Serpe

Uma serpe ou guivra (/ˈsεɾpɪ/, /ˈsεɾpə/ ou também /ˈɡɪvɾa/. em inglês: wyvern ou wiverne; pronúncia em inglês: /ˈwvəɹn/, derivada da palavra francesa wivre, "víbora"[1]), é todo réptil alado de duas patas semelhante a um dragão, e frenquentemente uma cauda pontiaguda no qual dita ser um ferrão venenoso em forma de lança.

Representação medieval de um dragão na História de São Jorge e o dragão, de Paolo Uccello. Atualmente esta figura é geralmente chamada "Serpe"

A serpe, nas suas mais variadas formas, é bastante representada na heráldica medieval[2], aparecendo frequentemente como mascote de escolas e equipas desportivas (principalmente nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá). É também uma criatura popular na literatura europeia, em videojogos e na fantasia moderna. Ao contrário dos dragões de quatro patas, na heráldica e no folclore, a serpe raramente cuspia fogo.

Etimologia

A atual grafia em inglês, wyvern, não é atestada antes do século XVII como "dragão alado de dois pés".[3] De acordo com o Oxford English Dictionary, é uma alteração ao inglês médio wyver (século XIII), derivando do anglo-francês wivre (em francês: guivre ou vouivre), que se originam do latim vīpera, que significa "víbora", "colubridae" ou "áspide".[3][4] Por outro lado, o medievalista William Sayers propõe uma origem mais complexa para o termo. William observa que o guivre anglo-francês e o seu derivado em inglês médio deixaram de reter o sentido original de "cobra venenosa" depois do termo latino ter sido reintroduzido no latim medieval, libertando-os para assumir um significado alternativo.[5]:460 Aduzindo outro significado de wiver (desta vez em inglês antigo) e guivre, "dardo leve",[5]:461 e observando semelhanças parciais entre o tamanho e a forma entre dardos e cobras,[5]:462 mais o uso crescente, na era medieval posterior, de armadura pesada e uso decrescente de dardos leves, William propõe que os conceitos de "cobra venenosa" e "dardo leve" foram fundidos para produzir um novo termo, para um conceito anteriormente inimaginável, de cobra-voadora, uma espécie de dragão.[5]:463

Representação ilustrativa da serpe

História

Acredita-se que uma serpe dourada tenha sido o símbolo do reino medieval de Wessex

O desenho da serpe é considerado, por alguns historiadores, ter sido derivado da figura do dragão usado pelas legiões de Trajano na Dácia. Pode também ser a origem do dragão vermelho do País de Gales e do dragão dourado do Reino de Wessex, usado na Batalha de Burford em 752 d.C.[6]

A utilização de dragões para representar o País de Gales remonta a séculos; como visto na "Historia Regum Britanniae" de Godofredo de Monmouth, ao retratar a profecia de Merlin, em que o dragão vermelho do País de Gales derrota o dragão anglo-saxão branco e em que são vistos com duas patas em vez das quatro patas que o dragão galês atual possui.[7] Desde o século IV, os reis e príncipes galeses carregam consigo a representação de um dragão, onde cada governante muda a aparência de uma serpe para um dragão de quatro patas.

O conceito de cobras aladas é comum em culturas ao redor do Mediterrâneo, com um exemplo notável a ser a deusa egípcia Uto.[8] As criaturas mais antigas chamadas de "dragões alados" são os corcéis da carruagem de Hélio , que ajudam Medeia.

Distinção de dragões

Dragão héraldico (ou Serpe)

Na maioria das línguas, culturas e contextos, nenhuma distinção é feita entre serpes e dragões. Desde o século XVI, na heráldica inglesa, escocesa e irlandesa, a principal diferença entre ambos é que uma serpe tem duas patas, enquanto um dragão tem quatro. Esta distinção não é comummente observada na heráldica de outros países europeus, onde criaturas parecidas com dragões de duas patas são chamadas de dragões.[9]

Na fantasia moderna

No género de fantasia moderno, há pouca diferenciação entre dragões e serpes, com criaturas mágicas reptilianas de duas patas a provavelmente também serem chamadas de "dragões", sem qualquer diferenciação entre os tipos. Serpes, quando presentes como criaturas distintas de dragões, tendem a não parecer tão mágicas e mais como feras perigosas: menores, mais fracos e menos inteligentes do que os dragões. Enquanto um dragão de fantasia geralmente tem um sopro, como o fogo, as serpes raramente têm tais habilidades e são mais temidos pela sua ferocidade e pelos dentes e garras afiados. Por vezes, também são associados a veneno, seja na forma de presas venenosas, pela presença de uma farpa na cauda, ou pelo hálito venenoso, mas essa característica não é universalmente representada e pode ser uma adição mais recente à tradição baseada no monstro-de-gila.[10]

A serpe aparece frequentemente na ficção de fantasia moderna, embora as suas primeiras aparições literárias possam ter sido em bestiários medievais.[11]

Na heráldica

A serpe é uma frequente figura na heráldica e vexilologia inglesas, também ocasionalmente aparecendo como um suporte ou timbre.

