vasa navegasse foi o resultado de uma combinação de vários fatores. Gustavo Adolfo estava liderando um exército na Polônia na época da viagem, tendo ficado impaciente para finalmente ver seu navio assumir a função de capitânia da esquadra de reserva na base de operação de Älvsnabben, no Arquipélago de Estocolmo. Ao mesmo tempo os subordinados do rei em Estocolmo careciam da coragem política de discutir abertamente os conhecidos problemas do navio ou até mesmo adiarem a viagem inaugural. Um inquérito oficial foi realizado pelo Conselho Real da Suécia com o objetivo de encontrar os responsáveis pelo naufrágio, mas ninguém chegou a ser punido.

Milhares de artefatos e os restos mortais de pelo menos quinze pessoas foram encontrados no Vasa e ao seu redor por arqueólogos marinhos quando ele foi recuperado em 1961. Muitos dos itens encontrados eram roupas, armas, canhões, ferramentas, moedas, talheres, comidas, bebidas e seis velas. Os artefatos e o navio em si proporcionaram a acadêmicos conhecimentos valiosíssimos sobre os detalhes da guerra naval, técnicas de construção naval e vida diária da Suécia do início do século XVII. O Vasa é a embarcação do século XVII em melhor estado de conservação. O navio continua a ser monitorado e pesquisado constantemente sobre os melhores modos para continuar sua preservação.

Antecedentes

O Império Sueco em 1658. Na época do Vasa, o país ainda não possuía seus territórios mais ao sul, mas já detinha quase toda a Finlândia e a Íngria e Carélia

A Suécia durante o século XVII deixou de ser um país esparsamente povoado, pobre, periférico e de pouca influência no norte da Europa para uma das maiores potências continentais. Foi a potência dominante no Mar Báltico entre 1611 e 1718, chegando a conquistar territórios em todos os lados do mar. Esta ascensão de proeminência em questões internacionais e poderio militar, chamada de "Era de Grandeza", foi possível graças a uma sucessão de monarcas capazes e o estabelecimento de um governo central poderoso que dava apoio a uma organização militar extremamente eficiente. Historiadores suecos descreveram isto como um dos exemplos mais extremos de um estado moderno usando todos os seus recursos disponíveis para guerrear. O pequeno reino se transformou em um estado fiscal-militar e um dos estados mais militarizados da história.[1]

O rei Gustavo II Adolfo é considerado um dos mais bem sucedidos monarcas suecos em termos de sucessos em guerras. Ele estava no trono a mais de uma década na época do Vasa e a Suécia envolvida na Guerra Polaco–Sueca, olhando apreensivamente para os desenvolvimentos da Guerra dos Trinta Anos na Germânia. Esta guerra estava sendo travada desde 1618 e não estava com perspectivas boas para os protestantes. Os planos de Gustavo Adolfo para a campanha polonesa e os interesses da Suécia necessitavam de uma forte presença militar no Báltico.[2]

A Marinha Sueca sofreu vários reveses na década de 1620. Uma esquadra no Golfo de Riga em 1625 foi pega em uma tempestade e dez navios encalharam e foram perdidos. Outra esquadra foi derrotada pelos poloneses em 1627 na Batalha de Oliwa, com dois navios sendo perdidos: a capitânia Tigern foi capturada, enquanto o Solen foi explodido por sua própria tripulação quando foi abordado e quase capturado. Três outros navios foram perdidos em 1628 em um espaço de menos de um mês: a capitânia Kristina do almirante Clas Larsson Fleming foi perdida durante uma tempestade na Baía de Danzig, o Riksnyckeln encalhou em Viksten ao sul de Estocolmo e o Vasa naufragou em sua viagem inaugural.[2][3]

Gustavo Adolfo estava envolvido em guerras navais em várias frentes, o que exacerbava as dificuldades da marinha. Além de enfrentar a Polônia-Lituânia, a Suécia também estava ameaçada indiretamente por forças do Sacro Império Romano-Germânico na Jutlândia. Gustavo Adolfo tinha pouca simpatia pelo rei Cristiano IV da Dinamarca, pois os dois países eram inimigos a mais de um século. Entretanto, a Suécia temia uma conquista católica de Copenhague e Zelândia. Isto daria aos católicos controle sobre as passagens estratégicas entre o Mar Báltico e o Mar do Norte, o que seria desastroso para os interesses suecos.[2][3]

