Concílio ecuménico

Um concílio ecuménico (português europeu) ou concílio ecumênico (português brasileiro) é uma reunião de todos os bispos (epískopos) cristãos convocada para discutir e resolver as questões doutrinais ou disciplinares da Igreja Cristã. A palavra ecuménico deriva do grego "οἰκουμένη", que significa literalmente "o mundo habitado". Inicialmente, ela foi usada para se referir ao Império Romano e, posteriormente, passou a ser aplicado para designar o mundo em geral. Devido aos cismas, a aceitação desses concílios varia muito entre as diferentes denominações do cristianismo.

Imagem alegórica do Concílio de Nicéia em 325, o primeiro celebrado.

As Igrejas cristãs que se separaram com as demais por causa de divergências cristológicas aceitam somente os concílios ecuménicos que se realizaram antes da sua separação: assim, a Igreja Assíria do Oriente aceita os dois primeiros e as Igrejas ortodoxas orientais os três primeiros. Até ao século IX, sete concílios ecuménicos reconhecidos tanto pela Igreja Católica como pela Igreja Ortodoxa foram realizadas, antes da sua separação (século XI). Desde então, a Igreja Ortodoxa não tem reconhecido como ecuménico mais nenhum concílio, pois não há mais a "ecumene", ou seja, o imperador. De qualquer forma, a Igreja Ortodoxa continua realizando concílios com a mesma autoridade dos ecumenicos, chamados Concílios Pan-Ortodoxos. A Igreja Católica continuou a convocar e realizar concílios ecuménicos em comunhão plena com o Papa, que passou a ser a ecumene. Anglicanos, luteranos e algumas outras denominações protestantes reconhecem os quatro primeiros concílios ecuménicos e, em alguns casos, os primeiros sete.

Concílios pré-nicenos

Os concílios ou sínodos pré-Nicenos foram, na sua maior parte, reuniões de natureza regional, nunca chegando a reunir todos os bispos da Igreja. Apesar disso, estes concílios eram muito importantes para clarificar vários aspectos doutrinais ou disciplinares nos primórdios do Cristianismo e as suas decisões, em geral, são seguidas por muitos cristãos e bispos que não participaram nestes encontros. O exemplo mais paradigmático destes concílios é o Concílio de Jerusalém (49 d.C.), que libertou a Igreja cristã nascente das regras antigas da Sinagoga e, por isso, marcou definitivamente o desligamento do cristianismo do judaísmo e confirmou para sempre o ingresso dos gentios (não judeus) na cristandade. O primeiro concílio com o objetivo de reunir todos os bispos da Igreja, e portanto ecuménico, realizou-se somente em 325 e chama-se Primeiro Concílio de Niceia.

N.º
Papas Durante o Concílio
Local e designação
Duração do
Concílio
Temas principais
1São PedroJerusalémOutono de 51Os convertidos do paganismo (novos cristãos) isentos de algumas práticas da lei mosaica, como a circuncisão. Ver Controvérsia da circuncisão
2São Vítor IConcílio (Sínodo) de Roma197Examina a questão da data da Páscoa, celebrada diferentemente no Oriente e no Ocidente. Ver Controvérsia da Páscoa.
3Santo Estevão IConcílio (Sínodo) de Cartago256Cipriano, bispo de Cartago, reúne 87 bispos africanos. Discutem o Cisma novaciano.
4Sede VacanteConcílio (Sínodo) de Elvira306Reúne 19 bispos e 24 presbíteros da península Ibérica. Decretam o celibato do clero.
5São Silvestre IConcílio de Arles314Convocado em Arles, 33 bispos africanos, na tentativa de evitar o Cisma donatista.

Cronologia dos concílios ecuménicos

Da igreja católica

Segundo os cânones 337 e 341 do Código de Direito Canónico, um concílio ecuménico (ecuménico: universal, ou seja, toda a Igreja Católica) é uma reunião de todos os Bispos da Igreja para reflectir sobre pontos de doutrina e de disciplina que precisam de ser esclarecidos, promulgar dogmas, corrigir erros pastorais, condenar heresias e, em suma, dirimir sobre todas as questões de interesse para a Igreja universal. É convocado e presidido pelo Papa ou por algum Bispo, isso porque não é necessário o Papa estar presente para a realização de um concílio, mas para ele ser válido precisa de sua confirmação.

São 21 os concílios ecuménicos, entendendo "ecuménico", aqui, com o sentido de "universal", com a participação de todos os bispos católicos do mundo.

