Vitor Ramil

Vitor Hugo Alves Ramil (Pelotas, 7 de abril de 1962) é um cantor, compositor e escritor brasileiro.[1]

Vitor Ramil
Vitor Ramil
(foto: Ana Ruth Miranda/Cultura RS)
Informação geral
Nome completoVitor Hugo Alves Ramil
Nascimento7 de abril de 1962 (62 anos)
OrigemPelotas, Rio Grande do Sul
País Brasil
Gênero(s)música nativista
Ocupação(ões)cantor, compositor, instrumentista
Instrumento(s)violão, acordeão
Outras ocupaçõesEscritor
Página oficialwww.vitorramil.com.br

Trajetória

Vitor Ramil começou sua carreira artística ainda adolescente, no começo dos anos 80. Membro de uma família de músicos - com dois irmãos também cantores, Kleiton e Kledir, e um primo músico, Pery Souza[2] - aos 18 anos de idade gravou seu primeiro disco Estrela, Estrela, com a presença de músicos e arranjadores que voltaria a encontrar em trabalhos futuros, como Egberto Gismonti, Wagner Tiso e Luis Avellar, além de participações das cantoras Zizi Possi e Tetê Espíndola. Neste período Zizi gravou algumas canções de Vitor, e Gal Costa deu sua versão para Estrela, Estrela no disco Fantasia.

1984 foi o ano de A paixão de V segundo ele próprio. Com um elenco enorme de importantes músicos brasileiros, este disco experimental e polêmico, produzido por Kleiton e Kledir, seus irmãos mais velhos[3],proporcionou ao público uma espécie de antevisão dos muitos caminhos que a inquietude levaria Vitor Ramil a percorrer futuramente. Eram vinte e duas canções cuja sonoridade ia da música medieval ao carnaval de rua, de orquestras completas a instrumentos de brinquedo, da eletrônica ao violão milongueiro. As letras misturavam regionalismo, poesia provençal, surrealismo e piadas. Deste disco a grande intérprete argentina Mercedes Sosa gravou a milonga Semeadura.

Em 1987, tendo trocado o Porto Alegre, pelo Rio de Janeiro, Vitor lançou Tango. Diferentemente do disco anterior, este era o resultado do trabalho de um grupo pequeno de músicos a partir de um repertório também reduzido. Em oito canções o furor experimental e lúdico de antes cedeu lugar a letras densas e elaboradas de canções que viraram sucessos. O letrista se afirmava e o compositor tornava-se mais sutil, proporcionando aos músicos e grandes improvisadores como Nico Assumpção, Hélio Delmiro, Márcio Montarroyos, Leo Gandelman ou Carlos Bala performances marcantes.

Na passagem dos anos 80 para os 90 Vitor afastou-se dos estúdios e passou a dedicar-se ao palco, pois quase não fizera shows até então. Foi quando nasceu o personagem Barão de Satolep, um nobre pelotense pálido e corcunda, alter-ego do artista. Dividindo alguns espetáculos com esta figura ao mesmo tempo divertida e mal-humorada, mesclando música, poesia, humor e teatro, Vitor começava a consolidar seu público e a aperfeiçoar sua interpretação.

Neste período não só definiu-se a música e postura do Vitor Ramil dos discos que viriam a ser gravados na segunda metade dos anos 90 como apresentou-se o Vitor Ramil escritor, através da novela Pequod, ficção criada a partir de passagens da infância do autor, de sua relação com o pai, de suas andanças pelo extremo sul do Brasil e pelo Uruguai. A partir do lançamento deste primeiro livro, em 1995, de grande repercussão junto à crítica e recentemente lançado na França, o artista passou a ocupar-se duplamente: música e literatura.

Mas mais do que pela escritura de Pequod os anos 90 ficaram marcados para Vitor Ramil como os anos em que começou a refletir sobre sua identidade de sulista e sua própria criação através do que chamou de A estética do frio. A busca dessa “estética do frio” deu-lhe a convicção de que o Rio Grande do Sul não estava à margem do centro do Brasil, mas sim no centro de uma outra história. Neste momento, significativamente, ele deixava o Rio de Janeiro para voltar a viver no Sul.

Simultaneamente a Pequod aconteceu a gravação do CD À Beça. Tendo saído apenas como edição especial, em tiragem limitada, por uma revista de música de Porto Alegre, este disco representou seu primeiro esforço de realizar algo a partir das ideias da estética do frio. Com versos leves, cheios de coloquialidade, em melodias fluentes e inusitadas concepções rítmicas, o disco antecipava os dois próximos e mais importantes trabalhos: Ramilonga – A Estética do Frio e Tambong.