A Marinha Sueca era composta até o início do século XVII principalmente de navios pequenos a médios com um único convés de canhões, sendo normalmente armados com canhões de doze libras ou menores. Estes navios eram menores do que outras embarcações e se adequavam bem para deveres de patrulha e escolta. Também eram adequados para o pensamento tático predominante da marinha, que enfatizava abordagens como o momento decisivo de uma batalha naval em vez da artilharia. Entretanto, Gustavo Adolfo era um entusiasta da artilharia e enxergou o potencial de navios como plataformas de artilharia, com navios maiores e mais bem armados também fazendo uma declaração mais dramática no teatro político do poderio naval. O rei, a partir do Vasa, encomendou vários navios com dois conveses de canhões e armados com canhões mais pesados.[4]

Quatro seriam construídos após o Vasa: Äpplet, Kronan, Scepter e Göta Ark, com o Conselho Real cancelando os outros navios depois da morte de Gustavo Adolfo em 1632.[5] Estes navios construídos, especialmente o Kronan e o Scepter, foram muito mais bem sucedidos e participaram de batalhas,[6] também servindo como capitânias até a década de 1660.[5] O Äpplet foi finalizado em 1629 e é amplamente considerado um navio irmão do Vasa. A única grande diferença entre os dois era um aumento de por volta de um metro na boca do Äpplet.[7] Acredita-se que este e os outros navios foram descomissionados e afundados como barreiras submersas contra embarcações inimigas.[6]

O nome do navio no século XVII era Vasen em homenagem ao símbolo heráldico no brasão de armas da Casa de Vasa. Vasa se tornou o nome mais amplamente conhecido do navio, principalmente porque o Museu Vasa escolheu no final da década de 1980 esta forma do nome para sua ortografia oficial. Esta grafia foi adotada porque é a forma preferida pelas autoridades modernas da língua sueca, além de estar de acordo com reformas de ortografia instituídas no início do século XX.[8]

Construção

Vista de bombordo do Vasa

O neerlandês Henrik Hybertsson era um construtor naval no Estaleiro de Estocolmo desde o início do século XVII. Ele e seu parceiro Arendt de Groote firmaram um contrato em 16 de janeiro de 1625 para construírem quatro navios para a Marinha Sueca, dois com uma quilha de aproximadamente 41 metros de comprimento e outros dois menores com 33 metros de comprimento.[9]

Hybertsson e Groote começaram a comprar em 1625 os materiais brutos necessários para os primeiros dois navios, comprando madeira de propriedades individuais pela Suécia e também tábuas serradas em Riga, Königsberg e Amsterdã. Hybertsson, enquanto se preparava para iniciar as obras das embarcações, se correspondeu com Gustavo Adolfo por meio de Fleming sobre qual navio deveria ser construído primeiro. A perda das dez embarcações na Golfo de Riga fez com que o rei propusesse a construção de dois novos navios de tamanho médio como um meio-termo rápido, enviando especificações para este fim, que seria de uma embarcação com quilha de 37 metros de comprimento. Hybertsson recusou, pois já tinha começado a cortar a madeira para os navios grandes e pequenos. O batimento de quilha para o navio grande ocorreu no final de fevereiro ou início de março de 1626.[10] Hybertsson nunca chegou a ver o Vasa finalizado, tendo adoecido no final de 1625 e entregue em meados do ano seguinte a supervisão do trabalho para outro neerlandês, Henrik Jacobsson. Hybertsson morreu em em 1627, provavelmente na mesma época que o navio foi lançado ao mar.[11] Os trabalhos continuaram na finalização do convés superior, castelo de popa, bico e velas. A Suécia ainda não tinha desenvolvido uma indústria de lonas de vela considerável, com materiais precisando ser encomendados no exterior. Lona de vela francesa foi especificada no contrato para manutenção, mas a lona para as velas do Vasa provavelmente vieram da Holanda.[12] As velas eram feitas principalmente de cânhamo e parcialmente de linho, com o primeiro tendo sido importado da Livônia por meio de Riga. O rei visitou o estaleiro em janeiro de 1628 e fez provavelmente sua única visita a bordo do navio.[13]

