Salto em comprimento

Salto em comprimento (português europeu) ou salto em distância (português brasileiro) é uma modalidade olímpica de atletismo onde os atletas combinam velocidade, força e agilidade para saltarem o mais longe possível a partir de um ponto pré-determinado. Existe desde os Jogos Olímpicos da Antiguidade e, na Era Moderna, é disputado desde a primeira edição em Atenas 1896, para homens, e desde Londres 1948, para mulheres.

Salto em distância
Salto em comprimento
Olímpico desde1896 H / 1948 M
DesportoAtletismo
Praticado porAmbos os sexos
Campeões Olímpicos
Tóquio 2020
MasculinoMiltiadis Tentoglou
 Grécia
FemininoMalaika Mihambo
 Alemanha
Campeões Mundiais
Budapeste 2023
MasculinoMiltiadis Tentoglou
 Grécia
FemininoIvana Vuleta
 Sérvia
Recorde Mundial
MasculinoMike Powell – 8,95 m (1991, Tóquio)
FemininoGalina Chistyakova – 7,52 m (1988, Leningrado)

O primeiro campeão olímpico da prova foi o norte-americano Ellery Clark e a primeira campeã a húngara Olga Gyarmati. Os atuais campeões olímpicos são Miltiadis Tentoglou da Grécia e Malaika Mihambo da Alemanha. O recorde mundial pertence desde 1991 ao norte-americano Mike Powell — 8,95 m — e entre as mulheres é da soviética Galina Chistyakova — 7,52 m — desde 1988.

O mundo lusófono tem uma história de sucesso nesta modalidade do atletismo; além de brasileiros e portugueses já terem vencido por diversas vezes o salto em distância em eventos continentais, como os Jogos Pan-americanos e o Campeonato Europeu de Atletismo em Pista Coberta, a brasileira Maurren Maggi e a portuguesa Naide Gomes foram campeãs olímpica e mundial indoor, respectivamente, em Pequim 2008, Budapeste 2004 e Valência 2008.[1][2]

História

O salto em distância é o único evento de salto conhecido do pentatlo disputado na Grécia Antiga. Todas as modalidades do atletismo que existiam na época eram inicialmente supostos a servirem de treinamento para as guerras e ele surgiu possivelmente como um treino para o cruzamento de obstáculos como riachos e ravinas pelos soldados.[3] Depois de investigações de marcas sobreviventes do evento na Antiguidade, acredita-se que, ao contrário dos atuais saltos, aos atletas era permitido apenas uma curta corrida antes de saltarem e eles tinham que carregar um pequeno peso em cada mão, chamados halteres, pesando entre 1 e 4,5 kg. Estes pesos eram balançados para frente no momento de saltar e empurrados para trás no meio do salto como uma maneira de aumentar a impulsão, mas os atletas precisam mantê-los nas mãos durante todo o salto. Balançando-os para cima e para baixo ao fim do salto, o centro de gravidade do atleta era mudado e permitia que as pernas fossem mais esticadas, aumentando a distância saltada.[3]

O salto em si era feito de uma linha chamada bater ("aquela que é pisoteada"), provavelmente uma simples placa colocada no chão do estádio e removida após a prova,[4] e os saltadores aterrissavam numa área chamada skamma, um "espaço escavado" no chão.[4] Não havia ainda uma caixa de areia nesta área, o que é uma invenção moderna; a "skamma" era simplesmente uma pequena área escavada para essa ocasião e nada dela sobreviveu ao tempo.[3]

Este salto era considerado uma das mais difíceis provas da Antiguidade, pela técnica exigida; durante os saltos músicas eram executadas e o sofista ateniense Philostratus diz que às vezes gaitas eram tocadas para dar o ritmo necessário aos complexos movimentos feitos pelos atletas com os pesos nas mãos durante o salto. Philostratus escreveu: "As regras consideravam o salto a mais difícil prova do torneio e elas permitiam ao saltador tirar vantagem em seu ritmo pela marcação feita com flautas e em seu peso pelo uso dos halteres."[5]

O mais notável atleta da Antiguidade neste evento dos antigos Jogos Olímpicos foi Chionis de Esparta, que nas Olimpíadas de 656 a.C. realizou um salto de 7,05 metros.[6]

Entre os Jogos Olímpicos de Paris 1900 e Estocolmo 1912, o salto em comprimento também tinha a modalidade "sem corrida"; o atleta saltava de uma marca completamente parado, usando apenas a impulsão do corpo para realizar o salto. O norte-americano Ray Ewry foi campeão olímpico desta modalidade não mais existente por três vezes consecutivas.[7]