Em Ramilonga – A Estética do Frio Vitor inaugura as sete cidades da milonga (ritmo comum ao Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina): Rigor, Profundidade, Clareza, Concisão, Pureza, Leveza e Melancolia. Através delas a poesia de onze “ramilongas” percorre o imaginário regional gaúcho mesclando o linguajar gauchesco do homem do campo à fala coloquial dos centros urbanos. A reflexão acerca da identidade de quem vive no extremo sul do Brasil começa pela recusa ao estereótipo do gauchismo; o canto forte dá lugar a uma expressividade sofisticada e suave; instrumentos convencionais são substituídos por outros, como os indianos e africanos, nunca antes reunidos neste gênero de música. Pela contundência de suas ideias, pela originalidade de sua concepção, Ramilonga é uma espécie de marco zero na carreira de Vitor.

2000 e além

Tambong, seu trabalho seguinte, foi gravado em Buenos Aires, sob a produção de Pedro Aznar. Seu resultado é a confirmação da ideia de estar “no centro de uma outra história”, com a musicalidade e poesia brasileiras combinadas com as dos países do Prata a fluir naturalmente em quatorze temas cujos arranjos fazem deste um dos trabalhos mais originais da moderna música brasileira.

Tambong saiu em duas versões, português e espanhol. Para realizá-lo Vitor trabalhou com músicos argentinos, como o percussionista Santiago Vazquez, que o acompanha nos shows, e contou com a participação dos artistas brasileiros Egberto Gismonti, Lenine, Chico César e João Barone.

Os shows de lançamento de Tambong levaram para o palco a vibração ritmo|rítmica e as sutilezas harmônicas e melódicas do disco em meio a uma bela produção de luz e cenografia. Começaram com o espetáculo de abertura criado especialmente para o primeiro Fórum Social Mundial em Porto Alegre e, depois, foram readaptados para uma temporada de um mês no Rio de Janeiro e outra em São Paulo. Na Argentina o lançamento aconteceu em outubro de 2001, com dois espetáculos em Buenos Aires.

No ano de 2002, com sua banda brasileiro-argentina (Santiago Vazquez, percussão; píccolo bass e sitar; Roger Scarton, harmônio e guitarra) levou Tambong em turnê pelas principais capitais do Brasil.

Em 2003 Vitor apresentou seu primeiro show solo em Montevidéu, Uruguai, Sala Zitarrosa, mesmo local onde tocara, no final de 2002, com o compositor e intérprete uruguaio Jorge Drexler, hoje seu parceiro.

Ainda em 2003 apresentou-se com sua banda na Suíça, nas cidades de Genebra, Zurique e Schaffhausen. Em Genebra, no Teatro St. Gervais, Vitor deu uma conferência, tendo como tema “A estética do frio”. Em Paris, no mesmo período, participou do evento de lançamento da tradução para o francês de seu livro Pequod, pela editora L’Harmattan.

Além de seu livro Pequod, suas canções vem sendo distribuídas na Europa em coletâneas inglesas, espanholas e portuguesas. Sobre Vitor Ramil escreveu o produtor londrino John Armstrong: “Why hasn’t this genious dominated the world of music yet?” Algo como "Porque esse gênio ainda não domina o mundo da música?" em tradução livre.

Outubro de 2004 é a data de lançamento de Longes, seu sexto álbum, também gravado em Buenos Aires e produzido por Pedro Aznar. Neste trabalho Vitor Ramil aprofunda e aperfeiçoa a linguagem que começou a elaborar nos trabalhos anteriores, Ramilonga e Tambong. Se em Ramilonga chamava a atenção a unidade em torno de temas e timbres e se a marca de Tambong era a diversidade sonora e poética, Longes pode ser definido como uma síntese dessas qualidades, por mais paradoxal que isso pareça, e um avanço a partir delas.

Os arranjos de Longes têm sua base no violão de aço arpejado de Vitor Ramil e nos baixos melódicos de Pedro Aznar. Participam também Santiago Vazquez e Marcos Suzano nas percussões, o baterista Christian Judurcha, o pianista clássico Gabriel Victora, o guitarrista Bernardo Bosísio, a cantora Adriana Maciel, um quarteto de sopros e uma orquestra de cordas.

A apresentação gráfica de Longes traz fotografias feitas por Vitor e sua mulher Ana Ruth em vários países, além de fragmentos de Satolep, romance que Vitor escreveu simultaneamente à criação das canções do disco.

