Aziz Ab'Saber

Aziz Nacib Ab'Saber (São Luiz do Paraitinga, 24 de outubro de 1924Cotia, 16 de março de 2012) foi um geógrafo e professor universitário brasileiro.[1]

Aziz Ab'Saber
Aziz Ab'Saber
Nascimento24 de outubro de 1924
São Luiz do Paraitinga
Morte16 de março de 2012 (87 anos)
Cotia
CidadaniaBrasil
Alma mater
Ocupaçãogeógrafo, professor universitário, geólogo, arqueólogo
Prêmios
  • Prêmio Jabuti (2005)
  • Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico
Empregador(a)Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
Obras destacadasA terra paulista
Causa da morteenfarte agudo do miocárdio

Considerado como referência em assuntos relacionados ao meio ambiente e a impactos ambientais decorrentes das atividades humanas foi um professor polivalente, laureado com as mais altas honrarias científicas em geografia, arqueologia, geologia e ecologia - Membro Honorário da Sociedade de Arqueologia Brasileira, Grã-Cruz em Ciências da Terra pela Ordem Nacional do Mérito Científico, Prêmio Internacional de Ecologia de 1998 e Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente. Era Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), professor honorário do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) da mesma universidade e ex-presidente e atual Presidente de Honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Embora aposentado compulsoriamente no final do século XX, manteve-se em atividade até o fim da vida.

Na véspera da sua morte, entregou à SBPC os arquivos de sua obra completa, em DVD, com a seguinte dedicatória: "Tenho o grande prazer de enviar para os amigos e colegas da Universidade o presente DVD que contém um conjunto de trabalhos geográficos e de planejamento elaborados entre 1946-2010. Tratando-se de estudos predominantemente geográficos, eu gostaria que tal DVD seja levado ao conhecimento dos especialistas em geografia física e humana da universidade".[2]

Biografia

Filho de um mascate libanês e de uma brasileira de São Luiz do Paraitinga e criado em meio a roceiros dos quais sua mãe era filha, se muda para São Paulo. Pouco antes de ingressar na Universidade de São Paulo (USP) no curso de Geografia e História, aos dezessete anos, assumiu sua primeira função pública como jardineiro da Universidade, enquanto dava continuidade à sua formação com cursos de especialização.[3][4]

Trabalhou durante vários anos como professor do ensino básico. Posteriormente lecionou na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e, posteriormente, na USP.[5]

Iniciou suas pesquisas na área de geomorfologia e logo passou a incorporar conceitos de diferentes áreas do saber.[6] Desenvolveu centenas de pesquisas e tratados científicos, dando contribuições importantes para a ecologia, biologia evolutiva, fitogeografia, geologia, arqueologia, além da geografia.[7]Dentre algumas dessas múltiplas contribuições, estão estudos que corroboram a descoberta de petróleo na porção continental na Bacia Potiguar e a coordenação da criação dos parques de preservação da Serra do Mar e do Japi.[8]

Entre os temas abordados incluem exaustivas classificações e levantamentos nos domínios morfoclimáticos e dos ecossistemas continentais sul-americanos, reconstituição de paleoclimas sul-americanos, sendo um dos elaboradores da Teoria dos Refúgios Florestais.[9] Realizou também estudos de planejamento urbano aerolar, pesquisas de geomorfologia climática sul-americana, elaboração de modelos explicativos para a diversidade biológica neo-tropical - Redutos Pleistocênicos - além de estudos sobre rotas de migração dos povos pré-colombianos sul-americanos. Atuou também com medidas para preservação do patrimônio histórico - tombamento do Teatro Oficina) - e teorias da educação, com o fim de incluir currículos setoriais em grades de ensino regionais e nacionais.[10][11]

No ano de 2006, recebeu o título de Doutor Honoris Causa concedido pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) pelo conjunto de sua obra, no campus de Rio Claro.[12]

Morte

Ab'Saber morreu de parada cardíaca na manhã de 16 de março de 2012, por volta das 10h20min, em sua casa na região metropolitana de São Paulo, aos 87 anos.[13][14] A informação foi dada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), instituição que Ab'Saber presidiu de 1993 a 1995 e da qual era presidente de honra e conselheiro.

Apesar da idade avançada, o geógrafo continuava sendo um observador atento das controvérsias políticas relativas à questão ambiental.[15] Envolveu-se, por exemplo, com a discussão do novo Código Florestal Brasileiro, que pode alterar as áreas de preservação obrigatórias em propriedades particulares, nos últimos dois anos. Segundo a SBPC, Ab'Saber criticou o texto por não considerar o zoneamento físico e ecológico de todo o Brasil e não levar em consideração a diversidade de paisagens naturais do país. O estudioso também chegou a sugerir a criação de um Código da Biodiversidade para implementar a proteção a espécies da flora e da fauna brasileiras.[16]