Regras

O salto deve ser dado após uma corrida numa raia marcada no chão, com o atleta saltando o mais longe possível dentro de uma caixa de areia ao fim dela. O salto é invalidado caso o atleta pise no final da tábua de impulsão, que geralmente é marcado por uma listra vermelha, colocada exatamente no início da caixa. Atualmente, o bordo da tábua é coberto por plasticina para facilitar a decisão dos juízes em casos dúbios. A distância é então medida do limite da tábua até a primeira marca na areia feita pelo corpo do atleta. A maioria dos eventos disputados é composto de seis saltos, sendo que alguns deles, que tem marcas mais baixas, constam de apenas três saltos. Se os competidores empatam no salto mais longo, é declarado vencedor aquele com a segunda marca mais longa.[7]

Em eventos esportivos de grande magnitude, como os Jogos Olímpicos ou o Campeonato Mundial de Atletismo por exemplo, os doze melhores atletas dentre todos os que participam da primeira rodada de saltos, são classificados para a final; nela, todos dão três saltos mas apenas os oito primeiros colocados participam da rodada final de mais três saltos. Todos os seis saltos destes atletas finais valem para aferir o vencedor.[8]

Como em diversas outras modalidades do atletismo, saltos dados com vento a favor acima de 2m/s não tem validade para a aferição de recordes.[8]

Delamere's Flip - A técnica inovadora, e proibida

Em 1974, o atleta neozelandês John Delamere realizou o salto em distância com uma técnica inovadora: após saltar, ele continuou o movimento do corpo dando uma cambalhota, num movimento similar ao salto mortal para frente. Esse movimento é mais eficiente mecanicamente.[9] O movimento foi considerado ilegal, e meses mais tarde proibido pela Federação Internacional de Atletismo por ser "perigoso demais para a saúde dos atletas". Esta restrição permanece em vigor até hoje.[10]

Se essa técnica não tivesse sido proibida, este teria sido o primeiro avanço significativo no salto em distância em mais de 50 anos[10], tendo o mesmo impacto que a inovadora técnica de Fosbury trouxe ao salto em altura.[11][12]

No livro "Track and Field Dynamics" (autoria de Tom Ecker), de 1971, Delamere aprendeu que o movimento natural do corpo em um salto é seguir o movimento para frente, então se você virar uma cambalhota para frente, o salto fica mais eficiente.[12] Quando os saltadores em distância saltam, eles começam a girar naturalmente para a frente em torno de sua barriga, que se torna como um ponto de apoio. É por isso que os saltadores devem inclinar ligeiramente a parte superior do corpo para trás para permanecerem em pé quando saltam.[9]

Tom Ecker - professor de biomecânica e autor do livro "Track and Field Dynamics", onde foi um dos primeiros a propor a técnica na década de 1970 - em uma entrevista à Sports Illustrated em 1974, contestou a decisão da Federação Internacional de Atletismo de proibir esse tipo de salto. Ele disse: “Não creio que haja perigo algum. O pior que um cara poderia fazer seria cair de costas”. John Delamere seguiu a mesma linha. Para ele “se é perigoso e você precisa proibi-lo, então é melhor proibir completamente a ginástica”.[12]

Recordes

De acordo com a World Athletics.[13][14]

Homens
Recorde
Distância
Atleta
País
Data
Local
8,95 m
Mike Powell
30 agosto 1991
Tóquio
8,90 m
Bob Beamon
18 outubro 1968
Cidade do México 1968
Mulheres
Recorde
Distância
Atleta
País
Data
Local
7,52 m
Galina Chistyakova
11 junho 1988
Leningrado
7,40 m
Jackie Joyner-Kersee
29 setembro 1988
Seul 1988

Melhores marcas mundiais

As marcas abaixo incluem outdoor e indoor (i) de acordo com a World Athletics.[15][16]

Homens

PosiçãoDistânciaAtletaPaísDataLocal
1
8,95 m
Mike Powell
30 agosto 1991
Tóquio
2
8,90 m
Bob Beamon
18 outubro 1968
Cidade do México
3
8,87 m
Carl Lewis
30 agosto 1991
Tóquio
4
8,86 m
Robert Emmiyan
22 maio 1987
Tsakhkadzor
5
8,79 m
Carl Lewis
19 junho 1983
Indianápolis
8,79 m (i)
Carl Lewis
27 janeiro 1984
Nova York
7
8,76 m
Carl Lewis
24 julho 1982
Indianápolis
8,76 m
Carl Lewis
18 julho 1988
Indianápolis
9
8,75 m
Carl Lewis
16 agosto 1987
Indianápolis
10
8,74 m
Larry Myricks
18 julho 1988
Indianápolis
8,74 m
Erick Walder
2 abril 1994
El Paso
8,74 m
Dwight Phillips
7 junho 2008
Eugene

