Humberto Delgado

militar e político português (1906-1965)
 Nota: Para a praça homónima, no Porto, veja Praça do General Humberto Delgado.

Humberto da Silva Delgado ComCGCAComSEGCLOIPCBE (Torres Novas, Brogueira, Boquilobo, 15 de Maio de 1906 – Villanueva del Fresno, Espanha, 13 de Fevereiro de 1965) foi um militar português da Força Aérea que corporizou o principal movimento de tentativa de derrube do regime salazarista através de eleições, tendo contudo sido derrotado nas urnas, num processo eleitoral reconhecidamente fraudulento, onde não houve fiscalização pela parte da oposição,[1] que deu a vitória ao candidato do regime, Américo Tomás. Ficou popularmente conhecido como o General sem Medo.

Humberto Delgado
Marechal da Força Aérea
Humberto Delgado
Nome completoHumberto da Silva Delgado
Conhecido(a) porOposição ao Estado Novo
Nascimento15 de maio de 1906
Boquilobo, Brogueira, Torres Novas
Portugal
Morte13 de fevereiro de 1965 (58 anos)
Villanueva del Fresno, Badajoz, Espanha
Nacionalidadeportuguês
OcupaçãoMilitar
Página oficial
www.humbertodelgado.pt

Já depois do 25 de Abril de 1974 foi, a título póstumo, alvo de várias homenagens. Recebeu Honras de Panteão e a dignidade honorífica de Marechal.

Biografia

Primeiros anos

Foi filho de Joaquim Delgado, primeiro sargento de Artilharia 3, e de Maria do Ó Pereira Delgado, doméstica, ambos naturais de Brogueira.[2]

Frequentou o Colégio Militar entre 1916 e 1922.[3]

Em 1925 entrou na Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas.

Participou no movimento militar de 28 de Maio de 1926, que derrubou a República Parlamentar e implantou a Ditadura Militar que, poucos anos mais tarde, em 1933, iria dar lugar ao Estado Novo liderado por Salazar.

Durante muitos anos apoiou as posições oficiais do regime salazarista, particularmente o seu anticomunismo.

Casou a 26 de fevereiro de 1930 com Maria Iva Andrade (Leiria, 13 de maio de 1908 - Lisboa, 2 de janeiro de 2014), filha de Carlos Eduardo Tavares de Andrade, compositor modernista, fidalgo da Casa Real e senhor da Quinta da Cela Velha, em Alcobaça, e de Maria Luísa Theriaga Leitão. Tiveram três filhos: Humberto Ivo, Iva Humberta e Maria Humberta.[4]

Carreira militar e pública

Placa de homenagem ao General Humberto da Silva Delgado na Estação Ferroviária de Santa Apolónia, na cidade de Lisboa.

Senhor de um carácter dinâmico, extrovertido e agressivo, Delgado destacou-se pela sua oposição à democracia parlamentar nos primeiros anos do regime, escrevendo um livro polémico, Da Pulhice do Homo Sapiens (1933, Casa Ventura Fernandes), onde ataca violentamente tanto os monárquicos como os republicanos, e onde manifesta a sua simpatia por Salazar e a sua obra. Em 1941, Humberto Delgado assumiu publicamente a sua simpatia por Hitler tendo publicado dois artigos na Revista Ar, em que teceu os seguintes elogios ao líder Nazi: “O ex-cabo, ex-pintor, o homem que não nasceu em leito de renda amolecedor, passará à História como uma revelação genial das possibilidades humanas no campo político, diplomático, social, civil e militar, quando à vontade de um ideal se junta a audácia, a valentia, a virilidade numa palavra”.[5][6]

No entanto, com o decorrer da II Guerra Mundial, as suas simpatias passaram para os Aliados. Representou Portugal nos acordos secretos com o Governo Inglês sobre a instalação das Bases Aliadas nos Açores durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1944 foi nomeado Director do Secretariado da Aeronáutica Civil.

