Julgamentos de Nuremberga

Série de julgamentos dos crimes contra a humanidade da Alemanha Nazi
 Nota: Para o filme de 1961, veja Judgment at Nuremberg.

Os Julgamentos de Nuremberga (português europeu) ou de Nurembergue (português brasileiro) (oficialmente Tribunal Militar Internacional vs. Hermann Göring et al) foram numa série de tribunais militares, organizados pelos Aliados, depois da Segunda Guerra Mundial, e referentes aos processos contra 24 proeminentes membros da liderança política, militar e econômica da Alemanha Nazista. Os julgamentos, a cargo de um Tribunal Militar Internacional (em inglês, International Military Tribunal, IMT), ocorreram na cidade de Nuremberga, Alemanha, entre 20 de novembro de 1945 e 1º de outubro de 1946. Esse tribunal serviu como base para a criação do Tribunal Penal Internacional, com sede na cidade de Haia, nos Países Baixos.

Julgamento de Nuremberga. À frente, de cima para baixo: Hermann Göring, Rudolf Heß, Joachim von Ribbentrop, Wilhelm Keitel. Atrás, de cima para baixo: Karl Dönitz, Erich Raeder, Baldur von Schirach, Fritz Sauckel

Posteriormente, entre 1946 e 1949, foram julgados os Processos de Guerra de Nuremberg, em 12 outros tribunais militares. Esses processos referiam-se a 117 acusações por crimes de guerra contra outros membros da liderança nazista.[1]

Estatuto do julgamento

Em 8 de agosto de 1945, as quatro potências (Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido e França) assinavam, a Carta de Londres,[2] acordo sobre o Tribunal Militar Internacional e os estatutos pelos quais o tribunal deveria ser regido. Estabelecia os direitos e obrigações de todos os que haviam de tomar parte no mesmo, regulamentava a forma de proceder e fixava os fatos e princípios a que tinham de se sujeitar os juízes.

O artigo 24º dos estatutos estabelecia: "...O procedimento deve ser o seguinte:

  • a) Será lida a acusação;
  • b) O tribunal interrogará cada um dos acusados sobre se se considera culpado ou inocente;
  • c) O acusador exporá a sua interpretação da acusação;
  • d) O tribunal perguntará à acusação e à defesa sobre as provas que desejem apresentar ao tribunal e decidirá sobre a conveniência da sua apresentação;
  • e) Serão ouvidas as testemunhas de acusação. A seguir as testemunhas de defesa;
  • f) O tribunal poderá dirigir a todo momento perguntas às testemunhas ou acusados;
  • g) A acusação e a defesa interrogarão todas as testemunhas e acusados que apresentem uma prova e estão autorizados a efetuar um contrainterrogatório;
  • h) A defesa tomará a seguir a palavra;
  • i) O acusado dirá a última palavra;
  • j) O tribunal anunciará a sentença...".[3]

Acusados e suas penas

O tribunal de Nuremberga decretou 12 condenações à morte, três à prisão perpétua, duas a 20 anos de prisão, uma a 15 anos e outra a 10 anos. Hans Fritzsche, Franz von Papen e Hjalmar Schacht foram absolvidos.

NomeCargoCondenação
Martin BormannVice-líder do Partido Nazi e secretário particular do FührerMorte por enforcamento (In absentia)
Karl DönitzPresidente da Alemanha e comandante da Kriegsmarine10 anos de prisão
Hans FrankGovernador-geral da PolôniaMorte por enforcamento
Wilhelm FrickMinistro do Interior, autorizou as Leis de NurembergMorte por enforcamento
Hans FritzscheAjudante de Joseph Goebbels no Ministério da PropagandaAbsolvido
Walther FunkMinistro de EconomiaPrisão perpétua
Hermann GöringComandante da Luftwaffe, Presidente do Reichstag e Ministro da Prússia.Morte por enforcamento (suicidou-se antes de ser enforcado)
Rudolf HessVice-líder do Partido NaziPrisão perpétua
Alfred JodlChefe de Operações do OKW (Oberkommando Der Wehrmacht)Morte por enforcamento
Ernst KaltenbrunnerChefe do RSHA e membro de maior escalão da Schutzstaffel vivo.Morte por enforcamento
Wilhelm KeitelChefe do OKWMorte por enforcamento
Gustav KruppIndustrial que usufruiu de trabalho escravoAcusações canceladas por saúde debilitada
Robert LeyChefe do Corpo Alemão de TrabalhoSuicidou-se na prisão
Konstantin von NeurathMinistro das Relações Exteriores, Protetor da Boêmia e Morávia15 anos de prisão
Franz von PapenMinistro e vice-chancelerAbsolvido
Erich RaederComandante-chefe da KriegsmarinePrisão perpétua
Joachim von RibbentropMinistro das Relações ExterioresMorte por enforcamento
Alfred RosenbergIdeólogo do racismo e Ministro do Reich para os Territórios Ocupados do LesteMorte por enforcamento
Fritz SauckelDiretor do programa de trabalho escravoMorte por enforcamento
Hjalmar SchachtPresidente do ReichsbankAbsolvido
Baldur von SchirachLíder da Juventude Hitleriana20 anos de prisão
Arthur Seyss-InquartLíder da anexação da Áustria e Gauleiter dos Países BaixosMorte por enforcamento
Albert SpeerLíder nazi, arquiteto do regime e Ministro de Armamentos20 anos de prisão
Julius StreicherChefe do periódico antissemita Der StürmerMorte por enforcamento

