José Mujica

Político uruguaio, Ex-presidente do Uruguai

José Alberto Mujica Cordano, conhecido popularmente como Pepe Mujica[2] (Montevidéu, 20 de maio de 1935), é um agricultor e político uruguaio tendo sido Presidente da República Oriental do Uruguai entre 2010 e 2015.[3][4] Após deixar a presidência, foi senador de março de 2015 até agosto de 2018.[5]

José Mujica
José Mujica
40Presidente do Uruguai
Período1 de março de 2010
a 1 de março de 2015
Vice-presidenteDanilo Astori
Antecessor(a)Tabaré Vázquez
Sucessor(a)Tabaré Vázquez
Ministro da Agricultura do Uruguai
Período1 de março de 2005
a 3 de março de 2008
Antecessor(a)Martín Aguirrezabala
Sucessor(a)Ernesto Agazzi
Presidente Pro-tempore do MERCOSUL
Período7 de dezembro de 2012
a 13 de julho de 2013
Antecessor(a)Dilma Rousseff
Sucessor(a)Nicolás Maduro
Senador da República do Uruguai
Período3 de março de 2015
a 14 de agosto de 2018
Dados pessoais
Nascimento20 de maio de 1935 (88 anos)
Montevidéu, Uruguai
Primeira-damaLucía Topolansky
PartidoFrente Amplio
ReligiãoAteísmo[1]
ProfissãoAgricultor
AssinaturaAssinatura de José Mujica

Mujica teve importante papel no combate à ditadura militar no Uruguai (1973-1985). Na guerrilha, coparticipou do episódio conhecido como Tomada de Pando, ocorrido em 8 de outubro de 1969, quando os tupamaros tomaram a delegacia de polícia, o quartel do corpo de bombeiros, a central telefônica e vários bancos da cidade de Pando, situada a 32 quilômetros de Montevidéu.[6][7] Mujica passou 14 anos na prisão, de onde só saiu no final da ditadura, em 1985.[8]

Já foi deputado, ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca e, durante a juventude, militou em atividades de guerrilha, como membro do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros.[9]

Exerceu o cargo de Presidente Pro tempore do MERCOSUL até 12 de julho de 2013, quando foi sucedido pelo estreante venezuelano, Nicolás Maduro (tal cargo é um mandato rotativo de seis meses exercido entre presidentes dos países membros).[10]

Juntamente com outros líderes de esquerda, foi um dos fundadores do Grupo de Puebla,[11] criada no México em 12 de Julho de 2019.[12]

Biografia

Mujica é descendente de bascos, cuja origem é a cidade de Múgica, que chegaram ao Uruguai em 1840.[13][14] Filho de Demétrio Mujica Terra e Lucy Cordano, nasceu em 20 de maio de 1935, no bairro Paso de la Arena, em Montevidéu

A família de sua mãe era composta por imigrantes italianos. Seu sobrenome Cordano, de seu avô Antonio, é originário da província de Gênova, a mesma região de onde veio a família Giorello, de sua avó Paula.

Seu pai era um pequeno agricultor que foi à falência pouco antes de sua morte, em 1940, quando Mujica tinha seis anos.

Mujica recebeu educação primária e secundária na escola pública do bairro onde nasceu.[15]

Mujica e sua esposa, Lucía Topolansky

Mujica é ateu. É casado desde os anos 70 com a também ex-militante Lucía Topolansky. Enquanto presidente, Mujica recebia 230 mil pesos (cerca de R$ 22 122) mensais, doando quase 70% para o seu partido, a Frente Ampla, e também a um fundo para construção de moradias. Mora em uma chácara em Rincón del Cerro, zona rural de Montevidéu, onde cultiva flores e hortaliças e para ele o restante que sobrava do seu salário (30 mil pesos mensais, cerca de R$ 2 800) era o suficiente para se manter. “Por sorte por enquanto tenho minha esposa que "banca as despesas”, diz o presidente.[16]