Serpes a suportar o brasão de John Churchill, 1.º Duque de Marlborough

Uma serpe é tipicamente retratada a descansar sobre as suas patas e cauda, mas pode ser retratada com as garras no ar e apenas sustentada pela cauda. Ocasionalmente, uma serpe pode ser retratada sem asas e com uma cauda agulhada.[12]

Uma serpe branca (Argento) formou o brasão da vila de Leicester conforme registado na visitação heráldica de Leicestershire em 1619: "Uma serpe sem pernas argênteas salpicada de feridas gules, asas expandidas arminho." O termo "sem pernas" pode não significar que as suas pernas não estavam representadas, mas escondidas ou dobradas sob.[13] Tal foi adotado pela Midland Railway em 1845, quando se tornou a parte do seu brasão de armas não oficial.[14] A empresa afirmou que a "serpe era o padrão do Reino da Mércia", e que também era "um quartel nos braços da cidade de Leicester".[15] No entanto, em 1897, a Railway Magazine notou que parecia "não haver fundamento de que a serpe estivesse associada ao Reino da Mércia".[16] A serpe tem sido associado a Leicester desde a época de Thomas (segundo conde de Lancaster e Leicester (c. 1278–1322)), o senhor mais poderoso de Midlands, que o usava como o seu brasão pessoal.[17]

Uma serpe verde ergue-se no emblema da antiga e histórica cidade da Úmbria de Terni, o dragão é chamado pelos cidadãos com o nome de Thyrus. Uma serpe zibelina num fundo branco com asas endossadas, forma o brasão de armas da família Tilley.

Os braços da Venerável Sociedade dos Boticários (Worshipful Society of Apothecaries) representam uma serpe, simbolizando a doença, tendo sido vencida por Apolo, simbolizando a medicina.

Como logótipo ou mascote

Serpes presentes no emblema do clube de futebol inglês Leyton Orient F.C.

A serpe também é um logótipo comercial ou mascote bastante popular, especialmente no País de Gales e no que outrora foi o Reino de West Country de Wessex, mas também em regiões mais distantes como em Herefordshire e Worcestershire, já que os rios Wye e Severn passam por Hereford e Worcester, respectivamente. Uma estação de rádio local anteriormente era chamada de Wyvern FM. A Vauxhall Motors teve um modelo, na década de 1950, chamado Wyvern. A Westland Wyvern foi uma aeronave britânica de ataque multifunções, baseada em porta-aviões de assento único, construída pela Westland Aircraft e que serviu na década de 1950. Esta aeronave esteve em serviço ativo na Crise de Suez de 1956.

A serpe é uma mascote frequente em equipas desportivas, faculdades e universidades, principalmente no Reino Unido e nos Estados Unidos. É também a mascote da equipa SSG Landers, fundada em 2000, que participa na KBO League, da King's College, na Universidade de Queensland, e da equipa japonesa de basquetebol, Passlab Yamagata Wyverns que participa na B. League do Japão.

Também é a mascote do 51º Esquadrão de Apoio a Operações da Base Aérea de Osan, com o lema: "breathin' fire!" (em português: "respirando fogo!")[18]

Uma serpe está representada no brasão da unidade da 31ª Asa de Caça da USAF. É também apresentada no símbolo dos clubes de ambas as equipas inglesas Leyton Orient F.C. e Carlisle United F.C.. É ainda a mascote da equipa do Woodbridge College em Woodbridge, em Ontário, no Canadá e do Quinsigamond Community College em Worcester, Massachusetts.

Os logótipos tanto do LLVM, o projeto de infraestrutura do compilador, como também do fabricante de chocolate suíço Lindt são serpes.

Para além disso, é o apelido de uma aeronave fictícia da série Ace Combat: o X-02 Wyvern.

Exemplos

Ver também

Referências

Bibliografia