Entre 1947 e 1950 representou Portugal na Organização da Aviação Civil Internacional, sediada em Montreal, Canadá.

Foi Procurador à Câmara Corporativa (V Legislatura)[7] entre 1951 e 1952.

Em 1952 foi nomeado adido militar na Embaixada de Portugal em Washington e membro do comité dos Representantes Militares da NATO. Promovido a general na sequência da realização do curso de altos comandos, onde obteve a classificação máxima, passa a Chefe da Missão Militar junto da NATO.

Regressado a Portugal foi nomeado Director-Geral da Aeronáutica Civil.

Oposição ao regime

Estátua de tributo ao General Humberto Delgado, da autoria do escultor José Rodrigues, inaugurada em Maio de 2008 na Praça Carlos Alberto, na cidade do Porto.

Os cinco anos que viveu nos Estados Unidos modificam a sua forma de encarar a política portuguesa. Convidado por opositores ao regime de Salazar para se candidatar à Presidência da República, em 1958, contra o candidato do regime, Américo Tomás, aceita, reunindo em torno de si toda a oposição ao Estado Novo.

Numa conferência de imprensa da campanha eleitoral, realizada em 10 de Maio de 1958 no café Chave de Ouro, no Rossio em Lisboa, quando lhe foi perguntado pelo célebre jornalista Mario Neves[8] que postura tomaria em relação ao Presidente do Conselho Oliveira Salazar, respondeu com a frase "Obviamente, demito-o!".

Esta frase incendiou os espíritos das pessoas oprimidas pelo regime salazarista que o apoiaram e o aclamaram durante a campanha com particular destaque para a entusiástica recepção popular na Praça Carlos Alberto no Porto a 14 de Maio de 1958.

Devido à coragem que manifestou ao longo da campanha perante a repressão policial foi cognominado "General sem Medo". Por outro lado, os seus detractores comunistas alcunharam-no de "General Coca-Cola", dizendo que estaria ao serviço da CIA.[9]

O acto eleitoral ocorreu a 8 de Junho de 1958. Surpreendentemente, apesar do esmagador apoio popular que recebera durante a campanha, Delgado perdeu com 23% dos votos, enquanto o impopular e apagado candidato de Salazar, Américo Tomás, foi eleito com 76,4% dos votos, o que imediatamente levantou a suspeita de uma generalizada fraude eleitoral, perpetrada pela PIDE e outros sequazes do regime.

Exílio e morte

Em 1959, na sequência da derrota eleitoral, vítima de represálias por parte do regime salazarista e alvo de ameaças por parte da polícia política, pediu asilo político na Embaixada do Brasil, seguindo depois para o exílio nesse país.[10]

Convencido de que o regime não poderia ser derrubado por meios pacíficos promoveu a realização da Revolta de Beja, a qual veio a ser concretizada em 1962 e que visava tomar o quartel de Beja e outras posições estratégicas importantes de Portugal. O golpe, porém, fracassou.[11][12]

Assassinato pela PIDE

Pensando vir reunir-se com opositores ao regime do Estado Novo, Humberto Delgado dirigiu-se à fronteira espanhola em Los Almerines, perto de Olivença, em 13 de Fevereiro de 1965. Ao seu encontro, liderado pelo inspector Rosa Casaco foi uma brigada da PIDE, constituído pelo sub-inspector Ernesto Lopes Ramos, e pelos chefes de brigada Casimiro Monteiro e Agostinho Tienza em dois automóveis.

Chegados ao ponto de encontro, Monteiro, rapidamente, aproximou-se do general e, empunhando uma pistola com silenciador, disparou-lhe sobre a cabeça, matando-o logo. A secretária Arajaryr Campos, aterrorizada, começou a gritar e Tienza, com uma arma semelhante, também a matou. Os corpos foram transportados para as bagageiras dos carros e levados dali para perto de Villanueva del Fresno, junto a um caminho chamado Los Malos Pasos, cerca de 30 km a sul do local do crime, onde foram largados numa vala natural, cobertos com ácido sulfúrico e cal viva, e apressadamente enterrados. Os cadáveres viriam a ser descobertos semanas depois a 24 de Abril, por umas crianças que andavam a brincar na zona.