Carreira Política

Seu tio materno, Ángel Cordano, era nacionalista e teve uma grande influência sobre a formação política de Mujica. Em 1956, conhece o então deputado nacionalista Enrique Erro por meio de sua mãe, militante de seu setor. Desde então, começou a militar para o Partido Nacional, onde chegou a ser secretário geral da Juventude.[15]

Nas eleições de 1958, triunfa pela primeira vez o Herrerismo, e Erro foi designado ministro do Trabalho, sendo acompanhado por Mujica nessa época. Em 1962, Erro e Mujica abandonam o Partido Nacional para criar a Unión Popular, junto ao Partido Socialista do Uruguai e um pequeno grupo chamado Nuevas Bases. Nessas eleições, colocam Emilio Frugoni como candidato a presidente da República, que chega apenas aos 2,3% dos votos.[15]

Nos anos 60 integrou-se ao Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, com quem participou de operações de guerrilha, enquanto trabalhava em sua chácara, até refugiar-se na clandestinidade. Durante o governo de Jorge Pacheco Areco, a violência aumentou. O Poder Executivo utilizou sistematicamente do princípio constitucional das Medidas Prontas de Segurança para fazer frente as guerrilhas, assim como a crescente oposição de sindicatos e grêmios frente a suas políticas econômicas.

Nos enfrentamentos armados, foi ferido por seis tiros e preso quatro vezes, e em duas oportunidades, fugiu da prisão de Punta Carretas. No total, Mujica passou quase quinze anos de sua vida na prisão. Seu último período de detenção durou treze anos, entre 1972 e 1985. Foi um dos dirigentes tupamaros que a ditadura militar tomou como refém. Os reféns seriam executados caso sua organização retornasse às ações armadas. Nessa condição, pautada pelo isolamento e por duras condições de detenção, Mujica permaneceu onze anos. Entre os reféns também se encontravam Eleuterio Fernández Huidobro, ex-ministro de Defesa Nacional, e o líder e fundador do MLN-Tupamaros, Raúl Sendic, cujo filho Raúl Fernando Sendic foi vice-presidente da República no segundo mandato de Tabaré Vásquez, mas renunciou e quem assumiu a vice-presidência foi a esposa de Mujica, Lúcia Topolansky.[17]

Após o retorno a democracia, foi libertado, beneficiado pela Lei n.º 15.737 de 8 de março de 1985, que decretou anistia aos delitos políticos cometidos a partir de 1 de janeiro de 1962.

Alguns anos após a abertura democrática, criou, junto a outras lideranças do MLN e outros partidos de esquerda, o Movimiento de Participación Popular (MPP), dentro da Frente Ampla. Nas eleições de 1994, foi eleito deputado por Montevidéu. Sua presença na arena política foi chamando a atenção das pessoas e, nas eleições de 1999, foi eleito senador.[18] Nesse ano, foi publicado o livro Mujica, de Miguel Ángel Campodónico.[19]

José Mujica junto ao presidente Tabaré Vázquez e parte do gabinete ministerial

Em 1 de março de 2005, o presidente da República Tabaré Vázquez, o designou ministro da Agricultura. Seu vice-ministro foi Ernesto Agazzi, que assumiu o cargo em 3 de março de 2008, quando Mujica o deixou para ser pré-candidato à presidência da República.[20]

Presidência do Uruguai (2010-2015)

Candidatura

Mujica com o presidente Lula, durante a campanha presidencial de 2009.
Mujica com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em 18 de maio de 2014.

Em 28 de junho de 2009, houve eleições internas para escolher o candidato a presidência nas Eleições 2009 pela Frente Ampla, onde Mujica venceu seus oponentes com 52,02% dos votos totais.[21][22][23] Antes das eleições, Mujica recebeu o apoio do Kirchnerismo.[24]

Logo após as eleições internas, Danilo Astori aceitou completar a chapa como candidato a vice-presidente. Em setembro de 2009, foi publicado o livro Colóquios de Pepe, do jornalista Alfredo García, com várias entrevistas gravadas de Mujica, com seu pensamento, suas ideias e frases.