Söfring Hansson, o capitão responsável por supervisionar a construção do Vasa, arranjou em meados de 1628 para que a estabilidade do navio fosse demonstrada a Fleming, que tinha recentemente voltado da Prússia. Trinta homens correram de um lado para o outro do convés superior a fim de fazer a embarcação balançar, mas Fleming parou o teste depois de apenas três corridas pois temia que o Vasa emborcasse. Segundo testemunhos de Göran Mattson, o mestre do navio, Fleming comentou que desejava que o rei estivesse em casa. Gustavo Adolfo estava na época enviando várias cartas em sequência insistindo para que a embarcação navegasse o mais rápido possível.[14]

Projeto e estabilidade

Corte transversal de uma miniatura do Vasa, mostrando o porão raso e os dois conveses de canhões

Houve muitas especulações se o comprimento do Vasa foi aumentado durante a construção ou se um convés de canhões a mais foi adicionado. Poucas evidências sugerem que o navio foi modificado substancialmente depois de seu batimento de quilha. Embarcações contemporâneas alongadas foram cortadas ao meio e novas madeiras emendadas entre as seções existentes, tornando a adição facilmente identificável, mas nenhuma adição do tipo pode ser identificada no Vasa, nem há qualquer evidência da adição tardia de um segundo convés de canhões.[15]

Gustavo Adolfo ordenou 72 canhões de 24 libras para o navio em 5 de agosto de 1626, mas isto era muito para um único convés de canhões. Como esta ordem foi emitida menos de cinco meses depois do início das obras, haveria tempo suficiente para que um segundo convés de canhões fosse adicionado ao projeto sem grandes problemas. Segundo Groote, o francês Galion du Guise, navio usado como modelo para o Vasa, também tinha dois conveses de canhões.[15] Medições a laser da estrutura da embarcação realizadas entre 2007 e 2011 confirmaram que nenhuma grande alteração foi implementada durante a construção, mas que seu centro de gravidade era muito elevado.[16]

Houve durante a construção uma certa hesitação sobre qual deveria ser o armamento exato do Vasa. Um problema era tentar obter armas suficientes para atender às especificações. As duas principais opções consideradas eram um convés de canhões inferior com uma bateria de armas de 24 libras e um convés superior com canhões de doze libras, ou como alternativa ter os dois conveses com armas de 24 libras. O Vasa foi construído com aberturas de canhões no convés superior para as armas menores de doze libras. Entretanto, a decisão final foi que um total de 56 canhões de 24 libras fossem distribuídos entre os dois conveses. Nem todas as armas foram entregues antes da viagem inaugural, com algumas carretas de canhões estando vazias a bordo no naufrágio.[17]

O Vasa foi um dos primeiros exemplos de navio de guerra com dois conveses de canhões completos e foi construído quando os princípios teóricos da construção naval ainda não era bem compreendidos. Dois conveses era um meio-termo muito mais complicado entre navegabilidade e poderio de fogo do que um único convés. A distribuição geral de peso, especialmente no casco, era muito concentrada em cima. Esta falha subjacente não era possível de ser corrigida apenas ao adicionar mais lastro e talvez teria precisado de grandes alterações de projeto para ser consertada. As margens de segurança no século XVII eram muito abaixo de qualquer coisa que seria aceitável hoje. Além disso, navios de guerra da época era construídos com superestruturas intencionalmente altas para serem usadas como plataformas de disparo, deixando o Vasa ainda mais instável.[18]

Armamentos

O convés de canhões inferior do Vasa

O Vasa foi construído durante uma época de transição nas táticas navais, de uma era em que abordagens ainda eram um dos principais meios de enfrentar inimigos para uma de navios de linha organizados rigidamente e com foco em vitória por meio da artilharia superior. O Vasa foi armado com canhões poderosos e construído com uma popa elevada, que serviria de plataforma de disparos em ações de abordagem para os aproximadamente trezentos soldados que deveriam realizá-la. Entretanto, o casco com laterais elevadas e convés superior estreito não eram otimizados para abordagens.[19] Ele não era o maior navio já construído até então nem aquele com o maior número de canhões, mas era o mais poderoso da época pela combinação do peso dos projéteis que poderiam ser disparados de uma lateral: 267 quilogramas, excluindo os obuseiros, para munições antipessoal em vez de projéteis sólidos. Esta era a maior concentração de artilharia em um único navio no Báltico na época e talvez em todo norte da Europa, sendo apenas na década de 1630 que outro navio com poderio de fogo maior foi construído. Esta grande quantidade de artilharia foi colocada em um navio que era relativamente pequeno para o armamento carregado. Por comparação, o USS Constitution, uma fragata construída pelos Estados Unidos 169 anos depois do Vasa, tinha aproximadamente o mesmo poder de fogo, mas o navio era quase oitocentas toneladas mais pesado.[20]

