Torneio de Paris de 1957

O Torneio de Paris de 1957 (em francês: 1957 Tournoi de Paris) foi a primeira edição do Torneio de Paris, campeonato disputado por equipes da Europa e da América do Sul durante o mês de junho. A edição de 1957 tem importância por haver evidências de que tenha sido um fator de influência para a criação da Copa Intercontinental. O Vasco sagrou-se campeão do I Torneio de Paris, de forma invicta, ao superar o então bicampeão da Copa dos Campeões da Europa, Real Madrid, por 4-3 na grande final.[1][2][3][4][5][6]

I Torneio de Paris
Torneio de Paris de Futebol de 1957
Dados
Participantes4 Equipes
AnfitriãoFrança Racing Club de France
no Parc des Princes, Paris
Período12 de Junho
14 de Junho de 1957
Gol(o)s28
Partidas4
Média7 gol(o)s por partida
CampeãoBrasil Vasco
Vice-campeãoEspanha Real Madrid
Melhor marcadorMateos (Real Madrid) – 3 gols

A competição foi organizada pelo Racing Club de Paris.[7] O formato foi o mesmo para todas as edições, sempre disputadas no Parc des Princes, em Paris, capital da França. Ao longo de seu primeiro período de existência (1957–1966, quando organizado pelo Racing Paris), em geral contou com o clube anfitrião, mais um grande clube brasileiro do Rio de Janeiro ou de São Paulo e duas outras equipes europeias.

A apresentação do Vasco da Gama na final do torneio contra o galático Real Madrid encantou os mais de 65 mil presentes e a imprensa francesa,[8][9][10] prestigiando a si e ao futebol brasileiro perante todo o público europeu.[11] Os gols cruzmaltinos foram marcados por Válter Marciano, duas vezes, Vavá e Sabará. Alfredo Di Stéfano, Mateos e Kopa fizeram para a equipe madrilenha.

O Real Madrid era então considerado o melhor time do mundo por ter vencido as duas primeiras edições da Copa dos Campeões da UEFA (1955-56 e 1956-57), e continuaria conquistando a maior competição europeia nas três edições seguintes (1957-58, 1958-59, 1959-60), conseguindo um pentacampeonato europeu consecutivo, até hoje inalcançado.

No dia seguinte ao jogo entre Vasco e Real Madrid, Jacques Ferran, jornalista francês cofundador da Copa dos Campeões da Europa,[12] escreveu no jornal L'Équipe: "E então, bruscamente o Real desapareceu literalmente. Seriam as camisas de um vermelho pálido ou os calções de um azul triste que enfraqueciam a soberba equipe espanhola? Não; é que, antes, apareceram subitamente do outro lado os corpos maravilhosos, apertados nas camisas brancas com a faixa preta, de onze atletas de futebol, de onze diabos negros que tomaram conta da bola e não a largaram mais. Durante a meia hora seguinte a impressão incrível, prodigiosa, que se teve é que o grande Real Madrid campeão da Europa, o intocável Real vencedor de todas as constelações europeias estava aprendendo a jogar futebol". Já o jornal France Soir afirmou após o torneio: "O Real Madrid não é o maior time do mundo. Sobre isso, falem com o Vasco da Gama".[13]

O Jornal dos Sports, em coluna de texto quadro em "Monotonia" de Mário Júlio Rodrigues brincando com a derrota do Fluminense e a perda de sua invencibilidade no jogo internacional de Lima, o jornalista citou após isso a conquista do Vasco da Gama como um "mundial de clubes".[14] O triunfo do Vasco no Torneio de Paris de 1957 foi a primeira vitória de uma equipe sul-americana contra um campeão continental europeu. Além disso, nesse quadro "Monotonia" do jornalista foi a primeira vez (antes da criação da Copa Intercontinental) que um clube sul-americano foi chamado de campeão mundial por vencer um campeão da Copa dos Campeões da Europa.

Em junho de 2023, artigo no site da FIFA sobre a Copa Intercontinental se referiu à final do Torneio de Paris de 1957 como "the most notable" (o mais notável) entre "examples of teams from two continents meeting before 1960" (exemplos de clubes de dois continentes se encontrando antes de 1960 - ou seja, antes da Copa Intercontinental), e que "reflected the possibilities that lay ahead" (refletiu as possibilidades que estavam adiante).[15]

Reconhecimentos

Único torneio intercontinental com um clube campeão europeu antes da criação da Copa Intercontinental