Mulheres

PosiçãoDistânciaAtletaPaísDataLocal
1
7,52 m
Galina Chistyakova
11 junho 1988
Leningrado
2
7,49 m
Jackie Joyner-Kersee
22 maio 1994
Nova York
7,49 m
Jackie Joyner-Kersee
31 julho 1994
Sestriere
4
7,48 m
Heike Drechsler
9 julho 1988
Neubrandenburg
7,48 m
Heike Drechsler
8 julho 1992
Lausanne
6
7,45 m
Heike Drechsler
21 junho 1986
Tallin
7,45 m
Heike Drechsler
3 julho 1986
Dresden
7,45 m
Jackie Joyner-Kersee
13 agosto 1987
Indianápolis
7,45 m
Galina Chistyakova
11 junho 1988
Leningrado
7,45 m
Galina Chistyakova
12 agosto 1988
Budapeste

Melhores marcas olímpicas

As marcas abaixo são de acordo com o Comitê Olímpico Internacional – COI.[17]

Homens

PosiçãoDistânciaAtletaPaísMedalhaLocal
1
8,90 m
Bob Beamon
ouro
Cidade do México 1968
2
8,72 m
Carl Lewis
ouro
Seul 1988
3
8,68 m
Carl Lewis
Barcelona 1992
4
8,67 m
Carl Lewis
ouro
Barcelona 1992
5
8,64 m
Mike Powell
prata
Barcelona 1992
6
8,59 m
Dwight Phillips
ouro
Atenas 2004
7
8,55 m
ouro
Sydney 2000
8
8,54 m
Lutz Dombrowski
ouro
Moscou 1980
8,54 m
Carl Lewis
ouro
Los Angeles 1984
10
8,50 m
Carl Lewis
ouro
Atlanta 1996

* A marca de 8,68 m de Carl Lewis foi conseguida nas eliminatórias e é 1 cm maior que a marca que lhe deu o ouro na final de Barcelona 1992.

Mulheres

PosiçãoDistânciaAtletaPaísMedalhaLocal
1
7,40 m
Jackie Joyner-Kersee
ouro
Seul 1988
2
7,27 m
Jackie Joyner-Kersee
Seul 1988
3
7,22 m
Heike Drechsler
prata
Seul 1988
4
7,17 m
Tianna Bortoletta
ouro
Rio 2016
5
7,15 m
Brittney Reese
prata
Rio 2016
6
7,14 m
Heike Drechsler
ouro
Barcelona 1992
7
7,12 m
Inessa Kravets
prata
Barcelona 1992
7,12 m
Chioma Ajunwa
ouro
Atlanta 1996
7,12 m
Brittney Reese
ouro
Londres 2012
10
7,11 m
Galina Chistyakova
bronze
Seul 1988

* A ucraniana Inessa Kravets competiu em Barcelona 1992 pela Equipe Unificada da Comunidade dos Estados Independentes (CEI). O salto de 7,27 m de Jackie Joyner-Kersee foi dado nas eliminatórias de Seul 1988.

Marcas da lusofonia

PaísMasculinoAtletaAnoLocalFemininoAtletaAnoLocal
8,40 m
Douglas de Sousa
1995
São Paulo
7,26 m
Maurren Maggi
1999
Bogotá
[18]
8,36 m
Carlos Nuno Calado
1997
Lisboa
7,12 m
Naide Gomes
2008
Fontvieille
[19]
7,57 m
Nélson Évora 1
2002
Lisboa
5,50 m
Claudina Borges
2010
Lisboa
[20]
7,52 m
Afonso Ferraz
1991
Al-Qahira
5,84 m
Ungudi Quiawacana
2007
Lisboa
[21]
7,51 m
Carvalho Machuza
2006
Windhoek
6,40 m
Elisa Cossa
2000
Pretória
[22][23]
7,02 m
Juary Tavares
Alberto de Oliveira
2015
2019
Lisboa
Onil
6,36 m
Enezenaide Gomes
2001
Rio Maior
[20]
6,96 m
Edivaldo Monteiro
1996
Lisboa
6,00 m
Fatumata Baldé
2018
Lisboa
[20]

1 Na época, Nélson Évora, nascido na Costa do Marfim, representava Cabo Verde, terra natal de seus pais, nas competições de atletismo. Depois de naturalizado português, passaria a competir por Portugal, por onde foi campeão olímpico do salto triplo. Até hoje detém os recordes nacionais de Cabo Verde nas duas modalidades.

Referências

Ligações externas