Politicamente correto

expressões, políticas ou ações que evitam ofender, excluir e/ou marginalizar grupos de pessoas que são vistos como desfavorecidos ou discriminados
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O termo politicamente correto é usado para descrever expressões, políticas ou ações que evitam ofender, excluir e/ou marginalizar grupos de pessoas que são vistos como desfavorecidos ou discriminados, especialmente grupos definidos por gênero, orientação sexual ou cor.[1] No discurso político e na mídia, o termo geralmente é usado como pejorativo, implicando que essas políticas são excessivas.[2][3][4][5][6][7]

Esse termo tinha apenas uso disperso antes da década de 1990, geralmente como uma autodescrição irônica, mas entrou em uso mais comum nos Estados Unidos depois que foi objeto de uma série de artigos no The New York Times.[8][9][10][11][12][13] O termo foi amplamente usado no debate sobre o livro de 1987 de Allan Bloom, The Closing of the American Mind,[7][4][14][15] e ganhou mais uso em resposta ao livro de Roger Kimball, Tenured Radicals (1990),[4][16][7] e ao livro de 1991 do autor conservador Dinesh D'Souza, Illiberal Education, no qual ele condenou o que viu como esforços liberais para avançar a autovitimização, ações afirmativas e mudanças no conteúdo dos currículos escolares e universitários através da linguagem.[7][17]

Comentaristas de esquerda disseram que conservadores empurraram o termo para desviar a atenção de questões mais substantivas de discriminação e como parte de uma ampla guerra cultural contra o liberalismo nos Estados Unidos. Eles também argumentam que os conservadores têm suas próprias formas de correção política, que geralmente são ignoradas por comentaristas conservadores.[18]

História

O termo "politicamente correto" foi usado com pouca frequência até a última parte do século XX. Este uso anterior não se relacionava à desaprovação social geralmente implicada em seu uso mais recente. Em 1793, o termo "politicamente correto" apareceu na Suprema Corte dos Estados Unidos durante o julgamento de um processo político.[19] O termo também teve uso em outros países de língua inglesa nos anos 1800.[20]

Início do século XX

No início do século XX, a frase "politicamente correta" foi associada à aplicação dogmática da doutrina Stalinista, debatida entre membros do partido Comunista e Socialistas americanos. Este uso se referia à linha do Partido Comunista, que forneceu posições "corretas" em muitos assuntos políticos. De acordo com o educador americano Herbert Kohl, escrevendo sobre debates em Nova York no final da década de 1940 e início da década de 1950:

O termo "politicamente correto" foi usado com desprezo, para se referir a alguém cuja lealdade à linha do PC [Partido Comunista] superou a compaixão e levou a uma política ruim. Foi usado pelos socialistas contra os comunistas e deveria separar os socialistas que acreditavam em ideias morais igualitárias de comunistas dogmáticos que advogassem e defendessem posições partidárias independentemente de sua substância moral.
— "Uncommon Differences", The Lion and the Unicorn Journal[3]

Politicamente incorreto

O discurso politicamente incorreto é, em oposição ao chamado politicamente correto, uma forma de expressão que banaliza preconceitos sociais, sem receios de nenhuma ordem. Além de reverberar preconceitos cotidianos,[21] alguns estudiosos afirmam que o politicamente incorreto foi apropriado por movimentos de direita e é atualmente utilizado como ferramenta de oposição às pautas da esquerda e das minorias.[22]

Características

Segundo os defensores do politicamente incorreto, há uma estratégia do politicamente correto que visa impedir o efetivo exercício da liberdade de expressão.[23] Segundo eles, suas opiniões são atualmente minoritárias e não geram efeitos nocivos à sociedade. Por outro lado, os críticos dessa prática afirmam que o politicamente incorreto está relacionado ao autoritarismo e que tais discursos são oriundos de preconceitos enraizados na sociedade contra minorias. Além disso, indicam que não há real patrulhamento dessas opiniões, que são amplamente reproduzidas nas sociedades contemporâneas.[24] Ainda segundo seus opositores, o politicamente incorreto, assim como o discurso de ódio, não deveria ser entendido como compatível com os direitos fundamentais do homem.[25] O discurso politicamente incorreto é tido, também, como uma forma de vigiar e controlar a liberdade de expressão de grupos não conservadores.[26]

A expressão também foi utilizada, no Brasil e no resto do mundo, por grupos conservadores para se referir a um patrulhamento ideológico por parte de marxistas. Nos Estados Unidos, a expressão foi empregada na publicação do Guia Politicamente Incorreto, de matriz conservadora.[27] No Brasil, duas publicações de título semelhante foram divulgados recentemente: o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, e o Guia Politicamente Incorreto da História da América Latina. Em um desses livros alega-se que Evita Perón detinha bens roubados pelos nazistas.[28] Segundo resenhas do O Estado de S. Paulo e da Folha de S.Paulo, os guias buscam denegrir a imagem de figuras liberais e da esquerda, pois acreditam que toda a história anterior é uma invenção de marxistas politicamente comprometidos, e reproduzem dados que não são precisos em sua tentativa de deslegitimar a historiografia acadêmica.[29][30]

"As origens do politicamente correto", de Bill Lind, é um texto amplamente divulgado por ramos de extrema-direita, como o Stormfront, um fórum para "nacionalistas brancos", considerado neonazista.[31] Bill Lind se identifica com a extrema-direita norte-americana, o Tea Party.[32] Suas publicações, longe de serem consensuais, são polêmicas,[33][34] e Lind é considerado um dos inventores da noção de marxismo cultural. Lind alega que "o verdadeiro dano para as relações étnicas não veio da escravidão, mas da reconstrução, que não teria ocorrido se o Sul tivesse vencido a Guerra de Secessão".[35] Ele também nega o holocausto.