O argentino Alfredo Di Stéfano e o húngaro Ferenc Puskás eram amigos e companheiros no clube espanhol Real Madrid, fazendo parte da geração que conquistaria as cinco primeiras edições da Copa dos Campeões da Europa, o que anos mais tarde renderia o título de "O Maior Clube do Século",  eleito em pesquisa da FIFA.[16] Em junho de 1957, o Real Madrid foi derrotado, pela primeira vez após se tornar campeão europeu, por uma equipe não-européia, o brasileiro Vasco da Gama, na final do I Torneio de Paris, levantando dúvidas sobre a invencibilidade do então campeão europeu.[17] Testar a suposta invencibilidade daquele Real Madrid foi uma das razões que deram motivação à criação da Copa Intercontinental.[18]

Entre a primeira coroação de um campeão continental europeu, com o título do Real Madrid na edição inaugural da Copa dos Campeões da Europa (temporada 1955-56, com final realizada em 13/06/1956),[19] e o anúncio da criação da Copa Intercontinental (cuja criação foi anunciada por João Havelange, como convidado, em reunião da UEFA realizada em 08/outubro/1958),[20] houve apenas dois torneios intercontinentais (com times de mais de um continente) com a participação do Real Madrid (que foi campeão europeu em todas as temporadas de 1955-56 a 1959-60).[21] O primeiro foi a Pequena Taça do Mundo de 1956, conquistada pelo Real Madrid, porém a equipe espanhola foi convidada a esta competição antes de sagrar-se campeão europeu.[22] O outro foi o Torneio de Paris de 1957,[23] que acabou sendo assim o primeiro torneio intercontinental (com times de mais de um continente) do qual o Real Madrid aceitou participar após se tornar campeão europeu (temporada 1955-56) em 13/06/1956, tendo aceitado participar deste torneio poucos dias antes de sagrar-se bicampeão europeu 1955-56/1956-57.[21][24] O Real Madrid só não participou da edição de 1958 do Torneio de Paris porque se preparava para a final da Copa dos Campeões da Europa daquele ano, que seria realizada cinco dias depois;[25] e em 08 de outubro de 1958, foi anunciada a criação da Copa Intercontinental, que seria a disputa euro-sul-americana reconhecida por UEFA e CONMEBOL, assim reduzindo a atratividade de disputa euro-sul-americana que o Torneio de Paris teve em suas 2 primeiras edições.

Única derrota de um campeão europeu para um clube não-europeu antes da criação da Copa Intercontinental

No jogo final do Torneio de Paris de 1957, a equipe do Real Madrid foi vencida pelo Vasco da Gama, um clube brasileiro e sul-americano. Esta partida acabaria sendo a única derrota de um campeão europeu (no caso, o Real Madrid, campeão europeu em todas as temporadas de 1955/1956 a 1959/1960) para um rival não-europeu, desde sua conquista da primeira Copa dos Campeões da Europa em 13/06/1956, até a realização da 1ª edição da Copa Intercontinental em 03/07/1960.[21]

Alegações quanto à influência para a criação da Copa Intercontinental

A derrota do Real Madrid para o Vasco da Gama teve grande impacto na imprensa européia, que registrou que a vitória cruzmaltina elevava o nome do futebol brasileiro na Europa,[26] mostrava que "o Real Madrid não era invencível",[17]  que  "com brasileiros em campo, nada mais existia, nem mesmo o Real Madrid",[27] que "o Real Madrid, campeão da Europa, o qual não há dúvida estava cansado pela temporada pesada que tivera de fazer, mas que, de qualquer maneira, estava inferior à equipe do Vasco da Gama",[28] e que o Vasco, "representante sul-americano"[28] naquele torneio, era uma prova de que o futuro do futebol não era a Europa mas sim a América do Sul.[28][29][25][30] De acordo com um dirigente vascaíno, no Torneio de Paris, o clube mostrou ao mundo o que era o verdadeiro futebol brasileiro, o que viria a ser ratificado logo no ano seguinte, com a conquista da Copa do Mundo de 1958.[31] 

A primeira menção a um encontro intercontinental entre equipes representativas da Europa e da América ocorreu em março de 1957, porém dizia respeito a seleções, não a clubes: seria uma partida entre uma seleção europeia e outra americana (esta, composta de jogadores de seleções sul-americanas), a ser realizada no Estádio Santiago Bernabéu em 1958, organizada pela UEFA antes da Copa do Mundo de 1958.[32][33] Porém, não ocorreu.