Em 25 de outubro de 2009, Mujica venceu as eleições com cerca de metade do total de votos válidos, o que o validou disputar o segundo turno contra Luis Alberto Lacalle em 29 de novembro. Nesse dia foi eleito presidente com uma porcentagem superior aos 52% dos votos válidos.[25]

Resultado do primeiro turno das Eleições gerais no Uruguai em 2009:[26]

CandidatoPartidoVotos%
José MujicaFrente Ampla1.105.27747,96
Luis Alberto LacallePartido Nacional669.94429,07
Pedro BordaberryPartido Colorado392.30717,02
Pablo MieresPartido Independente57.3602,49
Raúl RodríguezAssembleia Popular14.8690,67

Resultado do segundo turno das Eleições gerais no Uruguai em 2009:[26]

CandidatoVicePartidoVotos%
José MujicaDanilo AstoriFrente Ampla1.183.50352,60
Luis Alberto LacalleJorge LarrañagaPartido Nacional974.85743,33

Governo

Mujica com a presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, em 2010.

José Mujica prestou juramento como presidente da República Oriental do Uruguai em 1 de março de 2010, no Palácio Legislativo. Estavam presente diversas autoridades de diferentes partidos políticos uruguaios e vários representantes de diferentes países, como Hillary Clinton, Cristina Fernández de Kirchner, Néstor Kirchner, Rafael Correa, Hugo Chávez, entre outros.[27]

Cartaz de apoio à legalização do aborto no Uruguai em 2012.

Antes de assumir a presidência inspirada na experiência do socialismo do século XXI efetuada na Venezuela,[28] Pepe definiu como prioridade os seguintes temas: educação, segurança, meio ambiente e energia. Também colocou como um objetivo primordial de sua administração a erradicação da miséria e a redução da pobreza em 50%. Logo após sua chegada à Presidência, a primeira lei que chamou a atenção foi a descriminalização do aborto. A Frente Ampla já havia proposto em 2007 um projeto sobre o tema, vetado pelo então presidente Tabaré Vázquez. Com Mujica, em 2012, a lei foi aprovada.[29][30]

A segunda lei progressista aprovada foi a do matrimônio igualitário, de abril de 2013. A legislação permite a adoção também aos casais homossexuais e que a ordem do sobrenome dos filhos seja decidida pelos pais. O Uruguai também fez possível o ingresso de homossexuais nas Forças Armadas. A Igreja iniciou uma campanha de oposição, similar à iniciada pelo Papa Francisco quando ele era cardeal na Argentina e o governo de Cristina Kirchner aprovou projeto do mesmo tipo.

A terceira lei que fez voltar os olhos para o Uruguai foi a legalização da maconha, cujas características da legislação a fazem única no mundo. Já era possível cultivar e possuir a erva para consumo individual, como em outros países, mas agora o Estado passaria a controlar produção, distribuição e venda.[31]

Em 2011, pronunciou-se contra as operações militares lançadas por vários países ocidentais contra a Líbia. Ele está perto do presidente venezuelano Hugo Chávez, que ele considera ser "o governante mais generoso que já conheci".

Em termos gerais, a sua política está em conformidade com o mandato anterior. O peso da despesa social na despesa pública total aumenta assim de 60,9% para 75,5% entre 2004 e 2013. Durante este período, a taxa de desemprego caiu de 13% para 7%, a taxa de pobreza nacional de 40% para 11% e o salário mínimo foi aumentado em 250%. Apoia igualmente o reforço dos sindicatos. Segundo a Confederação Sindical Internacional, o Uruguai tornou-se o país mais avançado das Américas em termos de respeito aos "direitos fundamentais do trabalho, em particular a liberdade de associação, o direito à negociação coletiva e o direito à greve".[32]

Documentário

Em 2018, o documentário "El Pepe, Uma Vida Suprema" do renomado cineasta sérvio Emir Kusturica - que o considera "o último herói da política".[33] - foi agraciado no Festival de Veneza com o Prêmio Enrico Fulchignoni do Conselho Internacional de Cinema e Televisão da Unesco.[34]

Distinções

Referências

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