Processos no caso Nuremberga

Ver artigo principal: Processos de Guerra de Nuremberg
Vista do banco dos réus no tribunal de Nuremberga

Um tribunal de exceção

Oito juízes, representantes dos quatro países vencedores da guerra, compuseram a corte: Iona Nikitchenko (União Soviética), Geoffrey Lawrence (Reino Unido), Francis Biddle (EUA) e Donnedieu de Vabres (França). O presidente do tribunal era britânico, mas coube aos estadunidenses o papel mais importante na preparação do processo. Os países neutros não tiveram nenhuma participação.[4] Juristas têm levantado a questão das violações dos direitos fundamentais com a realização de um tribunal ad hoc, um tribunal de exceção, sem a escolha de advogados pelos réus. Segundo alguns doutrinadores do direito, um tribunal de exceção não poderia punir com pena capital, mas somente com prisão, entre outras formas de responsabilização. Todavia, em Nuremberga, os vencedores ditaram todas as regras e todo o funcionamento do tribunal, mesmo em detrimento dos direitos fundamentais dos réus, como o princípio do juízo natural conhecidos dos ingleses desde a Magna Carta de 1215.[5][6]

A aplicação da justiça dos vencedores poderia igualmente explicar por que jamais foi cogitada a possibilidade de julgamento dos responsáveis pela mortandade de civis em decorrência dos inúmeros bombardeios aliados contra as cidades alemãs (Dresden, Colônia, Darmstadt, Hamburgo, Stuttgart e Königsberg, entre outras) ou do lançamento de bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.[4] (ver: Crimes de guerra dos Aliados, Crimes de guerra dos Estados Unidos e Crimes de guerra soviéticos)

Execução das sentenças

Noticiário de 17 de outubro de 1946 sobre as condenações em Nuremberga

Três cadafalsos foram instalados no presídio de Nuremberga para a execução, na manhã de 16 de outubro de 1946, de dez penas de morte contra representantes do regime nazista, por enforcamento, usando-se o chamado método da queda padrão, em vez de queda longa.[7][8] Posteriormente, o exército dos EUA negou as acusações de que a queda fora curta demais, fazendo com que o condenado morresse lentamente, por estrangulamento, em vez de ter o pescoço quebrado (o que causa paralisia imediata, imobilização e provável inconsciência instantânea). Na execução de Ribbentrop, o historiador Giles MacDonogh registra que:

"o carrasco trabalhou mal na execução, e a corda estrangulou o ex-chanceler por 20 minutos antes que ele morresse."[9][10][11]

Das 12 penas de morte, apenas 10 foram executadas. Martin Bormann, o assessor mais próximo de Adolf Hitler em seu primeiro quartel-general, estava desaparecido, sendo julgado à revelia e condenado à morte.

Hermann Göring suicidou-se na véspera do dia 16. Quando os seguranças do presídio perceberam que ele mantinha-se estranhamente imóvel deitado sobre seu banco, chamaram seus superiores e um médico. Este constatou a morte de Göring por envenenamento. Nunca foi esclarecido quem lhe entregou o veneno, em que pese várias hipóteses terem surgido no decorrer dos anos.

Porém, em 2005, Herbert Lee Stivers, um metalúrgico aposentado que vivia em Hesperia, localidade aos arredores de Los Angeles, Estados Unidos, e foi guarda em Nuremberga durante o Julgamento (era do 26º Regimento da 1ª Divisão de Infantaria, cuja Companhia D fora encarregada), afirmou que estavam todos enganados: "Fui eu que lhe dei". Stivers tinha 78 anos, e disse que manteve este segredo durante quase 60 anos, com medo de poder vir a ser alvo de um processo por parte do Exército dos Estados Unidos e que tinha decidido contar a história a pedido da filha. Na época só tinha 19 anos, e por querer impressionar uma moça que encontrou na rua, aceitou levar "um remédio" a Goering, que supostamente estaria doente.[12]

Filmografia

Outros julgamentos

Hideki Tōjō (centro da imagem), ex Primeiro-Ministro do Japão, condenado à morte pelo Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente e executado em 1948.
Alemanha
Japão
Ver também : Shiro Ishii e Unidade 731

Os crimes de guerra do Império do Japão, foram julgados pelo Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente (Tóquio, 1946-1948).[15]

Polônia
União Soviética

Ver também

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Referências

Bibliografia

Ligações externas