Entretanto, o Constitution pertencia a uma época posterior de combate naval que empregava táticas de linha de batalha, em que navios lutavam alinhados tentando apresentar as baterias de uma lateral para o inimigo. Os canhões seriam mirados em uma única direção e os disparos poderiam ser concentrados em um único alvo. As táticas envolvendo organização de grandes frotas ainda não tinham sido desenvolvidas no século XVII. Em vez disso, os navios lutariam individualmente ou em pequenos grupos improvisados se focando em abordagens. O Vasa possuía uma artilharia poderosa, mas foi construído com estas táticas em mente, desta forma não tinha uma salva lateral unificada com armas que eram miradas aproximadamente na mesma direção. Em vez disso, a intenção era que as armas fossem disparadas independentemente e arranjadas de acordo com a curvatura do casco, assim sua artilharia poderia cobrir todos os ângulos. Os canhões de popa virados para ré não estavam a bordo quando o navio naufragou.[21]

Canhões no século XVII eram caros e tinham uma vida útil muito mais longa do que qualquer navio. Não era incomum canhões durarem por mais de um século, enquanto a maioria dos navios era usado por apenas quinze a vinte anos. Um navio, na Suécia e em outros países europeus, normalmente não seriam "donos" de suas próprias armas, mas receberiam armamentos do arsenal no início de toda temporada de campanha. Os navios consequentemente eram equipados com canhões de diferentes idades e tamanhos. O que permitiu que o Vasa tivesse um poderio de fogo tão grande não foi apenas o fato de uma quantidade incomum de armas terem sido abarrotadas em um navio relativamente pequeno, mas também que os 46 canhões principais de 24 libras eram de um novo projeto menor e padronizado. Estes foram fundidos em uma única série na fundição de armas estatal em Estocolmo sob a direção de do suíço Medardus Gessus. Duas outras armas de 24 libras mais pesadas e antigas foram colocadas na proa como canhões de perseguição. Quatro outros deveriam ficar na popa, mas a fundição não conseguiu produzi-las tão rápido quanto o estaleiro podia construir navios, assim o Vasa precisou esperar quase um ano depois de seu lançamento para receber seu armamento. Oito dos planejados 72 canhões ainda não tinham sido entregues quando partiu em sua viagem inaugural. Todos os canhões precisavam ser produzidos de moldes individuais que podiam ser reusados, mas as armas do Vasa eram de uma precisão tão uniforme que suas dimensões diferiam em apenas alguns milímetros, com seus gáugios sendo quase exatamente 146 milímetros. O restante do armamento do navio consistia em oito canhões de três libras, seis obuseiros grandes para uso em ações de abordagem e dois falconetes de uma libra. Também a bordo estavam 894 quilogramas de pólvora e mais de mil projéteis de diferentes tipos.[22]

Velas

Mastros

Miniatura do Vasa mostrando todas as suas dez velas desfraldadas

O Vasa tinha três mastros: um mastro do traquete na proa, um mastro grande no meio e um mastro da mezena na popa. Os primeiros dois foram construídos em três seções: um mastro inferior que ficava afixado sobre a proa e quilha na parte inferior do casco e passava por todos os conveses, um mastro superior que ficava anexado à parte inferior e um mastaréu no topo. Os mastros superiores e mastaréus foram recuperadas pouco depois do naufrágio, enquanto as seções inferiores sobreviveram em sua maior parte e foram recuperados no século XX. O mastro da mezena era feito de duas seções, uma mezena afixada no convés de canhões superior seguida por um mastaréu da mezena.[23] O gurupé ficava afixado contra a parte da frente da parte inferior do mastro do traquete por meio de uma estrutura de madeira pesada localizada no convés de canhões superior. O gurupé servia de ponto de fixação para vários estais que seguravam boa parte do aparelho. Na extremidade do gurupé ficava um mastro da bujarrona com um topo para levar um mastro de bandeira.[24]