Segundo a doutrina da Igreja Católica, além do Papa (quando fala ex cathedra), o episcopado católico pleno é também infalível (em matérias de fé e moral) só quando, reunido num concílio ecuménico, deseja propor como definitiva e obrigatória uma doutrina,[1] em comunhão (união) com o Papa, que é a cabeça do episcopado. Mas, fora da comunhão com o Papa e da sua autoridade suprema, o concílio tem apenas poder sinodal.

N.º
Papas Durante o Concílio
Local e designação
Duração do
Concílio
Temas principais
1.ºSão Silvestre INiceia I20 de maio a
25 de julho de 325
Primeiro a reunir a Cristandade. Condena o Arianismo como heresia e exila Ário. Reconhece como dogma a igualdade de natureza entre o Pai e o Filho. Compõe o Credo Niceno.
2.ºSão Dâmaso IConstantinopla Imaio a julho de 381Reconhece como dogma a natureza divina do Espírito Santo no Credo niceno-constantinopolitano, que se recita na missa. Estabelece que o bispo de Constantinopla receberá as honras logo após o de Roma. Alguns historiadores sugerem que, apesar de o cânon não ter sido o foco de discussão desse concílio, este foi importante para uma maior aceitação geral dos livros de Atos dos Apóstolos e o livro de Apocalipse como inspirados.[2]
3.ºSão Celestino IÉfeso22 de junho a
17 de julho de 431
Reconhece como dogma a unidade de pessoa do Verbo Eterno com o corpo e a alma encarnados de Cristo. Condena o Nestorianismo como heresia e proclama a maternidade divina da Virgem Maria.
A Igreja Assíria do Oriente não reconhece este concílio e nenhum dos posteriores.
4.ºSão Leão I, MagnoCalcedónia8 de outubro a
1 de novembro de 451
Condenação do monofisismo. Reconhece como dogma a unidade das duas naturezas, completas e perfeitas em Jesus Cristo, humana e divina. É escrita a carta dogmática "Tomo a Flaviano" pelo Papa Leão I.
As Igrejas ortodoxas orientais não reconhecem este concílio e nenhum dos posteriores.
5.ºPapa VigílioConstantinopla II5 de maio a
2 de junho de 553
Condena os ensinamentos de Orígenes e outros. Condena os documentos semi-nestorianos designados Os Três Capítulos.
6.ºSanto Agatão e
São Leão II
Constantinopla III7 de novembro de 680 a
16 de setembro de 681
Reconhece como dogma que em Cristo há duas vontades, uma divina e outra humana. Condena o monotelismo.
7.ºPapa Adriano INiceia II24 de setembro a
23 de outubro de 787
Reconhece a licitude da veneração de imagens (ícones). Condena os iconoclastas.
8.ºPapa Adriano IIConstantinopla IV5 de outubro de 869 a
28 de fevereiro de 870
Condenação e deposição de Fócio, patriarca de Constantinopla. Encerra temporariamente o primeiro Cisma Oriental.
9.ºPapa Calisto IILatrão I18 de março a
6 de abril de 1123
Encerra a Questão das investiduras. Independência da Igreja perante o poder temporal.
10.ºPapa Inocêncio IILatrão IIabril de 1139Torna obrigatório o celibato para o clero na Igreja Ocidental. Fim do cisma do Antipapa Anacleto II
11.ºPapa Alexandre IIILatrão IIImarço de 1179Normas para a eleição do Papa (maioria de 2/3) e da nomeação de bispos (idade mínima de 30 anos). Excomungam-se os barões que, na França, apoiavam os Cátaros.
12.ºPapa Inocêncio IIILatrão IV11 de novembro a
30 de novembro de 1215
Determina que todo o cristão, chegado ao uso da razão, é obrigado a receber a Confissão e a Eucaristia na Páscoa. Condenação dos Albigenses, Maniqueístas e Valdenses. Definição de transubstanciação.
13.ºPapa Inocêncio IVLião I28 de junho a
17 de julho de 1245
Deposição do imperador Frederico II.
14.ºBeato Gregório XLião II7 de maio a
17 de julho de 1274
Tentativa de reconciliação com a Igreja Ortodoxa. Regulamentação do conclave para a eleição papal. Cruzada para libertar Jerusalém. Institui o conceito de Purgatório.
15.ºPapa Clemente VVienne16 de outubro de 1311 a
6 de maio de 1312
Supressão dos Templários. Discute-se a questão dos bordéis de Roma e a nomeação de um arcebispo em Pequim, na China.
16.ºPapa Gregório XII e
Papa Martinho V
Constança5 de outubro de 1414 a
22 de abril de 1418
Extingue o Grande Cisma do Ocidente. Condenação de John Wycliffe, de Jan Hus e de Jerônimo de Praga. Eleição do Papa Martinho V.
17.ºPapa Eugênio IVBasileia-Ferrara-Florença1431-1432Sanciona o cânon católico (relação oficial dos livros da Bíblia), tenta nova união com as Igrejas orientais ortodoxas. Reconhecimento no romano pontífice de poderes sobre a Igreja Universal. Ratifica a figura do Purgatório.
18.ºPapa Júlio II e
Papa Leão X
Latrão V10 de maio de 1512 a
16 de março de 1517
Condenação do concílio cismático de Pisa (1409-1411) e do conciliarismo. Reforma da Igreja.
19.ºPapa Paulo III, Papa Júlio III,
Papa Marcelo II, Papa Paulo IV e Papa Pio IV
Trento13 de dezembro de 1545 a
4 de dezembro de 1563
Reforma geral da Igreja, sobretudo por causa do protestantismo. Confirmação dogmática dos sete sacramentos, principalmente dos dogmas eucarísticos. Decreta a versão da Vulgata como autêntica.
20.ºBeato Pio IXVaticano I8 de dezembro de 1869 a
18 de julho de 1870
Reforça a ortodoxia estabelecida no Concílio de Trento. Condena o Racionalismo, o Naturalismo e o Modernismo. Reconhece como dogmas o Primado do Papa e a infalibilidade papal na definição expressa de doutrinas de fé e de costumes.
21.ºSão João XXIII e
São Paulo VI
Vaticano II11 de outubro de 1962 a
8 de dezembro de 1965
Abertura ao mundo moderno. Reforma da Liturgia. Constituição e pastoral da Igreja, Revelação divina, liberdade religiosa, novo ecumenismo (mais aberto em comparação ao modo tradicional de ecumenismo, como mostra a Encíclica Mortalium Animos, de Pio XI), apostolado dos leigos. O Concílio gerou polêmicas por não ser um Concílio dogmático, embora a obediência à igreja não esteja restrita a questões dogmáticas. Os tradicionalistas alegam que o Concílio Vaticano II rompe de modo herético com a Tradição católica. A Missa Tridentina foi substituída pela Missa do Vaticano II e as conferências episcopais abandonaram a língua latina e o Canto Gregoriano. O modo como os outros sacramentos são celebrados também teve mudanças.