Mais tarde, Rosa Casaco afirmou ter sido surpreendido com as mortes, dizendo que o plano seria raptar o general, depois de o tornar inconsciente com clorofórmio, e levá-lo preso para Portugal para ser julgado por actos terroristas. Disse que Monteiro e Tienza teriam sido mandatados por chefias superiores da PIDE para matarem o general, sem que Casaco tivesse sido informado previamente.[13]

Em Janeiro de 1975 os seus restos mortais foram transferidos de Espanha até ao Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.[14]

Homenagens

A Assembleia da República Portuguesa decidiu, a 19 de Julho de 1988,[15] que fosse feita a transladação dos restos mortais de Humberto Delgado, do Cemitério dos Prazeres para o Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa. A cerimónia aconteceu a 5 de Outubro de 1990,[16] dia em que se assinalava os 80 anos da Implantação da República Portuguesa. Nesta mesma altura, o General foi elevado, a título póstumo, a Marechal da Força Aérea.[17] Em Fevereiro de 2015, por ocasião do 50.º aniversário do seu assassinato, a Câmara Municipal de Lisboa propôs ao governo Português a alteração do nome do Aeroporto de Lisboa para Aeroporto Humberto Delgado.[18] O governo aceitou a proposta e desde 15 de Maio de 2016 que o Aeroporto da Portela se designa por Aeroporto Humberto Delgado.[19]

Ordens honoríficas

Bibliografia / curiosidades

  • ALVES, Jorge Fernandes. O furacão «Delgado» e a ressaca eleitoral de 1958 no Porto. Porto, Centro Leonardo Coimbra da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1999. ISBN 972-8444-03-6.
  • DELGADO, Iva; PACHECO, Carlos; FARIA, Telmo (coordenação). ROSAS, Fernando (prefácio). Humberto Delgado e as eleições de 58. Lisboa, Vega, 1998. ISBN 972-699-637-6.
  • DELGADO, Humberto. DELGADO, Iva; FIGUEIREDO, António de (compilação e apresentação). Memórias de Humberto Delgado. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1991. ISBN 972-20-0924-9.
  • LINS, Álvaro. Missão em Portugal. Lisboa, Centro do Livro Brasileiro, 1974.
  • DELGADO, Humberto; Memórias (Colecção "Compasso do tempo"). Delfos, Lisboa, 1974.
  • SERTÓRIO, Manuel; Humberto Delgado: 70 Cartas Inéditas - A luta contra o Fascismo no exílio. Praça do Livro, Lisboa, 1978.
  • MÚRIAS, Manuel Beça. Obviamente demito-o: retrato de Delgado nas palavras dos companheiros de luta. S.l., António dos Reis, s.d.
  • PINHEIRO, Patrícia McGowan. Misérias do exílio: os últimos meses de Humberto Delgado. Lisboa, Contra-Regra, 1998. ISBN 978-972-916-616-7.
  • ROSA, Frederico Delgado. Humberto Delgado: biografia do general sem medo. Lisboa, A Esfera dos Livros, 2008. ISBN 978-989-626-108-5.
  • ROSA, Frederico Delgado. Humberto Delgado e a aviação civil. Lisboa, Chaves Ferreira Publicações, 2006. ISBN 9789728987015.
  • MARGARIDO, Manuel; Grandes Protagonistas da História de Portugal: Humberto Delgado. Lisboa, Editora Planeta DeAgostini, 2004-05.
  • DELGADO, Iva; Meu Pai, o General Sem Medo. Lisboa, Editorial Caminho, 2015.

Ver também

Referências

Ligações externas

Wikiquote
O Wikiquote possui citações de ou sobre: Humberto Delgado