No que diz respeito a confrontos entre clubes, em 15 de fevereiro de 1958 a imprensa espanhola dava como certa a criação de um torneio sul-americano de clubes, semelhante ao existente na Europa,[34] e em 08 de outubro foi anunciada, por João Havelange, como convidado em reunião da UEFA, a criação das Copas Libertadores e Intercontinental (esta sendo uma confrontação entre os campeões europeu e sul-americano,[20] em partidas de ida-e-volta nos países dos clubes envolvidos, com jogo-desempate, se necessário). A proposta de criação das duas competições teria sido, em parte, com o objetivo de permitir testar a invencibilidade do mesmo Real Madrid, campeão da Europa, contra a melhor equipe da América do Sul.[18] A matéria do jornal El Mundo Deportivo de 09/10/1958 traz declarações do então presidente do Real Madrid, Santiago Bernabéu, de que o clube postulava continuar vencendo a Copa dos Campeões da Europa e poder jogar a final intercontinental contra o campeão sul-americano.[20]

Torneio realizado no Parc dos Princes teria inspirado Jacques Goddet a idealizar a Copa Intercontinental

Segundo o jornal Tribuna da Imprensa em 1958, a ideia para a concepção da Copa Intercontinental veio de João Havelange, então presidente da CBD, e de Jacques Goddet, jornalista do L'Equipe, veículo responsável pela criação da Copa dos Campeões da Europa. Ainda segundo a publicação do Tribuna da Imprensa, Jacques era o proprietário e residia no estádio Parc des Princes, onde o Racing Club de Paris mandava suas partidas e onde ocorreu o Torneio de Paris de 1957.[35] De acordo com matéria do Le Corner de 22 de janeiro de 2022, o "visionário jornalista esportivo" Jacques Goddet teria sido inspirado pelo, até então inédito, embate entre "o melhor time da Europa contra o melhor time da América do Sul" e com isso idealizado a criação de uma copa que incluísse clubes de diferentes continentes.[36] Na década de 1970, o mesmo Goddet, também através do L'Equipe, seria um dos primeiros proponentes de que a Copa Intercontinental fosse substituída por um torneio Mundial de Clubes, incluindo, não só sul-americanos e europeus, mas também asiáticos, africanos e norte-centro-americanos.[37][38]

Primeiro torneio no qual os clubes teriam atuado como representantes de seus continentes

Algumas fontes sustentam que Vasco da Gama e Flamengo participaram do Torneio de Paris de 1957 e 1958 como representantes do futebol sul-americano,[29][25][39] o que, aliado à participação do campeão europeu Real Madrid na edição de 1957 (sendo que o Real Madrid só não participou da edição de 1958 do Torneio de Paris porque se preparava para a final da Copa dos Campeões da Europa daquele ano, que seria cinco dias depois),[25] faria do Torneio de Paris a primeira competição em que clubes teriam atuado como representantes dos seus respectivos continentes, antes mesmo da criação da Copa Intercontinental.

Primeira final de competição vista como disputa entre "o melhor time da Europa" e o "melhor time da América do Sul"

Apesar de ter sido organizado como troféu oficioso,[40] a imprensa da época observou a natureza intercontinental da disputa final, como uma disputa Rio de Janeiro vs. Europa: antes da partida entre Vasco e Real Madrid, o jornal Tribuna da Imprensa escreveu: "Ambas as equipes estão credenciadas à conquista do rico troféu que está em jogo e representam a força máxima dos dois centros futebolísticos, pois, enquanto os vascaínos ostentam o título de campeões cariocas, os espanhóis levam o galhardão de haverem conquistado por duas vezes consecutivas a Taça da Europa".[41]  Já o jornal Les Actualités Françaises, em reportagem publicada em 19/06/1957 com imagens narradas da partida,  cita a final entre Vasco da Gama e Real Madrid como o confronto entre "a melhor equipe da América do Sul e o campeão europeu".[42][43][44]

Em 1961, o Torneio de Paris seria novamente disputado com características semelhantes à edição de 1957: entre o campeão da Europa (em 1957, o Real Madrid; em 1961, o Benfica) e um gigante brasileiro (em 1957 o Vasco; em 1961, o Santos),[45][43] e em 1961, a imprensa francesa citou-a igualmente como a final entre "a melhor equipe da América do Sul vs. o campeão europeu",[45] e como um "autêntico título intercontinental extra-oficial" ou "autêntico mundial de clubes".[45][46][47][48]

No entanto, a edição de 1957 do Torneio de Paris (cronologicamente anterior ao anúncio de criação da Copa Intercontinental em 08/outubro/1958) ainda não é reconhecida por UEFA ou CONMEBOL como precursora da Copa Intercontinental.