O mastro do traquete foi feito de um único pinheiro com materiais adicionais a fim de criar os pontos de fixação dos estais.[25] A parte inferior do mastro grande foi montada a partir de vários pedaços de madeira que reforçavam um núcleo central, em vez de vir de uma única árvore.[26] Um mastro de uma única árvore era a preferência da época e estruturalmente muito mais forte. O Estaleiro de Estocolmo tinha na época pelo menos acesso à madeira do oeste da Suécia. "Mastros de Gotemburgo" eram considerados entre os melhores da Europa, mas esta fonte só foi ser utilizada em sua totalidade pela Marinha Sueca no final do século. Desta forma o mastro usado no Vasa provavelmente foi fornecido por mercadores de Amsterdã,[27] que dominavam o mercado de madeira na época.[28]

Poleames e bigotas

Um poleame duplo do Vasa

Poleames eram meios de redirecionar o caminho de uma corda ou proporcionar uma vantagem mecânica, seja por conta própria ou em combinação com outros poleames, a fim de aumentar a força aplicada. A maioria dos poleames possuía uma roldana que girava sobre um eixo, com a corda que passava pelo poleame se encaixando em uma ranhura da roldana. A carga da corda era transferida do eixo para o bloco do poleame, que na época do Vasa geralmente tinha uma tira de corda ou correia de ferro forjado que passava pelo bloco e era usada para prender o poleame a outro objeto. Mais raramente no navio o poleame não tinha uma roldana.[29]

Bigotas eram usadas no aparelho fixo. Estas eram peças feitas de madeira que eram usadas em duplas e permitiam o ajuste do comprimento dos estais e dos ovéns. Um cordão passava por vários buracos em cada dupla e apertar esse cordão encurtava a distância entre as duplas de bigotas. As cordas no século XVII eram feitas de fibras naturais e podiam mudar de comprimento dependendo da quantidade de umidade nelas, assim o aparelho fixo do Vasa necessitava de mais ajustes do que embarcações posteriores.[30]

Ornamentação

Modelo em escala 1:10 do navio. As esculturas possuem as cores que se acredita serem as originais.

O Vasa foi decorado com esculturas destinados a glorificar a autoridade, sabedoria e o orgulho marcial do rei, além de ridicularizar e amedrontar o inimigo. As esculturas formaram uma considerável parte do esforço e custo de construção do navio, aumentaram consideravelmente seu peso, o que dificultou sua manobrabilidade. O simbolismo usado na decoração era baseado principalmente na idealização da Antiguidade grega e romana conforme oRenascimento, que tinham sido importado da Itália através de artistas alemães e holandeses.

Imagens emprestadas de antiguidade do Mediterrâneo dominam os motivos, que incluem também figuras do Antigo Testamento e até mesmo um pequeno número do Egito antigo. Muitas das figuras estão num estilo grotesco holandês, com criaturas fantásticas assustadoras, incluindo sereias, selvagens, monstros do mar e tritões. A decoração interna do navio é muito mais escassa, confinada aos alojamentos dos oficiais e cabina do almirante, ambos na popa.

As esculturas são de carvalho, pinheiro ou tília, e muitas das grandes peças, como o enorme leão de 3 metros, é composta de várias peças esculpidas individualmente e unidas com parafusos. Cerca de 500 esculturas, foram encontrados no navio, a maioria concentrada no alto da popa, em suas galerias e sobre a proa.[31] A figura de Hércules aparece como um par de pingentes, um jovem e um mais velho, em cada lado da parte inferior das galerias da popa; os pingentes retratam aspectos opostos do antigo herói, que foi extremamente popular durante a Antiguidade. Sobre o pranchão (a superfície plana na popa do navio) estão símbolos e imagens bíblicos e nacionalistas. Um motivo popular é o leão, que pode ser encontrado como mascarão, montado no interior das aberturas para os canhões, e mesmo pendurado no topo do leme. Cada lado da proa originalmente tinha 20 figuras (embora apenas 19 foram encontradas), representando os imperadores romanos de Tibério a Sétimo Severo. O único verdadeiro retrato do rei está no topo do pranchão, onde ele é retratado como um jovem rapaz com longos cabelos, prestes a ser coroado por dois grifos representando o pai do rei, Carlos IX.