Em 2010, na cidade de Buenos Aires, Vitor Ramil gravou "Délibáb". "Delibáb" está composto por doze músicas, seis em português e seis em espanhol. As músicas em português estão baseadas em poemas de João Da Cunha Vargas (1900-1980), enquanto as músicas em espanhol são milongas de Jorge Luis Borges (1899-1986). Este disco inclui um DVD no qual pode se ver o processo completo de gravação, com a participação especial de Caetano Veloso (em "Milonga de los morenos") e Carlos Moscardini (violão). Sobre o nome deste trabalho, cujo significado é “miragem” ou, mais precisamente, "ilusão do sul", vem do húngaro "déli" (do sul) mais "báb" (de bába: ilusão). Segundo o próprio Ramil "O délibáb é um fenômeno extraordinário da planície húngara, tão semelhante às planícies do sul do nosso continente. Único em seu gênero, este tipo de espelhismo transporta paisagens muito distantes a horizontes quase desérticos, reproduzindo ante os olhos maravilhados do observador, em dias de calor, o desenvolvimento de cenas distantes." Ao escutar o disco pode-se experimentar certamente um "délibáb", porque a música projeta imagens remotas, de arrabaldes buenairenses e ambientes campeiros, na urbanidade de nossos tempos atuais. Como não ficar maravilhado diante desta “ilusão do sul”, ainda que seja só um "délibáb"?

Em 2012 é citado na lista dos 70 mestres brasileiros da guitarra e do violão da revista Rolling Stone.[4]

No ano de 2013 lança o álbum duplo "Foi no Mês que Vem", onde revisita canções lançadas em seus álbuns anteriores com convidados especiais, como: Fito Páez, Jorge Drexler, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Pedro Aznar, os manos Kleiton e Kledir, a cantora Kátia B, o percussionista Marcos Suzano (com quem dividiu o disco Satolep Sambatown), o violonista argentino Carlos Moscardini (parceiro em délibáb) e, entre outros, as revelações da nova geração porto-alegrense Bella Stone e seu filho Ian Ramil.

Em 2017 faz, assim como em 2013, uma campanha de financiamento coletivo para lançamento de seu mais novo álbum "Campos Neutrais".[5] O ábum é premiado na categoria "Projeto Visual" no 29º Prêmio da Música Brasileira pelo trabalho de Felipe Taborda.[6]

Em 2018 Campos Neutrais é indicado ao Grammy Latino nas categorias "Melhor Álbum de Música Popular Brasileira" e a música "Campos Neutrais", com arranjo de Vagner Cunha, concorre a "Melhor arranjo".[7]

No ano de 2019 apresenta em Porto Alegre o show inédito "Avenida Angélica", composto por poemas da poeta pelotense Angélica Freitas lançados nos livros Rilke shake (2007) e Um útero é do tamanho de um punho (2013) musicados por Ramil. Esta parceria entre Vitor e Angélica já havia rendido "Stradivarius", presente no álbum "Campos Neutrais". No ano seguinte Vitor arquiteta a composição do álbum "Avenida Angélica", o 12º de sua carreira. Poemas como "A mulher de rollers", "Família vende tudo", "Ringues polifônicos" (poema que inclui o verso-título Avenida Angélica), "RC" e "Vida aérea" estão presentes no repertório.[8]

Em março de 2022 anuncia "Rilke Shake", o primeiro single de seu novo álbum "Avenida Angélica".

Discografia

Obra literária

Prêmios e indicações

AnoCategoriaIndicaçãoResultado
1991[9]CompositorVitor RamilVenceu
1992[10]LetristaVitor RamilIndicado
1995[11]CompositorVitor RamilVenceu
Disco[12]À BeçaIndicado
1997[13]Disco de MPB/SambaRamilonga - A Estética do FrioVenceu
Compositor[14]Vitor RamilIndicado
CantorVitor RamilIndicado
1999[15]Espetáculo de MPBBorges da Cunha Vargas RamilIndicado
2000[16]Compositor de MPBVitor RamilVenceu
Disco de MPB[17]TambongIndicado
Música ou CançãoEspaçoIndicado
2004[18]Disco de MPBLongesIndicado
2007[19]Compositor de MPBVitor RamilVenceu
Intérprete de MPBVitor RamilVenceu
Disco de MPBSatolep Sambatown (com Edi Rock)Venceu
Espetáculo do AnoSatolep Sambatown (com Edi Rock)Venceu
2010[20]DVD do AnoDélibábVenceu
Disco de MPBDélibábVenceu
Produtor Musical[21]Vitor RamilIndicado
Compositor de MPBVitor RamilIndicado
Intérprete de MPBVitor RamilIndicado
2013[22]Álbum do AnoFoi no Mês que VemVenceu
Produtor MusicalVitor RamilVenceu
Intérprete de MPBVitor RamilVenceu
Álbum de MPBFoi no Mês que VemVenceu
AnoCategoriaIndicaçãoResultadoRef.
2018Melhor Álbum de MPBCampos NeutraisIndicado[23][24]
Melhor ArranjoCampos Neutrais (música)Indicado

Ver também

Referências

Ligações externas