Equipes classificadas

Localidade das equipes que foram disputar o Torneio de Paris de 1957
EquipeClassificação
Racing de ParisClube anfitrião
Real MadridCampeão da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1955–56[nota 1]
Rot-Weiss EssenCampeão do Campeonato Alemão de 1954–55 [nota 2]
Vasco da GamaCampeão do Campeonato Carioca de 1956[nota 3]
Notas

Partidas

Esquema

 SemifinaisFinal
12 de Junho de 1957
   Vasco da Gama 3 
   Racing Paris 1 
 
14 de Junho de 1957
     Vasco da Gama 4
    Real Madrid 3
Terceiro lugar
12 de Junho de 195714 de Junho de 1957
   Real Madrid 5   Racing Paris 7
  Rot-Weiss Essen 0   Rot-Weiss Essen 5


Semifinais


12 de Junho de 1957Vasco da Gama  3 – 1  Racing Paris Parc des Princes - Paris
19:00 (UTC+1)
Livinho 22'
Pinga 58'
Vavá 67'
RelatórioGuy Sénac 89'Árbitro: Édouard Harzic - FIFA
GOL1 Carlos Alberto
LD2 Dario
ZAG3  Viana
ZAG4 Orlando
LE6 Ortunho
VOL5 Laerte III
MEI7 Sabará
MEI8 Livinho
ATA10 Pinga
ATA11 Válter Marciano
ATA9 Vavá
Substituições:
ATA17 Vadinho
ATA19 Almir Pernambuquinho
Técnico:
Martim Francisco
GOL1 Jean Taillandier
LD2 Carlos Sosa
ZAG3 Bernard Lelong
ZAG8 Bruno Bollini
LE21 Roger Marche
VOL18 Bolek Ugorenko
MEI6 Dalla Cieca
MEI17 Jean Guillot
ATA7 Joël Pillard
ATA19 Thadée Cisowski
ATA11 Pierre Grillet
Substituições:
MEI14 Guy Sénac
Técnico:
Gusti Jordan



12 de Junho de 1957Real Madrid  5 – 0 Rot-Weiss Essen Parc des Princes - Paris
21:00 (UTC+1)
Rial 12'
Mateos 15'
Kopa 54'
Mateos 80'
Gento 87'
RelatórioÁrbitro: Louis Fauquemberghe - FIFA
GOL1 Alonso
ZAG3 Torres
ZAG2 Marquitos
ZAG21 Lesmes
VOL18 Muñoz
VOL6 Zárraga
MEI17 Mateos
MEI8 Rial
ATA7 Kopa
ATA19 Di Stéfano
ATA11 Gento
Substituições:
ZAG4 Santamaría
Técnico:
José Villalonga
GOL1 Fritz Herkenrath
ZAG2 Willi Köchling
ZAG5  Walter Zastrau
ZAG18 Heinz Wewers
VOL24 Willi Grewer
VOL4 Heinz Ruppenstein
MEI20 Fred Röhrig
MEI6 Dieter Wöske
ATA10 Ulrich Kohn
ATA9 Franz Islacker
ATA21 Helmut Rahn
Técnico:
Elek Schwartz


Disputa de terceiro lugar


14 de Junho de 1957Racing Paris  7 – 5 Rot-Weiss Essen Parc des Princes - Paris
19:00 (UTC+1)
RelatórioÁrbitro: André Miel - FIFA

Final


14 de Junho de 1957Vasco da Gama  4 – 3  Real Madrid Parc des Princes - Paris
21:00 (UTC+1)
Válter Marciano 20'
Vavá 32'
Ortunho  61'
Livinho 73'
Sabará 84'
Relatório
Relatório
Di Stéfano 4'
Mateos 53'
Kopa 89'
Público: 36 457 pagantes[57]
65 000 presentes[8]
Renda: Fr$ 20.149.900,00[57]
Árbitro: Jacques Devillers - FIFA
Real Madrid
GOL1 Carlos Alberto
LD2 Dario
ZAG3  Viana
ZAG4 Orlando
LE6 Ortunho
VOL5 Laerte III
MEI7 Sabará
MEI8 Livinho
ATA10 Pinga
ATA11 Válter Marciano
ATA9 Vavá
Técnico:
Martim Francisco
GOL1 Alonso
ZAG3 Torres
ZAG2 Marquitos
ZAG21 Lesmes
VOL18 Muñoz
VOL6 Ruiz
MEI17 Mateos
MEI8 Rial
ATA7 Kopa
ATA19 Di Stéfano
ATA11 Gento
Substituições:
ZAG4 Santamaría
ATA14 Marsal
Técnico:
José Villalonga


I Torneio de Paris

Vasco da Gama
- CAMPEÃO -
(Invicto)

Ver também

Referências