Viagem

Estocolmo e o trajeto do Vasa do estaleiro de Skeppsgården até o porto onde foi equipada e armada e finalmente até onde naufragou

Em 10 de agosto de 1628, o capitão Söfring Hansson ordernou que o Vasa partisse até a estação naval de Älvsnabben. O dia era calmo, com uma pequena brisa. O navio foi rebocado ao longo do porto até seu lado sul, onde três velas foram abertas e o navio velejou para leste. Uma rajada canhão foi disparada para saudar a saída do navio de Estocolmo.

Depois do Vasa surgir no lado a jusante da cidade, uma rajada de vento encheu as velas dela e o navio tombou para esquerda, mas recuperou-se. Em breve outra rajada fez o navio inclinar para esquerda novamente, desta vez deixando entrar água pelas portas de arma inferiores, que estavam abertas. Este fluxo de água fez o navio se inclinar ainda mais e finalmente afundar numa profundidade de 32 metros, a 120 metros da costa. Os sobreviventes se agarraram aos escombros, vários barcos das proximidades ajudaram, mas, apesar desses esforços, entre 30 a 50 pessoas pereceram com o navio.

Investigação

O rei foi informado por carta do naufrágio do Vasa, em 27 de agosto, e logo ordenou uma profunda investigação e punição dos culpados. O capitão Söfring Hansson foi preso e nos interrogatórios jurou que os armamentos foram devidamente presos e que a tripulação estava sóbria. Uma comissão de investigação foi formada e todos os oficiais envolvidos e tripulantes foram interrogados e nenhuma evidência foi encontrada. O próximo foco foram os construtores que responderam que haviam seguido ordens. No final ninguém foi considerado culpado. Gustavo Adolfo havia aprovado todas dimensões e armamentos.

Destroços

As primeiras tentativas de recuperar o navio iniciaram três dias após o naufrágio, mas sem sucesso, já que a tecnologia existente na época era muito primitiva. Apesar disso o Vasa não desapareceu na obscuridade, continuou sendo mencionado em livros de história e história da marinha, porém sua exata localização foi esquecida.

No começo dos anos 1950, o arqueólogo amador Anders Franzén, começou a pensar sobre a possibilidade de resgatar os destroços do Vasa das águas frias e salobras do Mar Báltico, acreditando que o casco estaria livre da presença de Teredo navalis, uma espécie de verme que destrói a madeira submergida rapidamente, em climas mais quentes e água salgada.

Franzén já havia localizado outros naufrágios, como do Riksäpplet e Lybska Svan, e após anos procurando sem sucesso, em 1956, utilizando uma sonda caseira, localizou um grande objeto de madeira quase paralelo à entrada da doca de Beckholmen. A descoberta do navio recebeu grande atenção considerável, logo em seguida foi planejada a escavação do navio e criados planos para trazê-lo à terra, junto com a marinha e instituições do governo sueco.[32]

A recuperação foi perigosa pois mergulhadores tinham que cavar por baixo do navio para poder erguê-lo. Em 1959 foi possível movê-lo de uma profundidade de 32 para 16 metros, permitindo melhores condições de trabalho, perto de Kastellholmsviken, onde foi preparado para ser erguido por um ano e meio.[33] Em 24 de abril de 1961 foi finalmente erguido e transferido para um museu temporário no Wasavarvet (O estaleiro Vasa). Em 1990 foi aberto um novo museu, o Museu do Vasa, mais amplo para onde foi transferido.

Arqueologia

Objetos

O Vasa preservado

O Vasa tinha quatro níveis preservados: o convés superior e o inferior das armas, o convés de carga e o convés térreo. O convés superior das armas estava bastante afetado, tanto com material colapsado do próprio navio, quanto com contaminação do terreno em volta.[34] Apesar disso neste convés foram encontrados artigos interessantes como um chapéu, artigos de costura, um pente, dois pares de sapato, luvas, um caneca, moedas e outros artigos menores; um testemunho da vida simples do marinheiro do século XVII.[35] Os objetos foram catálogados e atualmente contém mais de 26 000 artefatos.[36]

Depois da retirada do navio do fundo do mar, o local foi revistado, buscando outros objetos, como as 700 esculturas encontradas que adornavam seu exterior. O último objeto trazido à tona foi um bote, que se acredita estivesse no convés ou sendo rebocado pelo Vasa quando afundou.[37]

Referências

Bibliografia

Ligações externas

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