Do protestantismo

Anglicanos, luteranos, calvinistas e algumas denominações protestantes reconhecem os quatro primeiros concílios ecuménicos católicos e, em alguns casos, os primeiros sete. As demais têm visões variadas conforme a sua doutrina.

Da igreja ortodoxa

A Igreja Ortodoxa aceita oficialmente os sete primeiros concílios ecuménicos católicos.[3] que são os seguintes:

Existem muitos ortodoxos que reconhecem também o Concílio Quinissexto (692), o Quarto Concílio de Constantinopla (879-880), o Quinto Concílio de Constantinopla (1341-1351) e o Sínodo de Jerusalém (1672) como ecuménicos. Mas, é improvável que estes quatro concílios, apesar da importância e ortodoxia das suas decisões, venham a ser declarados oficialmente ecuménicos.[4]

N.º
Convocado por
Local e designação
Duração do
Concílio
Temas principais
1Imperador Justiniano IIConcílio Quinissexto ou Concílio In Trullo692Tanto o Segundo Concílio de Constantinopla (o quinto ecumênico) quanto Terceiro não emitiram nenhum cânone sobre a disciplina e este concílio teve como objetivo resolver esta questão, "completando" assim o trabalho de ambos. Por isso o nome "Quinissexto" (em latim: Concilium Quinisextum; Penthekte Synodos em grego koiné), ou seja, o "Concílio Quinto-Sexto".
2Imperador Basílio I, o MacedônioConstantinopla IV879-880Convocado pelo imperador como resposta ao Concílio de Constantinopla IV realizado dez anos antes e apoiado pelo Papa Adriano II. Anulou as decisões do Concílio anterior e reabilitou Fócio.
3Imperadores Andrônico III Paleólogo, João VI Cantacuzeno, João XIV e Isidoro IConstantinopla V1341-1351Uma série de concílios patriarcais realizados em Constantinopla entre 1341 e 1351 para lidar com uma disputa sobre o hesicasmo. Por isto, estes concílios também são conhecido como o Concílios Hesicastas ou Concílios Palamitas, uma vez que eles discutiram a teologia de Gregório Palamás (Palamismo), disputada por Barlaão de Seminara no primeiro e por outros nos demais cinco.
4Patriarca Grego-Ortodoxo de Jerusalém Dositeu NotarasSínodo de Jerusalém1672Como na ocasião também foi consagrada a Igreja da Natividade em Belém, ele também é chamado de Sínodo de Belém. Este sínodo afirmou o cânon bíblico a ser utilizado pela Igreja Ortodoxa.

Ver também

Referências

Ligações externas