Características de sua obra

Ab'Saber defendeu um papel mais ativo dos cientistas, com a ciência aplicada e colocada a serviço dos movimentos sociais.[17] Esse ideal o levou a ser consultor ambiental do Partido dos Trabalhadores (PT) e a tornar-se próximo de Luiz Inácio Lula da Silva por um longo período. Posteriormente tornou-se crítico do Governo Lula devido, especialmente, à sua política ambiental - a qual classificou como a maior frustração na história do movimento ambientalista brasileiro. O intenso apoio governamental aos usineiros e ao projeto de Transposição do Rio São Francisco - que julgava servir primordialmente aos interesses dos grandes proprietários de terra do nordeste seco - também colaboraram para seu distanciamento. Avaliava que o governo, ao mesmo tempo em que conseguia popularidade com medidas mitigadoras, aprofundava um modelo de desenvolvimento hostil aos interesses da maior parte da população brasileira. Com a credibilidade adquirida nas décadas de trabalho como cientista, Ab'Saber procurava respaldar os movimentos sociais que lutam contra obras desenvolvimentistas hostis aos seus interesses e seus modos de vida - como a citada transposição do Rio São Francisco ou a barragem dos rios do Vale do Ribeira.[18] Homenageado do ano durante a reunião do SBPC de 2010, Ab'Saber proferiu pesadas críticas às mudanças no Código Florestal Brasileiro colocando-o no contexto de desmonte da política ambiental brasileira.

Sua última crítica referia-se ao chamado aquecimento global. Ab'Saber não negava o aquecimento mas afirmava que a contribuição antrópica para o fenômeno ainda não era suficientemente conhecida. Afirmava que algumas das previsões de impactos desconsideravam fatores relevantes, podendo incorrer em diagnósticos imprecisos. Apontava a onda de calor do verão (no hemisfério sul) 2009-2010 como exemplo de como a interpretação dos fenômenos climáticos é, por vezes, distorcida. Enquanto muitos argumentam que o aquecimento global foi o responsável por isso, Ab'Saber recordava que este fora o pico de atividade do El Niño, que se repete a cada doze anos (ou treze anos ou, ainda, a cada 26 anos) e que, portanto, um pico de calor era esperado.[19] No entanto, o geógrafo reconhecia a urgência de medidas agressivas de redução dos gases do efeito estufa e uma ação incisiva do governo brasileiro para interromper totalmente o desmatamento na Amazônia.[20]

O valor literário de sua obra também foi reconhecido. Aziz Ab'Saber recebeu três vezes o Prêmio Jabuti: duas vezes na categoria de ciências humanas e uma vez para ciências exatas.

Mapa de domínios morfoclimáticos

É de autoria de Ab'Saber o mapa de domínios morfoclimáticos, que procura destacar a modelagem do relevo e dos seus constituintes, as rochas e os solos, além das variações climáticas e ecológicas, que assim geram o bioma.[21] Ab'Saber divide o Brasil em seis grandes regiões, catalogadas como amazônico, caatingas, cerrados, mares de morros, araucárias e pradarias.[22] Além disso, o autor determina a categoria de "faixas de transição", sobre as áreas limites entre biomas que possuem características de dois biomas distintos devido à proximidade geográficas dos biomas.[23]

O mapa é amplamente difundido e muito utilizado em questões de vestibulares como o Vestibular da Unesp e da Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST).[24][25]

Obras selecionadas

  • A Obra de Aziz Nacib Ab'Saber (2010), São Paulo, BECA (588 pp. e CD)
  • Ecossistemas do Brasil[26]
  • Os domínios da natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas[27]
  • Litoral Brasileiro
  • São Paulo: ensaios entreveros[28]
  • Amazônia: do discurso a práxis
  • Áreas de circudesnudação periférica pós-cretácea
  • A Terra Paulista
  • O homem do terraço de Ximango
  • Espaços ocupados pela expansão dos climas secos na América do Sul, por ocasião dos períodos glaciais quaternários
  • Domínios geomorfológicos da América do Sul: primeira aproximação
  • O homem na América Tropical: estoques raciais em contato e conflito
  • The Paleoclimate and Paleoecology of Brazilian Amazon
  • Geomorfologia do Sítio Urbano de São Paulo[29]

A SBPC tem uma última obra inédita do geógrafo, a ser publicada: o terceiro volume da coleção Leituras Indispensáveis, com trabalhos dos primeiros geógrafos do Brasil.[13]

Alguns prêmios e condecorações recebidos

Referências

Ligações externas

Wikiquote
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Precedido por
Jurandir Freire Costa / Nachman Falbel / Isabel Maria Loureiro / Octávio Ianni

Prêmio Jabuti - Ciências Humanas

1997
Sucedido por
Laura de Mello e Souza / Luiz Felipe de Alencastro / Mary Del Priore (org) / Boris Fausto
Precedido por
Francisco de Oliveira

Prêmio Jabuti - Ciências Humanas

2005
Sucedido por
Domingos Meirelles
Precedido por
Fernando Nobre

Prêmio Jabuti - Ciências Naturais e da Saúde

2007
Sucedido por
Sergio Kignel