O escritor e jornalista Arturo Pérez-Reverte, contrário ao politicamente correto, afirma que este tem origem no puritanismo anglo-saxão.[36]

Críticas

John Cleese, comediante britânico, comenta: "Começou como uma ideia bastante decente e em seguida transforma-se numa coisa completamente errada e é levada até ao absurdo".[37] Também o músico Nick Cave critica o exagero do politicamente correto: "Em tempos uma tentativa meritória de reimaginar a nossa sociedade de forma mais justa, agora apresenta todos os piores aspetos que a religião tem para oferecer, e nenhuma da sua beleza — [cheia de] certezas morais e de uma arrogância acima de qualquer capacidade de redenção."[38]

Na década de 2000, o jornalista Eric Zemmour desenvolveu a ideia de que a recusa de usar uma linguagem politicamente correcta foi criminalizada e condenou a "lógica inquisitorial" das associações antirracistas.[39]

Para o filósofo Dominique Lecourt, o politicamente correto é "uma retórica da dissuasão", "um meio de intimidação que sugere que haveria um pensamento único, um caminho certo em relação ao qual todos devemos ser julgados." Tornou-se através das chamadas leis antirracistas ou memoriais, "um instrumento de conquista do poder" usado por "minorias activas bem organizadas que espalham seu conformismo puro", "muitas vezes de tom religioso."[40]

O caso de Rotherham, Reino Unido

No Reino Unido, no que ficou conhecido como o escândalo de exploração sexual infantil de Rotherham, os funcionários tiveram medo de atacar uma rede pedófila paquistanesa por receio de serem acusados ​​de racismo ou preconceito. Os denunciantes, como Jayne Senior e Sarah Champion, foram perseguidos e o problema ignorado. Relatórios subsequentes estimam que 1400 crianças foram vítimas desta rede, de 1997 até 2013.[41][42][43][44] No tratamento jornalístico posterior de acontecimentos semelhantes, deixou de ser usado o termo "gangues de muçulmanos" ou "paquistaneses", substituído por "gangues de asiáticos", um termo bastante lato e pouco preciso.[45][46] Uma associação Sikh insistiu que os média e os políticos deixassem de descrever as gangues da rede de Rotherham como "asiáticos", dado o termo ser demasiado vago e deslustrar outras comunidades.[47]

O caso de Colónia, Alemanha

Cerca das 23 horas do dia 31 de Dezembro de 2015, cerca de mil e quinhentos homens, de aparência "norte-africana e árabe", com idades entre os 15 e os 35 anos, descritos como fortemente alcoolizados e agressivos, aglomeraram-se no hall da Estação Central de Colónia, e começaram os distúrbios. De repente, de acordo com os relatos das vítimas, grupos desses homens rodearam as mulheres e meninas, agarrando-as pelos seios, e entre as pernas, puxando os fechos de correr e enfiando dedos nos genitais. Ao mesmo tempo, eram roubados telemóveis e outros objectos. Não eram visíveis forças policiais.[48] Mais de mil e duzentas mulheres foram vítimas desses crimes sexuais não só em Colónia , mas também em Hamburgo, Estugarda e outras cidades alemãs. De acordo com estimativas policiais, mais de dois mil homens estavam envolvidos; no entanto, de acordo com o relatório, apenas 120 suspeitos foram identificados.[49]

Num comunicado à imprensa em 1 de Janeiro de 2016, contudo, a polícia de Colónia anunciou que a noite havia tido "uma atmosfera exuberante, e largamente pacífica" ("weitgehend friedlich" ) e as forças policiais estavam "bem posicionadas e presentes".[50] O silêncio da polícia e dos media, o laxismo da polícia,[51] as declarações de Henriette Reker, presidente da câmara de Colónia incriminando as mulheres alemãs[52] e o atraso na reportagem dos acontecimentos pelos media, especialmente pelas emissoras públicas (ARD, ZDF e outras), foram fortemente criticados nos dias seguintes.[53][54] Henriette Reker declarou publicamente que era "inadequado" ligar as agressões sexuais em massa com os refugiados.[55]

Durante vários dias, as agressões não foram mencionadas nos principais meios de comunicação alemães. A mídia e as autoridades policiais foram acusadas de ignorar ou tentar encobrir os eventos, para que não levassem a críticas à política do governo alemão na crise migratória. O canal de televisão ZDF , fortemente criticado pela demora de informação, desculpou-se a 5 de Janeiro, admitindo um “erro manifesto de avaliação”.

Em Abril de 2016, as estatísticas das autoridades indicavam que dos 153 suspeitos identificados em Colónia que foram condenados por crimes sexuais e outros durante a passagem de ano de 2015-2016, dois terços eram originários de Marrocos ou da Argélia, 44% eram requerentes de asilo, outros 12% provavelmente estavam ilegalmente na Alemanha, e 3% eram refugiados menores de idade desacompanhados.[56][57]

Ver também

Referências

Bibliografia

  • Schultz, Debra L. (1993) - To Reclaim a Legacy of Diversity: Analyzing the "Political Correctness" Debates in Higher Education - National Council for Research on Women, New York.

Ligações externas